07/06/2006
- Um surfista australiano que há 14
anos trocou as águas da Oceania pelas
ondas cariocas é atualmente um dos
grandes defensores do Desenvolvimento Sustentável
no Brasil. Do estereótipo vinculado
aos praticantes do esporte, Glenn Suba não
tem nada.
Co-idealizador da organização
não-governamental (ONG) e-brigade,
o australiano luta para disseminar a cultura
do Desenvolvimento Sustentável e, para
tanto, tem se empenhado no levantamento da
situação ambiental do país
e na busca de soluções para
reverter o quadro de devastação.
“Pesquisei a situação
dos destinos turísticos onde o meio
ambiente é a principal atração
e o que vi foi caótico. O índice
de reciclagem nessas regiões é
muito baixo, por volta de 5%, e cerca de 90%
destes locais possui lixões irregulares,
a céu aberto”, afirma Suba.
Um dos objetivos do surfista
é mostrar como alternativas sustentáveis
podem ajudar no Turismo. Um dos pontos é
que a coleta seletiva gera empregos; outro,
é que o reaproveitamento de materiais
ajuda a preservar os bens naturais, chamarizes
de várias cidades brasileiras.
“O Brasil é uma das
opções mais seguras para os
turistas pela questão de que não
existem desastres naturais aqui, como terremotos
e furacões. Sem contar que o perfil
do turista tem mudado muito. Eles estão
em busca de qualidade e um projeto de Desenvolvimento
Sustentável agrega valor”, acrescenta
Suba.
Para atingir os jovens e
tentar mobilizá-los pelo Desenvolvimento
Sustentável, uma parceria foi criada
com Oskar Metsavaht, de uma marca de surfwear,
que abriu espaço em suas lojas para
uma coleção de conscientização
assinada por profissionais da equipe de criação
da empresa e que leva o símbolo da
e-brigade.
“O jovem de hoje é
rebelde, com uma futilidade generalizada.
Ele olha o futuro com preocupação
por não se sentir seguro e por isso
quer viver o agora, existe o imediatismo.
Eu queria que o jovem carregasse a bandeira
do Desenvolvimento Sustentável, que
lutasse por causas como aconteciam antigamente.
Ele precisa se sentir dono do futuro”, desabafa
o surfista.
NAS ONDAS - Quando viajou
para a Indonésia, Suba conheceu alguns
brasileiros no local e começou a se
interessar pelo Brasil. Decidiu vir conferir
de perto as belezas do país e se apaixonou
pelo que chama de “ar de futuro e de oportunidade”.
Passou a surfar pelas praias
do Rio de Janeiro e foi a indignação
com a qualidade das águas que o aproximou
da luta pela preservação ecológica.
Nesta época se reuniu com outros amigos
do esporte para iniciar os trabalhos da ONG
Surfrider Foundation. E percebeu que no meio
ambiente tudo é interligado que o australiano
resolveu trocar a bandeira de preservação
das águas pela de preservação
do ecossistema, com foco na educação
ambiental, a qual considera a solução
dos problemas.
“O planeta vai bater na
parede porque há décadas somos
vítimas da devastação.
Ou batemos a 100 quilômetros por hora
sem air bag, ou aplicamos, aos poucos, sistemas
de segurança. Por isso não podemos
fazer só planejamento de longo prazo,
precisamos também de soluções
imediatas”, explica o surfista, que revela
que foi nos bares que aprendeu política
e a língua portuguesa. E para quem
pensa que o Brasil está atrasado em
relação aos países desenvolvidos,
Suba explica que estamos enganados.
Segundo o australiano, no que se refere à
preservação ecológica,
o país está num ritmo mais acelerado
que potências como Japão e Alemanha,
que têm quase todos os recursos naturais
esgotados. “A Austrália foi devastada
pela economia e perdeu sua biodiversidade.
Aqui ainda resta tempo para desenvolvermos
uma situação econômica
baseada na preservação ecológica”,
justifica.
Porém, muitos desses
países tomaram providências drásticas
e eficientes, como a eletricidade solar e
a coleta seletiva exigida por lei. “É
preciso que essa consciência faça
parte do dia-a-dia das pessoas. O modelo de
economia ocidental tem atrapalhado. Já
imaginou se na China todos decidem ter carro?”,
questiona Suba.
Para quem quer seguir algumas
das dicas divulgadas pelo australiano, vale
lembrar que a preferência por locais
de hospedagem que adotam práticas de
gestão ambiental é um bem incentivo
na tentativa de modificar a atuação
empresarial, que podem selecionar distribuidores
que vendam produtos com embalagens recicláveis.
Os trabalhos da e-brigade foram apresentados
no estande de Tecnologias Ambientais instalado
no 2° Salão do Turismo – Roteiros
do Brasil.