O governador do Amazonas, Eduardo Braga,
participou da solenidade. Segundo ele, a iniciativa
do governo é inovadora: "É
a primeira vez que o governo federal, ao criar
unidades de conservação em terras
estaduais, discute o assunto com o estado
e a comunidade". Com a criação
do parque, explicou ele, o governo federal
saiu de uma posição "proibitiva",
ao definir áreas de conservação
e estabelecer políticas para que as
famílias que residem na área
possam trabalhar com regras claras, sem desrespeitar
o meio ambiente.
Com esses atos, a área protegida na
Amazônia aumenta 1,84 milhão
de hectares, superior a três vezes a
área do Distrito Federal. Desde o início
do governo Lula foram criadas ou ampliadas
57 UC's: quatro em 2003, 11 em 2004, 21 em
2005 e 21 em 2006 (incluindo as anunciadas
nesta quarta-feira). Com os novos 1,84 milhão
de hectares protegidos, chega a 19,3 milhões
de hectares a área de Unidades de Conservação
criadas neste governo na Amazônia, o
que equivale a 34% do total de UC's criadas
até hoje.
Ainda na solenidade, a ministra Marina Silva
e o governador Eduardo Braga assinaram um
memorando de entendimento para que sejam adotados
procedimentos comuns na criação
de unidades no Amazonas. Braga também
anunciou a criação de três
UC's estaduais: Reserva do Rio Madeira, Reserva
do Rio Juma e Parque Estadual do Matupi.
As Reservas Extrativistas (Resex) são
áreas de domínio público
utilizadas por populações extrativistas
tradicionais, comunidades que vivem do extrativismo,
da agricultura de subsistência e da
criação de animais de pequeno
porte. Com a criação dessas
reservas, o governo pretende proteger os meios
de vida e a cultura dessas populações
e assegurar o uso sustentável dos recursos
naturais.
Parques Nacionais são unidades de
proteção integral e destinam-se
a proteger os ecossistemas, a biodiversidade
e a floresta e podem se tornar fontes importantes
de geração de emprego e renda
através do turismo ecológico,
além da possibilidade de realização
de pesquisas científicas, contribuindo
para aumentar o conhecimento sobre os ecossistemas
amazônicos e seu potencial.
Reserva Extrativista do Rio Unini
A Resex do Rio Unini, no município
de Barcelos, no Amazonas, deverá atender
a cerca de 200 famílias. Com a criação
dessa reserva, a comunidade poderá
garantir o manejo sustentado de seus principais
meios de vida: o extrativismo da castanha
do Brasil, do cipó titica (para a confecção
de cadeiras) e a pesca . Essa U'C também
terá grande potencial para o desenvolvimento
do ecoturismo. Ela será a primeira
reserva extrativista do Rio Negro.
Com sua criação, o governo
atende a uma reivindicação de
seis anos da Associação de Moradores
do Rio Unini.
A Resex está localizada numa área
de grande importância biológica,
onde foram identificadas as ocorrências
de 16 ordens de insetos, 124 espécies
de peixes, 264 espécies de aves, 42
espécies de mamíferos e várias
espécies da flora.
As famílias da região vivem
do extrativismo e da agricultura de subsistência.
Elas também serão beneficiadas
com um grupo de trabalho, criado nesta quarta-feira,
que reúne representantes da associação,
do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente
e do governo do estado, para redefinir os
limites do Parque Nacional do Jaú,
vizinho da Resex do Unini, onde reside cerca
de 70% dessas famílias. O objetivo
é reduzir os limites do parque e aumentar
os limites da reserva extrativista. Em breve,
esse grupo de trabalho apresentará
sua proposta, que ainda será apreciada
pelo Congresso Nacional.
Reserva Extrativista Arapixi
Aproximadamente 300 famílias serão
beneficiadas com a Resex Arapixi, no município
de Boca do Acre, no Amazonas. A atividade
econômica que deverá garantir
o desenvolvimento sustentável da região
é a coleta de castanhas e a extração
do látex das seringueiras.
A expectativa das comunidades locais é
de que a criação da Resex permita
impedir o avanço da pecuária
e da cultura da soja sobre o território.
O levantamento biológico da área
identificou a presença de 25 espécies
de peixes, sete espécies de répteis,
123 espécies de aves e 33 espécies
de mamíferos.
A criação dessa unidade atende
a uma solicitação do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Boca do Acre,
que durante o processo contou com apoio do
Conselho Nacional dos Seringueiros e o Grupo
de Trabalho Amazônico. A comunidade
local luta pela Resex desde 2000.
Parque Nacional dos Campos Amazônicos
O Parque Nacional dos Campos Amazônicos
compreenderá trechos dos rios Roosevelt,
Branco, Madeirinha Guaribas e Ji-paraná
e protegerá as cabeceiras dos rios
Manicoré e Marmelos. Em sua área
há um dos mais expressivos encraves
de Cerrado no bioma Floresta Amazônica.
A ocorrência de espécies de
animais e plantas típicas do Cerrado
no interior da Amazônia é considerada
uma evidência de que tais áreas
já estiveram conectadas ao Cerrado
em um passado recente (cerca de 10 mil anos
atrás). Embora existam atualmente evidências
contrárias à teoria dos refúgios,
os encraves de savana amazônica são
apontados como elementos chaves para a compreensão
da dinâmica evolutiva da biota amazônica.
A área apresenta enorme potencial
científico e se destaca pela sua fauna.
A diversidade de aves é altíssima.
A região também pode funcionar
como uma fonte procriadora de várias
espécies de peixes de valor comercial.
Em florestas próximas ao rio Roosevelt,
foram constatados fenômenos pouco comuns
na Amazônia, como a ocorrência
de bandos mistos de macacos barrigudos e cuxiús
de nariz-vermelho. Ainda é possível
encontrar barreiros, que atraem representantes
da fauna terrestre, como ungulados e outros
mamíferos de grande porte.
Apesar do excelente estado de conservação,
essa área corre o risco de ser atingida
pela expansão da fronteira agrícola,
pela grilagem e pelas queimadas. A pressão
parte, principalmente, da rodovia Transamazônica,
da rodovia do Estanho e do norte do Mato Grosso.
A densidade populacional na região
é bastante baixa: menor que 5 habitantes/Km2,
o que permitiu a delimitação
de uma área de conservação
extensa. Os limites da unidade proposta foram
resultado de um intenso e longo debate com
a população da região.
A expectativa é de que a criação
do parque abra uma nova perspectiva econômica
no local, com o desenvolvimento do ecoturismo.