25/06/2006
- Brasília – A máxima "Só
se preserva o que se conhece", difundida
nas discussões ambientais, permeia
os trabalhos para o mapeamento da biodiversidade
na Bacia do São Francisco, coordenados
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama).
Em entrevista à Agência
Brasil, dois participantes do estudo destacaram
o baixo nível de conhecimento sobre
a distribuição dos bichos e
plantas da bacia e sua situação.O
professor de Zoologia da Universidade de São
Paulo (USP) Luís Silveira, especialista
em aves, afirma que grande parte da região
ainda não foi estudada.
Segundo ele, a indicação
de áreas para conservação
das espécies de aves que vivem somente
ali e das que estão em risco de extinção
foi feita com base em estudos anteriores e,
não, em pesquisa in loco.
"Por puro desconhecimento
podemos estar negligenciando regiões
muito importantes para conservação
da biodiversidade", diz Silveira. "Nós
sugerimos áreas e pretendemos fazer,
a partir do momento em que tivermos recursos,
um levantamento em campo. É preciso
checar essas áreas."
No caso da fauna de peixes,
o quadro é parecido, segundo o professor
de zoologia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) Alexandre Godinho. Praticamente
apenas sobre o estado de Minas Gerais haveria
dados suficientes. "A sugestão
de alvos e metas de conservação
pode ser prejudicada por falta de informações",
comenta.
Godinho sugere, como forma
de se minimizar esse problema a médio
prazo, o investimento em capacitação
de pessoal – "particularmente nas Universidades
Federais do Nordeste, para facilitar a coleta
e a busca das informações".
O estudo sobre a diversidade
biológica, coordenado pelo Ibama, listou
até aqui 249 espécies animais
e 83 vegetais, além de localidades,
como prioritárias para conservação.
O levantamento será cruzado com novos
dados e trabalho de campo, para resultar numa
lista final com conclusão prevista
para o final do ano.
Luís Silveira, da
USP, lembra que a ararinha-azul, ave que vivia
na região, foi extinta. Ele cita o
pato-mergulhão e o jacu-de-barriga-castanha
como animais em grande risco. De acordo com
Silveira, a degradação do ambiente
e a caça, para alimentação
e tráfico, são fatores que perpetuam
a delicada situação em que os
bichos vivem. "Isso tudo acabou descaracterizando
a fauna da Bacia do São Francisco",
afirma.
Silveira diz que têm
sido importantes as reuniões entre
Ibama, Ministério do Meio Ambiente
e especialistas da área, mas que, se
a transposição do rio ocorrer
sem um programa "sério e muito
bem orientado, onde haja um compromisso assinado
do governo federal com a conservação,
nós teremos ameaças e até
piora na situação de várias
espécies de aves".
Para ele, ainda faltar estabelecer
de onde virão os recursos para os estudos
e definir como funcionará a estrutura
de fiscalização: "É
importante que se criem reservas, mas também
é importante que se dêem condições
para as manter. De nada adianta você
ter um parque criado no papel onde entrem
caçadores, pessoas para tirar madeira,
pessoas que estão descaracterizando
o hábitat dos animais."
Isabela Vieira / Colaborou Cecília
Jorge.