28/06/2006
- Manaus (AM) - Quarenta e cinco estudantes
dos nove países amazônicos, acompanhados
por 25 professores e pesquisadores da região,
percorrerão o Rio Amazonas em uma expedição
coordenada pela Organização
do Tratado de Cooperação Amazônica
(OTCA). Eles saíram hoje (26) de Quito,
capital do Equador – início de uma
viagem de 6 mil quilômetros de distância
e 34 dias de duração.
"Essa é a primeira
expedição Conhecendo a Amazônia",
detalhou a antropóloga que idealizou
o projeto, Ione Maria de Carvalho. "Escolhemos
o mesmo roteiro da viagem de Francisco Orellana,
que entre 1541 e 1542 foi o primeiro branco
a percorrer o Rio Amazonas em toda sua extensão".
Foi na expedição
de Orellana, registrada no diário de
bordo escrito pelo frei Carvajal, que o Rio
Amazonas ganhou o nome atual. Nos seus relatos,
o religioso narra a existência de uma
tribo de mulheres guerreiras que raptavam
os homens e os assassinavam depois da relação
sexual. "Esse fato não tem confirmação
histórica. Temos que lembrar que o
frei Carvajal fantasiava muito", ponderou
Carvalho.
Ela contou que, a cada noite
da viagem, um historiador deve ler aos estudantes
um trecho do diário de Carvajal. "Devemos
fazer uma revisão da expedição
espanhola. Os jovens vão poder comparar
esse relato com a realidade hoje", completou
a antropóloga. "Eles verão
que as comunidades amazônicas possuem
muitas riquezas naturais, mas também
uma carência imensa de comunicação,
de acesso à produção
e ao consumo".
Carvalho lembrou também
que os conquistadores europeus costumavam
tratar os povos amazônicos com muita
violência. "Os espanhóis
eram muito bem recebidos pelas comunidades.
E depois que Orellana conseguia tudo o que
queria, em muitos casos queimava as casas
e matava as pessoas."
Para participar da expedição,
cada país selecionou cinco estudantes
com idades entre 15 e 18 anos, por meio de
concurso de redação. "Os
jovens são a razão de ser do
projeto. A idéia foi trabalharmos com
a juventude em campo, durante as férias
escolares, para que eles conheçam a
Amazônia a partir dos cientistas."
A antropóloga revelou
ainda que a expedição Conhecendo
a Amazônia deve acontecer a cada dois
anos, sempre com trajetos diferentes. Já
há dois em estudo: um passaria pelo
lago Titicaca e seguiria por terra até
Machu Pichu (no Peru), descendo o rio Madeira
até o Mato Grosso; outro percorreria
o rio Orenoco (na Venezuela), chegando ao
Brasil pelo rio Negro.
A expedição
conta com apoio do governo do Amazonas, dos
governos do Equador e do Peru e de empresas
privadas, como a Companhia Vale do Rio Doce,
a Gol Linhas Aéreas e a Construtora
Odebrecht.
Os oito países membros
da OTCA são: Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname
e Venezuela – a Guiana Francesa não
está formalmente incluída porque
é um departamento francês, não
uma nação. A entidade foi criada
em 1995, com o objetivo de facilitar a implementação
do acordo (assinado em 1978) que visava ao
desenvolvimento sustentável da Bacia
Amazônica.
Thaís Brianezi