26/06/2006
- Brasília – A construção
pelo governo de duas hidrelétricas
no rio Madeira,em Rondônia, causará
impactos ambientais e sociais irreversíveis,
alerta a coordenadora do Grupo de Trabalho
Energia do Fórum Brasileiro de Organizações
Não Governamentais (ONGs) e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
Lúcia Ortiz.
"Existem várias
medidas que podem ser tomadas para evitar
a necessidade dessas grandes obras que, sem
dúvida nenhuma, causam impactos sociais
e ambientais significativos e, até
por isso, se tornam inviáveis economicamente",
explica Ortiz.
Hoje (26) uma carta em defesa
do Rio Madeira foi entregue ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. No documento,
representantes de 40 organizações
socioambientais brasileiras e da América
Latina pedem que Lula reveja a decisão
de construir as hidrelétricas. Na carta,
lembram que o Madeira é o segundo maior
rio da bacia Amazônica, além
de ser uma área de grande diversidade
biológica e relevante para conservação
da biodiversidade mundial.
Ao lado da preocupação
com os impactos ecológicos da construção
das barragens, Lúcia Ortiz também
diz que não houve debate suficiente.
"Depois de Itaipu é grande obra
que está sendo cogitada. Em Itaipu
vivíamos em ditadura militar; agora,
uma decisão sobre um empreendimento
desse porte e com esses impactos deveria ter
muito mais debate público", defende.
Segundo a coordenadora,
as hidrelétricas juntas terão
capacidade instalada de até 7 mil megawats
e uma área considerável de inundação,
que poderá causar a perda da biodiversidade
de espécies de peixes que são
a base da econômica de 3 mil pescadores
da região de Porto Velho. Lúcia
Ortiz alerta também para os efeitos
que a alta carga de sedimentação
do Madeira pode causar. "É um
rio que tem um carga de sedimentos quase igual
à metade de toda a carga que vai para
a bacia do Rio Amazonas. Ou seja, é
muito sedimento para ser barrado por um muro.
Isso pode fazer com que a vida útil
dessa barragem seja muito curta".
Outro alerta que Ortiz faz
se refere a grande concentração
de mercúrio já existente nesse
rio. Segundo ela, com a barragem, a carga
acumulada do produto poderá aumentar
ainda mais e se acumular nos peixes a serem
consumidos pela população.
De acordo com Glenn Switkes,
da ONG International Rivers NetWork-SP, o
licenciamento para o projeto de construção
das barragens no rio Madeira, apresentado
pelo consórcio Furnas e Odebrecht,
ainda está sendo analisado pelo o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama). "Sabemos
que o Ibama já manifestou sérias
preocupações sobre vários
aspectos do projeto. Eles exigiram estudos
complementares de Furnas, que foram entregues
no final de abril. Estão avaliando
esses estudos, que não foram divulgados
ainda".
Switkes disse que o projeto
das hidrelétricas faz parte de uma
iniciativa continental de infra-estrutura
dos governos do Brasil, Bolívia e Peru
para a construção de uma hidrovia
industrial de mais de 400 mil quilômetros
no rio Madeira. "Essa hidrovia incentivaria
a expansão do cultivo de soja naquela
região, porque será destinada
para a exportação de soja para
os portos do Pacífico".
Érica Santana