e Matemática; Ciências Sociais;
Línguas, Artes e Literatura, conciliando
a formação acadêmica com
a valorização de saberes e cultura
tradicionais, sem descurar da realidade de
cada povo.
“A conclusão deste curso representa
um diferencial no respeito aos nossos povos,
é uma nova cara que o Brasil apresenta
para aqueles que ainda desconhecem o conceito
de socialização. Estamos dessa
forma mostrando que podemos conviver com culturas
diversas”, comentou o formando Roni Walter
Azoinayce, da etnia paresí e administrador
regional da Funai em Tangará da Serra.
Reconciliação
Além de parentes e amigos dos novos
professores, também participaram do
evento o presidente da Funai, Mércio
Pereira Gomes; o governador de Mato Grosso,
Blairo Maggi; o ex-governador do Estado, Dante
de Oliveira; o deputado federal Carlos Abicalil
(PT-MT); a secretária de Educação
de Mato Grosso, Ana Carla Muniz; a secretária
de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso,
Ilma Grisost; o reitor da Unemat, Taisir Mahmudo
Karim, a coordenadora geral de Educação
da Funai, Maria Helena Fialho, a coordenadora
de Apoio Pedagógico da Funai, Neide
Martins Siqueira.
Durante a cerimônia, os formandos homenagearam
o coordenador do Terceiro Grau Indígena,
professor Elias Januário, em um ritual
de batismo Bororo -um dos momentos mais emocionantes
do evento. “O professor Elias é um
homem de sorte por receber uma homenagem tão
linda”, afirmou Mércio Gomes, em seu
discurso.
“É a coroação de um
trabalho excelente. Com esse evento estamos
marcando uma reconciliação da
sociedade indígena e a sociedade brasileira
pela educação. Esta formatura
mostra ao Brasil que os índios não
são apenas o nosso passado. São
também o nosso presente e o nosso futuro”,
disse o presidente da Funai, para quem a conclusão
do curso representa um marco na política
indigenista do país.
O reitor da Unemat também ressaltou
o caráter inovador do Terceiro Grau
Indígena. “Vocês ensinaram a
Academia a perceber outros olhares, e mostrou
que é possível a uma universidade
pública desenvolver políticas
afirmativas que servem de referência
para o Brasil como a Universidade para índios”,
afirmou Taisir Karim.
Em discursos em suas línguas maternas,
os líderes Abrão Xavante e João
Paresí observaram que a formação
de professores indígenas é de
importância fundamental para a preservação
da cultura ancestral e para a reivindicação
de direitos.
Também presente à cerimônia
de formatura, a coordenadora geral da Organização
dos Professores Indígenas de Roraima
(Opir), a Wapichana Pierlângela Nascimento
da Cunha, defende um sistema educacional criado
pelos e para os índios.
Pedagoga, Pierlângela ressalta a função
social do professor indígena. “Nossa
preocupação é formar
primeiro professores, para termos uma melhoria
na qualidade do ensino de base e, assim, capacitarmos
nossos jovens para o vestibular de outras
áreas. A importância não
é formar intelectuais indígenas
ou deixar que a formação superior
se sobreponha à nossa concepção
de vida, mas formar pessoas com capacidade
e comprometimento de luta pelos nossos direitos.”
Resultado da parceira entre Funai e Unemat,
o Terceiro Grau Indígena foi iniciado
em 2001, ao estabelecer um programa de ensino
superior em atendimento à reivindicação
dos próprios povos indígenas
de Mato Grosso. O método de ensino
busca conciliar as diferentes realidades de
cada povo, ao contemplar o aprendizado de
modelos pedagógicos, mantendo os ensinamentos
tradicionais repassados de geração
em geração. O respeito às
tradições e a cultura no repasse
dos conhecimentos transmitidos em sala de
aula foi destacado pelos novos licenciados
como um dos avanços e conquistas na
autonomia dos povos indígenas.
Hoje, o Terceiro Grau Indígena terá
sua terceira turma de professores, que ingressarão
nos cursos no próximo vestibular da
Unemat. A formação superior
indígena em Mato Grosso abriu precedentes
e serve de referência para projetos
semelhantes em outros Estados e países
latino-americanos.
O ingresso na universidade é uma realidade
ainda em processo de discussão para
essa parcela população que,
só a partir de 1988, com a promulgação
da Constituição Federal, teve
uma política educacional voltada para
suas necessidades. Isso porque o artigo
210 do documento garante às comunidades
indígenas a possibilidade de utilizar
nas escolas - além do português
- suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem. Isso fez
com que crescesse o número de escolas
indígenas e, conseqüentemente,
aumentasse seu nível de alfabetização.
Com a crescente demanda escolar indígena,
alguns projetos começaram a ser pensados
para garantir o acesso dos alunos ao ensino
superior. A Funai, o Ministério da
Educação (MEC) e dez universidades
públicas firmaram alguns convênios
-como é o caso do Terceiro Grau Indígena-,
nos quais as universidades são incentivadas
a desenvolver projetos de cursos de licenciatura
para a formação de professores
indígenas, que integrem ensino, pesquisa
e extensão, além de valorizarem
a língua materna, a gestão e
a sustentabilidade das terras e da cultura
desses povos.
Entre essas universidades, estão,
além da Universidade do Estado de Mato
Grosso, a Universidade Federal de Roraima,
a Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul e a Universidade Federal de Tocantins.
Ao mesmo tempo, outras instituições
buscam implantar vagas extras para indígenas
em seus cursos tradicionais. Esse foi o caso
da UnB, que abriu, este ano, 14 vagas para
as áreas de saúde.