Panorama
 
 
 

EXPEDIÇÃO DESBRAVA NOVO PARQUE NA AMAZÔNIA

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2006

12.06.2006 - Brasília – Barcos, jipes, helicóptero e avião serão utilizados pela equipe da Expedição Juruena-Apuí para percorrer mais de mil quilômetros do recém-criado Parque Nacional do Juruena e do Mosaico de Apuí. Será a primeira vez que um grupo de técnicos de conservação ambiental, biólogos e jornalistas visitam a área, decretada parque nacional no último dia 5 de junho – Dia Mundial do Meio Ambiente –, para colher dados sobre a rica biodiversidade local. Com duração de 20 dias, entre 13 de junho e 2 de julho, a expedição também irá detectar focos de garimpo e o modo de vida de comunidades tradicionais, como os povos Kayabi e Apiacás que vivem na região. A iniciativa é do WWF-Brasil (Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa), Ibama, e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS), e conta com parceria do ICV (Instituto Centro da Vida) e do WWF-Alemanha.

Essa ação enquadra-se nas atividades complementares do WWF-Brasil em apoio à implementação do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa). “Esse programa representa a mais importante e talvez a maior iniciativa de conservação no mundo, e para isso toda Rede WWF se mobiliza”, afirma a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú.

Cláudio Maretti, coordenador do WWF-Brasil para Áreas Protegidas entende que “as informações levantadas nessa viagem serão preciosas para subsidiar a elaboração do plano de manejo do parque, de forma a continuar dando apoio ao programa do governo federal de Áreas Protegidas na Amazônia, o Arpa, com um dos nossos focos principais nessa região prioritária”. Localizado no norte do estado do Mato Grosso e sul do Amazonas, o recém-criado Parque Nacional do Juruena conta com uma área de quase 2 milhões de hectares. É o terceiro maior parque do Brasil, atrás apenas do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (com 3,9 milhões de hectares) e do Parque Nacional do Jaú (com 2,3 milhões hectares). Os dois últimos já recebem suporte do Programa Arpa.

Área de extrema variedade biológica, o Parque Nacional do Juruena é lar de espécies que correm risco de extinção em outras regiões da Amazônia, como a onça pintada Panthera onca, a ariranha Pteronura brasiliensis, o gavião real Harpia hapia, o peixe boi Trichechus inunguis, e deve proteger possíveis espécies que ainda nem sequer foram catalogadas pela ciência, por ser uma área pouquíssimo pesquisada. O decreto do governo federal criando a área protegida era uma reivindicação antiga do movimento ambientalista. Algumas das instituições que apóiam sua implementação também participaram da construção da sua proposta de criação. O parque nacional era uma das últimas unidades de conservação que faltavam ser criadas para completar o corredor meridional da Amazônia, importante tanto pela sua qualidade ecológica, como para resistir ao avanço do desmatamento que vem de sul para norte do Brasil, além do que, já nasce com apoio garantido pelo programa Arpa.

“Nessa região foram registrados os maiores índices de desmatamento nos últimos anos, principalmente pela expansão da fronteira agrícola. Com a criação de novas unidades de conservação e a presença do poder público no local, esses índices devem diminuir”, afirma Gustavo Irgang, coordenador de conservação do ICV, explicando que o corredor é uma importante linha de defesa para controlar a expansão da degradação da floresta amazônica.

A terceira fase da expedição será no Parque Estadual do Sucunduri, localizado no Mosaico de Apuí, sul do estado do Amazonas, onde uma equipe de 15 pesquisadores da SDS estarão fazendo inventários de fauna e flora, com grande chance de serem encontradas novas espécies. “O Mosaico do Apuí foi criado pelo governo do estado do Amazonas no segundo ano de nossa gestão e agora, conforme o previsto, estamos enviando pesquisadores para iniciarem os estudos para subsidiar o plano de manejo da área. Esse mosaico é uma barreira verde contra o avanço do arco do desmatamento no sul do estado”, declarou o secretário de estado do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável do Amazonas, Virgílio Viana.

Arpa

Criado oficialmente em 2003 pelo governo brasileiro, o Arpa tem como objetivo consolidar 50 milhões de hectares de unidades de conservação na Amazônia, ao longo de 10 anos, incluindo a criação de cerca de 38 milhões de hectares de novas áreas protegidas (desde 2000). Até o momento, são mais de 20 milhões de hectares protegidos criados com apoio desse programa e quase 8 milhões de hectares em processo de consolidação. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, o Arpa é implementado pelo Ibama em parceria com governos estaduais da Amazônia que aderiram ao programa. A gestão financeira e os processos de aquisição e contratação são de responsabilidade do Funbio. Também participam do programa o Fundo Global para o Meio Ambiente ('GEF'), o Banco Mundial, o KfW (banco de cooperação da Alemanha), a GTZ (agência de cooperação técnica da Alemanha) e o WWF-Brasil, com doações e cooperação técnica.
O WWF-Brasil participou da criação, da implantação, do planejamento, da gestão e da execução do programa, bem como atua na sua manutenção em longo prazo. Além do depósito de US$ 4,5 milhões no Fundo de Áreas Protegidas (FAP), desde 2003 a organização já destinou cerca de US$ 10 milhões para a execução do ARPA – para os processos de criação e implementação das unidades de conservação, como pesquisa, compra de equipamentos, infra-estrutura etc.– parte dos US$ 70 milhões com os quais se comprometeu colaborar no prazo de 10 anos.

“Além das inovações do Arpa esta nossa expedição inicia a demonstração de uma nova forma de implementação de áreas protegidas na Amazônia, pois com o envolvimento destes e outros parceiros, e o apoio do programa Arpa, podendo eventualmente, até se chegar no futuro na constituição de um fundo fiduciário específico para essa importante região, composta pelo Parque Nacional do Juruena e Mosaico do Apuí, procuraremos desenvolver um caso de participação e informação científica desde o início da sua gestão”, afirmou Marcos Pinheiro, técnico especializado em áreas protegidas do WWF-Brasil e coordenador da Expedição Juruena-Apuí.

Equipe faz maratona para chegar em Alta Floresta

Por: Ana Cíntia Guazzelli e Cláudio Maretti
13.06.2006 - Nosso primeiro dia da Expedição Juruena-Apuí foi marcado por muitas horas de viagem, excessos de bagagem e pela vontade coletiva de chegar em Alta Floresta (MT) antes do início do jogo Brasil x Croácia. Somos, até agora, 15 integrantes da equipe de 16 e viemos de diversos estados do Brasil. Um é da Alemanha, vários de Mato Grosso ou de Brasília, alguns do sul do país. Fomos nos encontrando aos poucos em diferentes aeroportos e juntos chegamos, por volta das 15h, no Hotel Floresta Amazônica, onde já estava montado, numa oca, um telão para assistirmos ao jogo.

Esse pode ser o último jogo que assistimos, pois nas próximas três semanas, entraremos cada vez mais mato adentro, para ver as maravilhas da natureza - e, talvez, infelizmente, perder maravilhas do futebol... Tomara!

O cansaço era geral. Michael Evers, coordenador do Programa de Florestas do WWF-Alemanha, viajou durante 19 horas e passou por três aeroportos brasileiros. Nós, de Manaus, eu, Robson Maia e João Lúcio Teixeira, cinegrafistas, embarcamos na madrugada do dia 13 e encontramos com os curitibanos Zig Koch, fotógrafo, e Ivan, responsável pelo rafting, no aeroporto de Brasília já pela manhã. Lá, embarcaram Rogério Azevedo, da Diretoria de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Livino, representante da Diretoria de Ecossistemas, do Ibama, o biólogo Dante e Cláudio Maretti, coordenador do Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa, do WWF-Brasil. Em Cuiabá, nossa próxima parada, o Nelson, biólogo, representante da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Mato Grosso (Sema-MT) já nos aguardava dentro do avião da Trip, de aproximadamente 40 lugares. No aeroporto de Alta Floresta, encontramos com os outros integrantes da equipe, Gustavo Irgang, do Instituto Centro de Vida (ICV) e com a bióloga Solange, que nos acompanharam ao hotel. Ayslaner Gallo, engenheiro florestal do ICV e o jornalista alemão Wolfgang Kuhnat se uniram à equipe à noite, durante uma breve reunião de integração.
Marcos Pinheiro, do WWF-Brasil e coordenador da expedição, não conseguiu embarcar em Manaus e só deve estar conosco depois de amanhã.

Para 20 dias de aventura na floresta amazônica, muita bagagem e a vontade coletiva de sucesso da expedição.

A ansiedade é natural, pois lutamos pela criação desse parque nacional por mais de três anos. Agora temos mais um mega-parque, na frente da degradação (norte de Mato Grosso), e prevemos nos próximos dias conhecer um pouco melhor essa área com a qual passaremos a trabalhar daqui para frente. Esse parque nacional, com quase dois milhões de hectares (e, portanto, praticamente metade do estado do Rio de Janeiro) é parte de uma frente de reação à degradação e desmatamento que vem de sul para norte. Mais que somente um grande parque nacional, ou um mega mosaico de áreas protegidas, dentro de uma enorme ‘paisagem de conservação’ – onde as unidades de conservação são o núcleo principal, esta região é de grande diversidade biológica, e sendo uma ecorregião de transição para o franco bioma amazônico, esperamos encontrar de espécies animais e vegetais endêmicos, isto é, que só existem naquela região, e novidades ecológicas para os próximos dias.

Para alegria de todos, chegamos no hotel a tempo de assistir ao primeiro jogo do Brasil na Copa da Alemanha. Durante a partida, um churrasco de picanha e frango nos foi servido e bem aproveitado, já que não sabemos o que nos espera no futuro próximo, durante a segunda fase da expedição, quando desceremos por seis dias o rio Juruena, a começar dia 16. Enquanto isso, faremos contatos com os atores sociais desta região, ‘pré parque’.

À noite, participamos de uma reunião de integração da equipe e assistimos a uma palestra sobre onças, proferida por Sílvio Marchini, da Fundação Ecológica Cristalino (FEC). Ele pretende, com sua pesquisa de doutorado, elaborar e conduzir intervenções de educação e comunicação para a conservação da espécie.
A importância dessa palestra é ligada a sua atualidade: gerir áreas protegidas hoje em dia não é mais tarefa para puros biólogos. Além das funções gerenciais, ainda mais quando há um programa de apoio como é o caso do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), gerenciar uma unidade de conservação é fundamentalmente uma tarefa de entendimento do contexto, integração com o entorno e gestão de conflitos. A diferença é que se faz isso com vistas à conservação. E a importância das unidades de conservação está também no fato de permitir colocar gente para fazer isso.

Amanhã, às 5h30, a equipe de comunicação fotografará e filmará um ninho de gavião real com filhote. A harpia é a maior e mais forte ave de rapina, ou águia, do mundo. Ela tende a fugir das áreas de interferência humana e demanda enormes áreas de floresta natural. O fato de estar aqui, dentro do fragmento florestal próximo ao Hotel Floresta Amazônica é bom sinal: de que, para frente, teremos grandes áreas naturais. Também está prevista a visita a um fragmento florestal urbano com uma sumaúma gigante e árvores de mogno.

À tarde, amanhã, partimos para Apiacás, onde nos encontraremos com o poder público e atores sociais locais. Ao que tudo indica, muitas surpresas nos aguardam.

Já estamos na região amazônica

Por Cláudio C. Maretti
14.06.2006 - O dia começou bem, pois logo cedo fomos observar um ninho de harpia (Harpia harpia), ‘gavião-pega-macaco’ ou gavião-real, como também é conhecido em alguns lugares. Apesar de maravilhosa, a atividade é um tanto arriscada, pois o ninho fica em cima de uma árvore, a cerca de 20 metros de altura, cuja subida inspira cuidados. Há ainda o risco de ataque, sobretudo da mãe em defesa do filhote. Além disso, ainda é preciso tomar cuidado para não perturbar demais, nem mãe, nem filho.
A observação foi um sucesso. Pudemos ver adequadamente essa maravilha de animal, a água mais forte e de pegada mais importante, além de envergadura provavelmente também maior do mundo. Melhor é o sinal que ela nos dá, pois habita um fragmento florestal, à beira da floresta amazônica de onde ela retira seu alimento: mamíferos de porte significativo como por exemplo, macacos.

Seguindo nesse ritmo, visitamos mais alguns fragmentos florestais na área urbana do município de Alta Floresta, infelizmente menos cuidados que os do Hotel Floresta Amazônica, onde encontramos o ninho de harpia. Mas servem bem de testemunho do que antes foi a “alta floresta”, ou “floresta alta” desta região: uma sumaúma com mais de 30 metros de altura.

Sumauma (Ceiba pentandra). Essa árvore, ou melhor, a sapobemba (as raízes com alas, como pode ser visto na foto), desta ou de outras espécies, é usada na floresta para comunicação. Percutindo um toco na sapobemba, ecoa o som que dirige aqueles que estão perdidos. O Programa Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia) usa a sumaúma como símbolo e diz: “atenda o chamado da sumaúma”, pretendendo chamar a atenção da sociedade, dos grupos sociais e dos indivíduos a contribuir pela proteção das áreas mais delicadas ou mais importantes da Amazônia brasileira.

Antes de sairmos, a mídia local quis conhecer as instituições, os objetivos e os participantes da expedição. “Viemos aqui mais para escutar”, disse Francisco Livino, representante da Diretoria de Ecossistemas do Ibama. “Este parque já começa com condições de ser implantado, por conta do apoio do Programa Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia) do Ministério do Meio Ambiente”, disse Rogério Vereza, do MMA. “Não se pode mais pensar em uma área protegida que seja geria de forma isolada. É fundamental que elas façam parte da conservação e desenvolvimento sustentado regional”, afirmou Cláudio C. Maretti.

A cidade e o desenvolvimento

Alta Floresta é um município conhecido por ter sido palco de um ‘boom’ garimpeiro nos anos 70 e sobretudo anos 80. Depois veio atividade madeireira. Dessa forma, a região foi desbravada do jeito mais clássico, ou seja, em projetos de colonização, com apoio governamental, junto com desmatamento de conquista, normalmente de legalidade duvidosa, para assim dizer, Alta Floresta se desenvolveu como cidade de importância local. A cidade está localizada no extremo norte do estado de Mato Grosso, a 830 km da capital do estado, Cuiabá e conta com uma população de 77.000 habitantes. Um dia conhecida como centro do desmatamento, Alta Floresta ainda guarda alguns fragmentos florestais, mas deixou de ser o foco principal dessa atividade.

Diferente de outros trechos do Mato Grosso, é pouco provável que as plantações de soja se instalem neste local. As principais atividades são a criação de gado e a exploração madeireira.

Tecnicamente fala-se da “mineração da madeira”, representando uma atividade não sustentada, na qual são retirados os valores da floresta de forma predatória, considerando apenas uma vez. Isto é, assemelha-se a uma atividade mineireira, com extração, e sem sustentabilidade. De fato, nesta região, além da atividade garimpeira, a extração de madeira representa uma evolução com ganho temporário, sem sustentabilidade. Isso pode ser visto pela evolução da atividade, e sua migração.

Estudo do Instituto Centro de Vida (ICV –organização não-governamental de atuação local, com focos na conservação e no desenvolvimento sustentado) mostra que, segundo dados do IBGE, a extração madeireira teve uma forte queda em Alta Floresta entre 1996 e 2003, caindo de 80 para 11 mil m3/ano. No mesmo período, a produção em Apiacás, uma pequena cidade vizinha com cerca de seis mil habitantes, teve crescimento significativo, passando de 4,9 mil para 77 m3/ano. Vale lembrar que esses dados refletem apenas uma parcela dos valores reais, mas são, porém, reveladores de tendências.

Madeireiras rumo ao Norte

Isso mostra claramente a dinâmica da frente madeireira rumo ao extremo norte mato-grossense. Existiam até há muito pouco tempo cerca de 20 indústrias madeireiras em Apiacás e 15 em Nova Bandeirantes. Mas, desse total, apenas 16 (46%) estavam em atividade em setembro de 2005 –sendo que o restante foi paralisada por conta dos desdobramentos da Operação Curupira – investigação da Polícia Federal em 2005 sobre as atividades madeireiras ilegais que acabou paralisando a liberação de Autorizações para Transporte e Comercialização de Produtos Florestais (ATPFs). Ou seja, há uma dinâmica de crescimento e decadência –em ‘boom’– que não deixa muita coisa nos locais como desenvolvimento duradouro.

Apiacás

Apiacás parece uma cidade de faroeste em decadência antes de ter chegado em algum nível importante de desenvolvimento e qualidade de vida. A cidade foi originada de um projeto de colonização do Indeco (Instituto de Desenvolvimento do Centro-Oeste), em 1988, tornando-se município emancipado alguns anos mais tarde, em 1993. Porém, o crescimento se deveu essencialmente à atividade garimpeira entre 1985 e 1992. Com a queda do garimpo, a atividade madeireira se instalou com mais vigor. Assim, mostrou o crescimento indicado acima.

No entanto, praticamente toda a atividade era ilegal e esta região foi palco de uma operação de fiscalização e controle de vários órgãos, incluindo Polícia Federal, Ministério Público e Ibama – a chamada Operação Curupira –, que descobriu várias irregularidades, prendeu gente e gerou um bloqueio nos processos de autorização da exploração florestal por algum tempo. O secretário municipal de Indústria, Comércio, Turismo e Meio Ambiente diz que dos cerca de 14.000 habitantes do município (pelo menos uns 60% na zona urbana), vários milhares, mais de três mil, segundo ele, já abandonaram a cidade com o ‘bloqueio’ da atividade madeireira desde então. Ou seja, mesmo nos momentos de bonança econômica, a atividade, além de não sustentável, se baseia em situações ilegais.

É difícil imaginar que a implantação do Parque Nacional do Juruena venha provocar algum dano econômico. Ao contrário, do ponto de vista de atividades legais, o provável é que se provoque uma melhoria da situação.

Desafios

Mas difícil é explicar isso para a população local. Ela diz que diz que veio para cá incentivada pelo Governo Federal, supostamente para render um serviço à nação. “Integrar - que eles entenderam desbravar, ou desmatar - para não entregar” era o lema na época da ditadura. Eles sempre se sentiram abandonados pelo Estado e, por isso, se acostumaram com atividades ilegais. Na visão deles, agora vêm os chamados “ambientalistas” (misturando governo, Ibama, ONGs etc.) e “criam o parque”. A difícil tarefa é: como convencê-los a acreditar nesse potencial e esperar vários anos para vê-lo se realizar?
Amanhã, mesmo com o feriado de Corpus Cristi, teremos reunião com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente de Apiacás, na Câmara Municipal, onde esperamos uma reação não propriamente calorosa a nossa causa.

Equipes se dividem e partem para Apiacás

Por: Ana Cíntia Guazzelli
14.06.2006 - Alta Floresta (MT) – São 18h00 e ainda estamos em Alta Floresta nos preparando para enfrentar cerca de seis horas de estrada de terra até o município de Apiacás. A saída estava prevista para às 15h00, mas atrasou. Francisco, do Ibama, Cláudio, do WWF-Brasil, o fotógrafo Zig Koch, o cinegrafista Robson Maia e o jornalista alemão, Wolfgang Kuhnat, saíram mais cedo, de avião (um Cesna, de seis lugares). Caso contrário, não chegariam a tempo para o pouso: o aeroporto não comporta aterrissagens noturnas. Nós outros, 10 restantes, vamos em quatro veículos tracionados – três cedidos pelo Ibama e um do nosso parceiro Instituto Centro de Vida – ICV.

Parte da equipe colocando as bagagens nos carros para seguir viagem. (Foto: Zig Koch)
A viagem, segundo um dos motoristas, é longa. Chegaremos em Apiacás por volta das duas horas da manhã. Por isso, resolvi aproveitar o tempo de embarque da bagagem (quatro carrocerias de Toyotas lotadas), para escrever rapidinho sobre o nosso dia. Não tenho nem a certeza de que conseguirei terminar antes da saída e, infelizmente, hoje não teremos fotos do Zig Koch, que já deve ter chegado lá. Aliás, hoje seria o dia do gavião real (Harpia harpia), fotografada a cerca de 40 metros de distância. Zig e Lúcio, o outro cinegrafista, escalaram uma plataforma de 25 metros de altura para buscar o melhor ângulo do bicho, que para alegria de todos, ainda estava com um filhote no ninho. Amanhã, vocês terão a oportunidade de apreciar as fotos e conhecer um pouco mais deste animal em extinção. Publicaremos também a foto de uma samaumeira imensa, preservada em um fragmento florestal urbano, que fica a 20 minutos de Alta Floresta.

Logo após o almoço, aconteceu uma entrevista coletiva com a imprensa local. Participaram os representantes do Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Sema, WWF-Brasil, ICV e um pesquisador. A maioria das perguntas dos dois repórteres presentes estava relacionada à falta de alternativas econômicas para os moradores da área de entorno do recém criado Parque Nacional do Juruena. Este também deverá ser o tom da conversa que acontecerá amanhã, em Apiacás, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento do Meio Ambiente (Condema). Alguns rumores nos alertaram que moradores e fazendeiros estariam aguardando nossa equipe com uma grande manifestação no aeroporto da cidade. Mas isso vocês só poderão saber amanhã, quando terão notícias também sobre a nossa viagem até Apiacás.

Uma notícia triste abalou um pouco os ânimos da equipe: o caminhão que transportava todo o material de rafting do Ivan, que iria acompanhar a expedição fazendo o levantamento das condições do rio Juruena para esse tipo de esporte e avaliar a vocação do parque para o ecoturismo, virou na estrada BR 163, na altura da cidade Sinop, e o equipamento foi perdido totalmente. A boa notícia do dia foi a de que o Marcos Pinheiro, coordenador da expedição, enfim chegaria a Apiacás hoje. Se conseguiu ou não, só saberemos amanhã também.

Último dia em Apiacás, sem conflitos

Por: Ana Cíntia Guazzelli e Cláudio Maretti
15.06.2006 - Apiacás/MT – Ontem chegamos a Apiacás um pouco mais das duas horas da manhã. Divididos em cinco pick ups, demoramos mais de 7 horas para rodar cerca de 200 km pela estrada de terra que liga Alta Floresta a Apiacás, e se encontra em péssimo estado de conservação. Alguns integrantes da equipe que fizeram a viagem de avião, ainda estavam acordados. Cláudio Maretti há várias horas tentava funcionar o equipamento de comunicação via satélite que utilizaremos a partir de hoje para enviar diariamente as fotos e textos. Fui dormir depois das três horas e ele ainda não havia desistido, nem conseguido êxito na operação.

Pela manhã, além do encontro com o poder público local durante reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente - Condema, a grande expectativa era a chegada do Marcos Pinheiro, do WWF-Brasil, e coordenador da expedição. Desde o dia 13, primeiro dia da expedição, ele tentava, em vão, sair de Manaus. Hoje, ele chegaria em avião fretado por volta das 8h30, ainda para participar da reunião. Às 9h00, quando já estava de saída, recebi um telefonema dele: muito próximo de Apiacás, sobrevoando o rio Juruena, um forte cheiro de queimado invadiu a pequena aeronave. O piloto desligou a bateria e resolveu retornar para Manaus, por precaução e para garantir o conserto. Marcos aterrissou, enfim, em Apiacás às 16h00 e foi recebido com entusiasmo por todos.

A informação de que seríamos recebidos ontem com uma grande manifestação no aeroporto de Apiacás (uma pista de 1.100 metros) não se confirmou. Ao contrário, a equipe foi recepcionada pelo secretário municipal de meio ambiente que contribuiu inclusive com a logística local. Apesar disso, todos fomos para a reunião do Condema hoje pela manhã um tanto ressabiados. Assim, também, percebemos que estavam os presentes. E esse foi o tom do início do evento. A impressão era a de que as duas partes tinham se preparado para uma batalha, que de fato acabou não acontecendo. Os integrantes da equipe da Expedição Juruena-Apuí se apresentaram, seguidos dos membros do Condema. Com a presença da prefeita Silda Kochemborger, a reunião transcorreu sem conflitos, nem alterações. A plenária não estava lotada. Alguns atribuíram o vazio ao feriado de Corpus Christis; outros garantiram que a população de Apiacás não acredita mais em reuniões, pois a maioria das que eles participaram, foi recheada de promessas infundadas, sem retorno concreto para a melhoria de suas condições de vida.

Uma série de reivindicações foi apresentada. O representante do Ministério do Meio Ambiente, Rogério Vereza, se comprometeu em levá-las ao conhecimento da ministra do meio ambiente, Marina Silva. O representante do Ibama, Francisco Livino, também foi bastante questionado e, dentro do espaço a ele reservado, respondeu a todas perguntas, procurando não fazer promessas vazias, nem gerar expectativas.

As reivindicações começaram com o aspecto da compensação e os destaques estavam relacionados ao transporte e ao asfalto, além da melhoria do aeroporto, que atualmente não passa de uma pista de 1.100 metros, sem registro, nem homologação. Também pediram atenção à crise econômica do município, sobretudo à atividade madeireira, que está em franca decadência. Alguns dizem que antes da Operação Curupira havia entre 12 e 26 serrarias em pleno funcionamento e hoje apenas uma se encontra em atividade. Outra questão levantada foi a regularização das fazendas e o pedido de atenção à castanha do pará, que não tem sua extração regularizada, nem é beneficiada no município.

Com isso se constatou que a população aceita a criação do parque e espera que sua implementação traga benefícios para a sociedade local. Há solicitações de que a implantação aconteça o mais rápido possível. A prefeita explicitou seu desejo de que a sede seja em Apiacás. Portanto, houve concordância na maioria dos assuntos levantados, exceto o fato de que há uma espécie de prejuízo à atividade madeireira por conta da proteção ambiental. “O problema não é a proteção ambiental que está prejudicando a atividade madeireira, mas a sua ilegalidade”, afirmou Cláudio Maretti, do WWF-Brasil. Ele, em parceria com o ICV, anunciou que já existe um acordo com o Ibama para ajudá-lo a fazer o plano de manejo do Parque Nacional do Juruena, que deverá ser baseado em informações científicas, inclusive contemplando o conhecimento tradicional e voltará sua atenção para as atividades do entorno. O WWF declarou que tem interesse em apoiar essa iniciativa, não investindo nas atividades, mas dando assistência técnica e tentado promover a aproximação entre os órgãos governamentais e os interessados.

A conclusão foi a de que a prefeita vai liderar um processo de colocação de sugestões e idéias para a equipe do plano de manejo. As informações que não forem para o plano de manejo serão levadas para a as autoridades competentes em Brasília. A reunião terminou por volta das 12h30 e todos almoçaram juntos no único restaurante da cidade, o Boi Bom.

À tarde, parte da equipe visitou a fazenda de Daniel Loretti da Silva, que transformou uma fazenda de gado em uma área de plantação consorciada, onde a principal cultura é o cupuaçu. Ele acredita que a agricultura familiar seja a melhor alternativa para o desenvolvimento de Apiacás. Segundo Daniel, 35 alqueires com criação de gado, rende anualmente aproximadamente 3 mil reais; já 1 ½ alqueire de plantação de cupuaçu, depois 6 anos, proporciona uma renda de 30 mil reais anuais, além de se poder consorciar com outras culturas, como milho e mandioca, que geram ganhos imediatos.

 
 

Fonte: WWF-Brasil (www.wwf.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 
 
 

 

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