Belém (05/06/2006)
- Os moradores da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável (RDS) Cujubim, localizada
no rio Jutaí, afluente do rio Solimões
no estado do Amazonas, fizeram uma denúncia
de exploração madeireira ilegal
na unidade de conservação no
dia 24 de maio e que resultou na apreensão
de 98 toras e 120 pranchas beneficiadas de
cedro, no rio Juruazinho, dentro da RDS.
A operação
do Ibama e do Instituto de Proteção
Ambiental do Amazonas (Ipaam), que autuou
em flagrante os madeireiros que cometiam crimes
ambientais na reserva, só foi possível
graças a um sistema de radiocomunicação
instalado na RDS Cujubim, situada em área
remota e de difícil comunicação.
No dia 23 de maio os moradores da RDS Cujubim
comunicaram à equipe de campo da reserva
a existência de nova embarcação
extraindo madeira ilegalmente. A denúncia
foi encaminhada ao Ibama de Jutaí e
à SDS.
Segundo o secretário
executivo adjunto de extrativismo, Ademar
Cruz, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável (SDS)
do governo do Amazonas, a denúncia
era um mecanismo de ação social
desconhecido dentro da maior parte das unidades
de conservação do Estado. "O
fato é inédito e representa
um novo momento na gestão de UC em
nosso Estado, voltado para o estabelecimento
de parcerias institucionais e um novo modelo
de gestão de áreas protegidas,
que prioriza a participação
dos moradores das reservas no monitoramento
da biodiversidade local", afirma Ademar
Cruz.
Esta mudança de paradigma
descrita por Cruz teve início com a
implantação de um sistema de
radiocomunicações na RDS Cujubim.
Os equipamentos melhoram a vida das pessoas
tirando-as do isolamento total e são
também um poderoso aliado no controle
do território e na garantia de sua
integridade. No episódio da denúncia,
além de possibilitar a comunicação
rápida com o Ibama e com o Ipaam, os
rádios serviram para que os moradores
monitorassem a rota dos madeireiros, indicando
com precisão, para os fiscais, onde
os infratores se localizavam.
Para o vice presidente de
ciência da Conservação
Internacional (CI-Brasil), José Maria
Cardoso da Silva, esta é a prova de
que a criação de unidades de
conservação com o apoio das
comunidades tradicionais é uma das
formas mais efetivas de garantir o desenvolvimento
sustentável do Amazonas, pois, com
a criação das reservas, há
também um esforço para que as
comunidades, com capacitação
e tecnologia adequadas, possam, elas próprias,
gerenciarem os seus recursos naturais.
"Na verdade, a criação
de unidades de conservação de
uso sustentável no Amazonas é
talvez um dos melhores e mais efetivos programas
de redistribuição de renda no
Brasil, pois garante trabalho e renda para
várias gerações de ribeirinhos
e extrativistas que são geralmente
marginalizados nos modos tradicionais de se
promover o desenvolvimento social e econômico
no país", comenta Silva.
Embora ainda não
esteja definido, o destino da madeira apreendida
deverá ser a própria reserva.
Como nunca ocorreu uma apreensão de
madeira ilegal na área, devido à
falta de monitoramento adequado, as autoridades
precisam definir os critérios mais
ágeis e eficientes para que a madeira
apreendida seja devolvida aos comunitários.
O equipamento de radiocomunicação
foi doado aos moradores da RDS pela Organização
Não Governamental CI-Brasil com apoio
da Embaixada Britânica.
Expedição
– Uma nova expedição para a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Cujubim foi iniciada hoje (5). Essa fase dos
trabalhos científicos tem como objetivo
gerar estudos para a elaboração
do Plano de Gestão do Cujubim. A previsão
é de que até o início
de 2007, a extração de madeira
esteja regulamentada dentro da reserva e ocorra
de forma controlada, com base em planos de
manejo comunitários feitos e monitorados
por especialistas qualificados.
Para isso, existe uma parceria
entre o Ibama e o Ipaam para definir as regras
de manejo florestal na UC. Cruz afirma que
com a elaboração do Plano de
Gestão e a implantação
de planos de manejo para produtos florestais
“aumentem o valor agregado destes produtos
e contribuam para a melhoria da renda e da
qualidade de vida dos comunitários
que vivem na reserva”.
A RDS Cujubim - A Reserva
de Desenvolvimento Sustentável Cujubim
foi criada em 2003, no município de
Jutaí, extremo oeste do Amazonas, pelo
Governo do Estado. Com cerca de 2,4 milhões
de hectares - uma área maior que a
do Estado de Israel - é uma das
maiores unidades de conservação
de uso sustentável do Brasil.
Localiza-se na bacia do
rio Jutaí, afluente da margem direita
do rio Solimões, entre a Terra Indígena
do Vale do Javari, ao sudoeste, e a Terra
Indígena do Biá, ao norte; e
faz parte de um dos maiores blocos contínuos
de áreas protegidas em florestas tropicais,
totalizando 12,2 milhões de hectares.
A RDS Cujubim é rica
em diferentes tipos de vegetação.
Ao longo dos rios é possível
encontrar florestas sazonalmente alagáveis
de várzea ou igapó. Nos setores
mais altos, a floresta é de terra firme,
podendo ser densa ou mais aberta, de acordo
com a variação do relevo. Aproximadamente
290 pessoas, distribuídas em 56 famílias,
vivem na área da RDS, sendo que a maioria
tem como principal atividade econômica
a agricultura de subsistência, a pesca
e o extrativismo.