08-06-2006 – Holanda
- O Greenpeace comemora a condenação
do famoso barão da madeira holandês
Guus van Kouwenhoven, que foi sentenciado
a oito anos de prisão, ontem, por desrespeitar
um embargo das Nações Unidas
à Libéria.
Kouwenhoven dirigiu as duas
maiores madeireiras da Libéria – a
Companhia de Madeira Oriental (OTC, em inglês)
e a Corporação Real de Madeira
(RTC) - durante o antigo regime do líder
militar Charles Taylor e negociou a denominada
“madeira de conflito” com companhias européias
e chinesas com o objetivo de fornecer armamentos
para a guerra de Taylor contra a população
da Libéria. Uma guerra que custou mais
de 250 mil vidas. No ano passado, Kouwenhoven,
que já foi considerado responsável
pelos aspectos logísticos de muitas
negociações de armamentos, foi
detido pela polícia holandesa e teve
suas atividades empresariais na África
investigadas.
Entre 2000 e 2003, o Greenpeace
desvendou e denunciou alguns dos principais
compradores de madeira das duas companhias
de Kouwenhoven. Dentre elas incluíam-se
o grupo suíço-alemão
Danzer; a multinacional dinamarquesa DLH Nordisk
(através da Indubois, na França);
a madeireira e importadora holandesa Wiima;
a produtora de compensados e pisos de madeira
Shelman, baseada na Grécia; o grupo
madeireiro e processador alemão Feldmeyer;
e o produtor italiano de trilhos de trem Tecnoalp.
“Os grandes comerciantes
de madeira da Europa que simplesmente se recusaram
a, naquela época, parar de negociar
com as companhias de Kouwenhoven deveriam,
agora, compactuar da sentença dele”,
afirmou o coordenador da campanha de Florestas
do Greenpeace na África, Stephan Van
Praet, em The Hague. “Se estas pessoas tivessem
tido um pingo de consciência, a morte
de milhares de pessoas inocentes e a destruição
da floresta tropical da Libéria teria
sido evitada”, complementa ele.
Somente depois de 7 de julho
de 2003, quando o Conselho de Segurança
das Nações Unidas impôs
sanções à madeira da
Libéria, o comércio de madeira
entre Kouwenhoven e o mercado europeu foi
encerrado. Os governos da França e
da China tinham, anteriormente, impedido a
inclusão de sanções madeireiras,
permitindo que Kouwenhoven prolongasse suas
atividades por mais três anos.
Contudo, em 2004, o Greenpeace
descobriu que o grupo suíço-alemão
Danzer continuava a financiar as atividades
empresariais de Kouwenhoven na África.
E apesar de estar impedido de viajar pelo
Conselho de Segurança da ONU, ele fugiu
da Libéria e estava diretamente envolvido
com as operações logísticas
e financeiras da Afribois, uma companhia madeireira
baseada em Congo-Brazzaville.
“O caso Kouwenhoven ilustra
que o mercado internacional de madeira continua
incapaz de se auto-regular. A ausência
de uma legislação internacional
sobre a importação de madeira
ilegal ou madeira de conflito contribuiu para
este horroroso exemplo de exploração
destrutiva de um recurso natural, alimentando
a guerra civil e seus crimes relacionados
contra a humanidade. Os governos precisam
impedir o comércio de madeira de conflito
ou ilegal imediatamente”, avalia Van Praet.
Atualmente, madeira originária
de países florestais propensos a ter
conflitos, como Burma, Costa do Marfim e a
República Democrática do Congo,
continua a ser livremente comercializada no
mercado internacional. O Greenpeace reivindica
uma legislação que impeça
a importação de madeira de conflito
e ilegal pelo mercado europeu e que garanta
que as companhias européias e, por
fim, os consumidores europeus, não
estimulem crimes contra a humanidade e o meio
ambiente.