06/06/2006
- Um tetraplégico praticante de rafting,
um deficiente visual no topo de uma montanha
após uma longa escalada, um portador
de síndrome de Down que adora sentir
a adrenalina na tirolesa e os desafios do
arvorismo. O turismo de aventura para deficientes
físicos, além de possível,
é uma prática em crescimento,
que, inclusive, está prestes a ser
normatizada.
Segundo dados divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), existem cerca de 25 milhões
de deficientes físicos no Brasil. É
para essas pessoas que enfrentam dificuldades
de locomoção que a organização
não-governamental (ONG) Aventura Especial
tenta mostrar que é possível
vencer outros desafios.
Fundada em 2002, a entidade
conseguiu assinar um convênio com o
Ministério do Turismo e atualmente
realiza a segunda fase de projeto, que visa
apresentar soluções para o mercado
do turismo se adaptar às necessidades
dos portadores de deficiências físicas.
“Todos têm condições,
só que não existe acesso. Se
a mata está fechada e ninguém
passa, precisamos abri-la. Se abro um pouco,
mas as pessoas com cadeira de roda não
conseguem passar, é só abrir
mais”, explica Mauro Brucoli, representante
da ONG Aventura Especial.Na longa caminhada
para alcançar o objetivo, um dos principais
obstáculos é a falta de equipamento
específico para garantir a segurança
dos praticantes.
“Não existem esses
equipamentos no mercado, nem para ser importado.
Começamos a trabalhar com protótipos.
É possível fazer de forma improvisada,
mas queremos capacitar profissionais e buscar
equipamentos adequados”, conta Brucoli. A
previsão é que até final
de 2006 as soluções já
tenham sido definidas e prontas para a aplicação
em 2007.
Eemplo - Vítima de
ataxia espinocerebelar, uma doença
neuro-degenerativa que afeta visão,
fala, coordenação motora e equilíbrio,
o jornalista e fotógrafo Dadá
Moreira inicialmente se trancou em casa. Perdeu
o emprego, descobriu que a doença não
tinha cura e passou anos desmotivado.
Foi a publicação
de um guia de turismo que mudou o rumo da
vida de Moreira. “O Dadá sempre brinca
durante as palestras que quando viu o lançamento
da revista pela televisão foi correndo
às bancas”, relembra Brucoli.
Amante de viagens e turismo
de aventura, o fotógrafo e fundador
da ONG Aventura Especial passou a procurar
todas as empresas divulgadas na publicação
para saber se estavam preparadas para receber
deficientes físicos. Entre centenas
de ligações, uma aceitou. Moreira
se preparava para sua primeira experiência
depois de descobrir a doença: enfrentar
as corredeiras durante a prática de
rafting.
Com receio de não
acompanhar o ritmo do grupo, Moreira começou
a treinar em uma bicicleta ergométrica.
No primeiro dia, não conseguiu passar
de 20 segundos. Às vésperas
da viagem, já pedalava por uma hora
e meia. Ele percebeu, então, que a
estréia não foi tão complicada,
animou-se e decidiu que a próxima tentativa
seria nos ares. Passou pelo segundo teste
no salto de pára-quedas e desde então
não parou mais.
Depois de divulgar suas
experiências pela internet e receber
diversos e-mails de apoio e de pessoas nas
mesmas condições que gostariam
de se aventurar pelo País, Moreira
descobriu que poderia fazer mais. Iniciou
as atividades da organização
e passou a buscar meios de oferecer condições
seguras para os praticantes.
“O Dadá mostrou como
o mundo é egoísta e individualista.
Ele é um anjo que tem uma missão
na terra”, finaliza Brucoli. A Aventura Especial
é um dos expositores do 2º Salão
do Turismo – Roteiros do Brasil. O estande
está instalado no espaço de
Esporte de Aventura.