Panorama
 
 
 

SAIBA MAIS SOBRE O MOSAICO DE APUÍ

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Junho de 2006

26.06.2006 - Ao cruzar a fronteira do Mato Grosso como o Amazonas, os integrantes da expedição Juruena-Apuí atingem outro importante território de áreas protegidas, o mosaico de Apuí (AM). Com cerca de 2.467.243,619 de hectares, esse mosaico é formado por nove unidades de conservação (UCs), com diferentes propostas de manejo, entre: parques, reservas de desenvolvimento sustentável e extrativistas.

Além do Parque Estadual do Sucunduri, visitado pela expedição Juruena-Apuí, as outras unidades de conservação que formam o Mosaico de Apuí são Parque Estadual de Guariba, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Bararati, Reserva Extrativista do Guariba, Floresta Estadual do Sucunduri, Floresta Estadual do Aripuanã, Floresta Estadual do Apuí, Floresta Estadual de Manicoré e Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Aripuanã.

O mosaico está localizado nos municípios de Apuí e Manicoré no Amazonas, e tal como o Parque Estadual do Juruena, sua criação faz parte do plano de formação do Corredor Ecológico da Amazônia Meridional. Responsável pela conexão de importantes áreas de proteção ambiental na porção sul da região, como os objetivos de: conservar a biodiversidade local, conter o avanço do arco do desflorestamento e a expansão da fronteira agrícola.
O Parque Estadual do Sucunduri (AM) foi o ponto do mosaico de Apuí escolhido para ser visitado pela equipe da expedição Juruena-Apuí. Criado em 2005, essa unidade de conservação possui uma área de 1.055.840 hectares. A razão da visita ao Sucunduri é a mesma da feita ao Parque Estadual do Juruena, o reconhecimento e desenvolvimento de estudos preliminares para a elaboração de propostas de implementação.

Os integrantes da expedição começam a explorar o Parque na terceira fase da viagem, descendo o rio Sucunduri para um maior contato a fauna e flora local. Uma característica importante desta região é que alguns pontos de grande potencial turístico, como Salto Augusto no rio Juruena, também podem ser visitados por meio desta unidade de conservação, localizada na divisa dos estados do Amazonas com o Mato Grosso, e vizinha do Parque Nacional do Juruena (AM/MT).

A cobertura vegetal da região é dividida por florestas de terra firme, as florestas de Igapó - ao longo dos rios - e manchas de cerrado, isoladas na floresta. Também é possível visualizar nas matas locais, sinais das mudanças climáticas ocorridas na Amazônia há milhares de anos.

Chapadas na Amazônia

É no Parque Estadual do Sucunduri que estão localizados os domínios geológicos mais antigos do mosaico de Apuí, formados por rochas proterozóicas e paleozóicas. Esse fator gera uma configuração diferente no relevo local, marcado pela presença de planaltos entre a depressão Amazônia, e por esta razão também conhecidos como chapadas da Amazônia.
A região entre os rios Aripuanã e Juruena, na divisa do Amazonas e Mato Grosso, forma o chamado Domo do Sucunduri. Sua característica geológica diferenciada explica o grande número de saltos, quedas e cachoeiras existentes nesses rios.

A riqueza de espécies endêmicas desses locais também pode ter suas causas relacionadas à transição biogeográfica, bem como a sua heterogeneidade ambiental. Os rios que correm na área drenam o Planalto Cristalino (Escudo Brasileiro) e sua formação com corredeiras e cachoeiras é um dos tipos de ambientes-chave para sustentação da grande biomassa de peixes.

Durante a visita à região, a equipe da expedição Juruena-Apuí, poderá encontrar nas matas do Parque do Sucunduri mais de 500 espécies de aves (algumas endêmicas), 14 espécies diferentes de primatas e espécies raras de anfíbios, como o Anolis phyllorhinu. Na flora, as espécies que se destacam são: o mogno, o cedro, a copaíba, andiroba, castanha e o pau-rosa. Grande maioria ameaçada pelo seu alto valor econômico.

Parte da expedição já está em Apuí

Por Cláudio Maretti
29.06.2006 - Infeliz e felizmente iniciamos as etapas finais da Expedição Juruena-Apuí. Nosso último ponto no ‘campo’, ou na floresta, foi Terra Preta. A partir de lá, dividimos novamente a equipe.

Três de nós, Francisco Livino, representante da Direc-Ibama, Marcos Pinheiro, do WWF-Brasil, coordenador da Expedição Juruena-Apuí, e eu, Cláudio C. Maretti, do WWF-Brasil, coordenador do Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa, voltamos para Apuí no final da tarde. Na cidade cumpriremos a última atividade prevista, uma reunião, amanhã à tarde com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentado e Meio Ambiente de Apuí.

Os outros integrantes da Expedição Juruena-Apuí, juntamente com a equipe da VoxTV, desce o rio Sucunduri, desde ontem. A partir de Terra Preta, no limite entre o Parque Estadual do Sucunduri e a Floresta Estadual de Apuí, ambos do Mosaico de Unidades de Conservação de Apuí, a previsão é de 2,5 dias de subida ou 1,5 dias de descida de ‘voadeiras’, barcos de alumínio com motor de popa que leva normalmente de 3 a 6 pessoas, com uma carga relativamente pequena.

Entretanto, desta vez, para dar conta de carregar toda a carga, sobretudo a da equipe da VoxTV, nesta descida vai junto um ‘batelão’, que na linguagem popular amazônica se refere a um barco de madeira, muito mais pesado, mas capaz de levar até umas 20 pessoas ou uma carga pesada. Essa embarcação, na verdade, é adaptada a cargas rurais, como castanhas, produtos agrícolas ou similares.

Além da presença do batelão na flotilha, como a intenção é descer filmando, dois dias e meio podem ser apertados. A saída das embarcações de Terra Preta, trechos de navegação no caminho e falas do apresentador da Vox TV, Dirk Steffens, foram registradas. Mas o foco principal das filmagens ocorreu esta manhã.

Chegamos ontem até a ‘cachoeira’ Fortaleza. Montamos acampamento para eles poderem filmar a travessia da corredeira esta manhã. Dirk Steffens foi conduzido pelos piloteiros e proeiros da expedição na travessia da corredeira com o batelão. David Peters é inglês, mas é o câmera-man da equipe alemã. Tobias Akly é o técnico de som e auxiliar do câmera. Antonio Coenen é a produtora, auxiliada pela brasileira Ângela Rodrigues Alves.

O programa é apresentado por Dirk, que interage com a natureza selvagem há 12 anos. Nesse episódio em gravação na selva amazônica, Dirk contracena com nosso colega Michael Evers, do WWF-Alemanha. Cada um protagoniza uma parte. Michael gravou no Cristalino Jungle Lodge, ao lado do Parque Estadual Cristalino, e Dirk no Mosaico de Apuí. Ambos procuraram chamar a atenção para o recente mega Parque Nacional Juruena.

O mega Parque Nacional Juruena deve ser objeto de parceria entre o WWF (WWF-Brasil, com apoio do WWF-Alemanha), o Ibama e o ICV para agilizar a sua implementação, procurando reforçar o conhecimento científico e tradicional como base de apoio e promover sua implementação de forma participativa.

Aventuras na selva

Por Cláudio C. Maretti
26.06.2006 - Vida errante... Por erro de cálculo, ou melhor estimativa, de uns outros, o tempo não tem costumado ser suficiente, ou o combustível é justo e, ainda por cima, a comunicação não funciona sequer entre as equipes, que agora foram divididas em três: os que estão em Apuí, os de Terra Preta e os da Serra do Sucunduri, ou Serra do Biquíni, como muitos chamam.

Isso sim é uma expedição, onde nada é sabido de antemão. Não, não é uma gincana. É que pelo fato de estarmos atravessando lugares muitas vezes desconhecidos, em condições similares às de uma aventura e de maneiras diferentes de outras situações que já vivemos antes, nada pode ser previsto com exatidão. Eu definiria a situação como ‘navegando pelo desconhecido’.

Mesmo com a vontade de todos de ir o quanto antes a campo, as equipes foram se dividindo aos poucos por conta da limitação de espaço e carga do helicóptero, curiosamente, um dos pontos considerados mais positivos na organização logística da expedição que acabou se revelando o principal gargalo para o avanço de dois dos três grupos.

Ana Cíntia e alguns colegas já estavam em Terra Preta. A segunda equipe, composta principalmente por representantes da Secretaria de Desenvolvimento Sustentado do Estado do Amazonas saiu cedo no dia 24. No dia seguinte pela manhã partiram a equipe da VoxTV, incluindo nosso colega Michael Evers, do WWF-Alemanha, e finalmente, na tarde de hoje iremos Francisco Livino do Ibama e eu, Cláudio C. Maretti, do WWF-Brasil.

No dia 24 à noite, mesmo cansados, Michael, Zig e eu fomos a uma lojinha chamada “Inter.Net”. Para nossa tristeza, o sinal não era bom e, para piorar, o atendente nos explicou que nos períodos da tarde e da noite, havia um problema maior no sistema de transmissão por rádio que só seria resolvido na segunda-feira. Por horas tentei abrir meu programa de e-mails para enviar os relatos e as fotos da expedição sobre o dia. Tentei de tudo: mudar de computador, conectar via telefone, nada funcionava. Finalmente, com muita paciência, depois de eu e Zig inventarmos diferentes maneiras de enviar os dados, Michael conseguiu passar as informações por um sistema particular de e-mails.
Só no dia seguinte fiquei sabendo que, além da lentidão na conexão, o meu sistema de e-mails não abria porque o correio eletrônico do WWF-Brasil estava fora do ar em Brasília e só seria reparado na segunda-feira! Imaginem que ficamos pensando que as dificuldades todas ocorriam por conta da organização da expedição, dos nossos problemas de logística, do nosso cansaço ou das dificuldades de comunicação a partir do campo... E, mesmo cansados, muito cansados, nunca deixamos de enviar mensagens. No final das contas, acabamos falhando nos boletins diários justamente por conta de dificuldades em cidades –Apuí e Brasília! E o pior é que, ao que tudo indica, teremos problemas na logística e nas comunicações no campo nos próximos dias!

Dificuldades na comunicação

As informações que chegavam durante o dia eram desencontradas e sempre por intermédio do piloto do helicóptero, comandante Carlos Hoffmann. Mais tarde, já de noite, Marcos Pinheiro conseguiu, de alguma forma milagrosa, conexão com o telefone celular por satélite e tentamos conversar. Ele em Terra Preta, no meio da floresta, e eu na cidade de Apuí. A situação era cômica, pois a conexão para Apuí só funciona de vez em quando e se usássemos a operadora ‘certa’. Ainda por cima, havia uma certeza: quando se usa esse equipamento, a ligação dura, no máximo, dois minutos. Portanto, em cerca de duas horas e meia, até mais de meia-noite, nos falamos por mais ou menos dez 10 minutos.

De qualquer forma, quando o Marcos desistiu de insistir no picado e parcial diálogo, fui dormir tarde e acordei cedo para passar os recados à turma que viajaria já logo cedo no dia 25.

Serra do Sucunduri

Já no acampamento da SDS-AM, com pesquisadores do Inpa, a situação não era fácil. Esperava-se que pudéssemos conversar com eles pelo celular via satélite, mas não tinham o aparelho. As mensagens enviadas pela maleta de comunicação do Sipam (que já havia nos tirado do enrosco em outra expedição, a do ParNa M. Tumucumaque, pelo rio Jarí, nunca recebiam resposta confirmando recebimento. O equipamento para conexão de Internet via satélite, cuja parte de telefone funciona sensivelmente melhor que o celular por satélite, mas também é muito maior, principalmente por causa da antena, estava com a Ana Cíntia, um pouco depois de Terra Preta. O nosso telefone celular via satélite estava com o Marcos em outro local.

Chegamos então os cinco colegas da equipe da VoxTV, o Michael, o Francisco Livino, do Ibama, e eu, ao acampamento 1 da SDS-AM, distante cerca de 30 minutos de vôo de Apuí. Infelizmente, as condições do local não são as melhores. As instalações estão ao lado de um platô, num dos últimos (mais externos) círculos da estrutura geológica aparente do domo de Apuí, mantido mais acima por resistência da rocha quartizítica ao intemperismo, onde se formam trechos de campos, cerrados e campinaranas. Apesar de ser mais fácil o pouso e parecer mais interessante a investigação no local, era preciso caminhar um pouco para atingir uma situação de mínimo abrigo, sobretudo ao sol.

Vegetação

A vegetação é cerrada no local, dominada por arbustos, e é necessário algum esforço para abertura de clareiras ou espaços. A instalação do acampamento foi feita sobre um lajedo, que provavelmente serve de leito de rio na época das chuvas, com um barracão no qual se apinharam redes, houve até “congestionamento”, com algumas barracas ao redor. Em função da localização do platô, não há água corrente por perto. Em razão das dificuldades com o transporte, por meio do helicóptero, não havia água potável, alimento ou gasolina suficientes. A lavagem da louça, a coleta de água para cozinha, e os banhos são feitos em poças ou veios d’água, no meio das rochas, seqüencialmente mais distantes do acampamento.

Segundo Rômulo Fernandes Batista, responsável pela parte de geoprocessamento da Rede de Conservação do Amazonas (‘Rede’), da Seape-SDS-AM, parece haver uma seqüência de solos [uma catena], partindo da rocha [quartzito], caminhando para a parte baixa [o talvegue], com crescimento da serrapilheira, da quantidade de matéria orgânica, tornando-se um solo mais desenvolvido, embora arenoso, até a beira dos cursos d’água, com gradiente altitudinal, saindo de cerca de 230 m de altitude no topo dos platôs, deste lugar específico até 190 m à beira do rio Sucunduri. Segundo ele, há uma seqüência consistente de formações vegetais também saindo do campo aberto herbáceo (com canela-de-ema), no topo do platô, indo para o campo aberto arbustivo, ou a campina, no primeiro degrau (um platô abaixo), para a mata de encosta no 2º degrau (outro platô mais abaixo), e depois a mata de cipós junto aos cursos d’água.

Terra Preta

Com inúmeras conversas, para lá e para cá, com avanços e recuos, consultas e decisões, em português, inglês, alemão, além de alguns toques em espanhol, conseguimos decidir a programação dos dias seguintes, Caê, Michael e eu, mas com participação de todos, da equipe da VoxTV e dos cientistas.

Decidido. Hoje mesmo começamos a nos transferir do acampamento 1 da SDS-AM para Terra Preta. Os motivos são os seguintes: a equipe da SDS-AM e os cientistas têm programado três pontos de observação e coleta, sendo atualmente no próprio acampamento 1, o próximo em Terra Preta, e a seguir junto ao rio Bararati; os planos são que grande parte da equipe do WWF-Brasil, parceiros e da equipe da VoxTV estejam descendo o rio Sucunduri, em dois ou três dias, a partir de Terra Preta; está prevista reunião de integração entre as equipes; e, claro, porque amanhã é dia de jogo do Brasil x Gana. Já mandamos vir (de Manaus e de Apuí) uma televisão e uma antena parabólica, subindo quase três dias pelo rio Sucunduri para não perdermos as emoções da partida!!

O esquema ficou montado de tal forma que, a partir de hoje sairemos gradativamente para Terra Preta, permitindo aos pesquisadores irem fechando seus trabalhos no acampamento 1 e à equipe da VoxTV ir gravando com um pesquisador de cada vez.

Portanto, hoje ficamos prontos, esperando o helicóptero desde antes das 8h00, mas ele só apareceu por volta de 12h30. Nele vieram Ana Cíntia, Zig e Lúcio, ou seja, boa parte da equipe de comunicação do WWF-Brasil. Fizemos uma reunião rápida, ao pé do helicóptero.

Tanto pelos contatos no pouso do helicóptero no acampamento 1, como pelo relato do Robson, Marcos e demais colegas, soube que uma voadeira naufragou no rio Sucunduri, com o Dante Buzzetti nela. Por sorte não aconteceu nada com ele nem com os equipamentos (câmera fotográfica, gravador de cantos de pássaros etc.), nem mesmo com o piloteiro.

Duas voadeiras procuravam subir o rio Sucunduri, em direção à cachoeira do Monte Cristo. As duas equipes chegaram, mas as confusões continuaram. Uma equipe chegou ainda de dia, e outra chegou à noite. Só que uma levava equipamento para outra, e uma chegou numa praia e outra acabou dormindo na outra, deixando a primeira, mais numerosa, sem boas condições de dormir.

Mesmo com as dificuldades, valeu a pena, dizem eles. Além de uma corredeira linda, sobre um lagedo enorme, o local é conhecido como Praia das Antas. Na noite do dia 25 foram avistadas três antas. Na manhã de hoje, mais uma foi avistada. Todas vêm sobre as pedras e areia comer uma certa plantinha especial do seu agrado.

Conheça a cidade de Apuí

Por Cláudio C. Maretti
25.06.2006 - Foi na cidade de Apuí que se instalou a sede da gestão do Mosaico de Unidades de Conservação de Apuí, sob responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentado do Estado do Amazonas, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Município de Apuí e apoio do WWF-Brasil. Retornaremos para cá no dia 30 para uma reunião com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente e para o encerramento da Expedição Juruena-Apuí.

Apuí é a cidade mais no sudeste do Amazonas. Há basicamente dois tipos de cidades no interior do Amazonas. As mais tradicionais se estabeleceram às margens dos rios principais, representando estágios dos ciclos econômicos regionais, algumas dos primeiros contatos dos portugueses, outras vinculadas às épocas da borracha, várias voltadas à pesca. Certamente os recursos naturais tiveram alguma influência, mas o fator determinante foi o acesso pelos rios - sem desconsiderar que o meio e o espaço também podem ser uma forma de recurso natural. Essas cidades, com freqüência, têm ligação mais importante com os rios, com portos, atividades pesqueiras, etc.

Um outro tipo de cidade é aquele, felizmente ainda muito mais restrito, ligado às estradas. Produto de ciclos ditos 'econômicos' quando já dominava a lógica rodoviária neste país, com destaque para os anos de ditadura e suas mirabolantes teorias e estratégias de ocupação. Eles tinham o lema "integrar (no Brasil) para não entregar (a Amazônia)", quando na verdade abriam estradas, procuravam estabelecer alguma infra-estrutura e oferecer o país e a Amazônia em particular à ocupação, compra ou exploração por potências estrangeiras, direta ou indiretamente. Essas cidades foram tomadas por migrantes, na sua maioria vindos do sul ou do centro-sul do país, trazidos pelos governos ou simples aventureiros, alguns até de vida particular heróica, outros bandidos que mereceriam mas nem sempre tiveram cadeia.

Apuí é uma dessas cidades nascidas a partir das estradas produzidas com a perspectiva integracionista ditatorial. Ela, na verdade, se iniciou como assentamento de reforma agrária, próximo ao rio Juma. Um pequeno comércio se estabelece e cresce, sobretudo potencializado pela rodovia Transamazônica. Esta sim, mesmo com dificuldades de implantação total até hoje, e condições de circulação nas quais não se pode confiar -inclusive atualmente - foi a principal responsável por Apuí existir como cidade. Cidade que hoje deve contar com cerca de 20 mil habitantes. A ocupação 'moderna' se iniciou na década de 1970 e foi emancipada como município em meados da década de 1980.

Sua produção principal é a pecuária. Geralmente o comércio principal se faz com Porto Velho, tanto para compra como para venda. São cerca de 600 Km que podem ser vencidos num dia bem cheio e longo, e no 'verão' (época seca), pois no 'inverno' dependerá muito das chuvas e das condições da estrada, além do próprio veículo utilizado, podendo levar de 2 ou 3 até 6 dias ou até mais.

Atualmente, entretanto, com as funções administrativas aumentando, a relação com Manaus vem ganhando espaço. Há mesmo neste momento mais interesse em 'exportar' o gado para Manaus, de modo a não se misturar com aquelas áreas contaminadas pela brucelose e perder preço. Para Manaus, no entanto, são cerca de 250 Km até Nova Aripuanã, com aproximadamente as mesmas condições ou dificuldades de trajeto. De lá, cerca de três dias de barco até a capital do Amazonas.

Nesta região, ainda que menos que no Pará, Rondônia e outras regiões vizinhas, o conflito é muito presente. Além das levas iniciais de migrantes outros vieram depois com ainda mais ganância e freqüentemente são portadores de conflito, não raro roubando terras. Apropriam-se de terras públicas, federais ou estaduais, expulsam comunidades locais, colonos ou posseiros, pela ameaça ou pela violência física. A resistência pode resultar em perda de pertences, ferimento ou morte.

Normalmente o desmatamento serve a esses objetivos. Há com freqüência um acúmulo de crimes ambientais, ecológicos, fiscais e outros. É a economia do mercado ilegal (ou 'negro') da terra que muitas vezes viabiliza todo o processo degradador, impulsionado pela soja, pelo gado ou outra atividade similar, proporcionado pelos acessos legais ou não, o ciclo de retirada de madeira, desmatamento e ocupação. Esse comércio ilegal é realizado por uma 'banda podre' da sociedade - uma 'banda podre' do empresariado rural, viabilizada por uma 'banda podre' do empresariado, pela parte corrupta dos servidores públicos e, em última análise, pelo consumidor descuidado ou desavisado. Afinal, o gado ou a madeira produzidos ilegal e predatoriamente aqui acabam na mesa ou no assoalho de alguém em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador ou Brasília.

Apuí mostra várias faces: uma mais rural, outra mais urbana; uma mais de 'desbravadores', outra dos que 'se deram melhor'; uma mais arcaica, outra mais "moderna" (só mesmo com aspas!).
Neste EXATO momento os últimos colegas estão sendo levados de helicóptero para a floresta, dentro do Mosaico de Apuí! Tenho que correr senão fico para trás...

Garimpeiros surpresos com criação do parque

Por Ana Cíntia Guazzelli
24.06.2006 - Os moradores da Comunidade da Barra de São Miguel, localizada na confluência dos rios Juruena e Teles Pires, onde inicia o rio Tapajós, demonstraram surpresa com a notícia da criação do Parque Nacional Juruena, revelada durante nossa visita hoje pela manhã àquela localidade. Com uma cópia do Diário Oficial da União, de 23 de dezembro de 2005, em mãos, eles garantiram que antes da assinatura do decreto da criação do parque nacional, o então Superintendente do Incra do Amazonas, João Pedro Gonçalves da Costa, havia criado o Projeto Agroextrativista – PAE São Benedito, através da portaria no. 47.

Conforme a publicação, o assentamento estaria localizado nos municípios de Apuí e Maués, no estado do Amazonas, com área total de 627.822,6154 hectares e atenderia 80 famílias agroextrativistas daquela região. “Então este parque pegou toda a área que a gente já tinha conquistado”, lamentou o presidente da comunidade, Luiz Carlos de Albuquerque Mendes.

Atualmente, 45 famílias moram na Comunidade da Barra de São Miguel. A principal atividade econômica do local é o garimpo de rio. Todos ilegais, eles sabem. “A gente quer trabalhar na legalidade, mas falta informação”, afirmou.

Luiz Carlos nasceu na comunidade. Seu pai, também. Os avós chegaram há aproximadamente 70 anos. Antes, trabalhavam com seringa. Depois, viraram garimpeiros “por força da circunstância e pela falta de melhor opção”, disse Luiz. Hoje, buscam novas alternativas de renda e uma área de floresta para ser explorada.

Por isso, da surpresa e desânimo com a criação do parque nacional. Eles sabem que nesta categoria de unidade de conservação não é permitida a presença de moradores, nem a exploração dos recursos naturais. “Então, como a gente vai ficar? Não vamos mais poder fazer nada”, disse Simar do Rosário Correa, morador.

No dia 30 de junho, uma comissão de moradores da comunidade deve ir até Apuí, quando acontecerá uma reunião de alguns integrantes da Expedição Juruena-Apuí com o poder público local. Na mesma ocasião, eles pretendem conversar com o Secretário Municipal do Meio Ambiente de Apuí, Domingos Serra, sobre a situação.

Deslocamentos

Hoje foi dia de deslocamentos e hoje também que iniciamos a terceira fase da expedição: a do rio Sucunduri, no Mosaico do Apuí.

Pela manhã, eu, o Marcos Pinheiro e o Lúcio, cinegrafista, viajamos seis horas de voadeira para conversarmos com os garimpeiros da Barra. Na volta, fomos resgatados pelo helicóptero do Ibama, que já tinha deslocado toda a equipe que estava no rio Juruena, no Mato Grosso, até o rio Sucunduri, no Amazonas.

Zig Koch e Robson Maia, fotógrafo e cinegrafista, já estão conosco novamente. Eles se deslocaram de avião até a pousada Jurumé, no rio Juruena e de helicóptero o restante do trajeto até o rio Sucunduri. Eles estavam com Cláudio Maretti e Francisco Livino, do Ibama, acompanhando a Vox TV, da Alemanha. Zig não nos acompanhou até a comunidade. Por isso e infelizmente, não temos muitas fotos do local. A Marisete Catapan, do Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa do WWF-Brasil, se integrou à equipe.

Hoje deixamos a bacia do rio Tapajós e entramos na bacia do rio Madeira. Do alto, é nítida a visão de uma serra que cruzamos. Ela, segundo Marcos Pinheiro, pode ser uma barreira geográfica natural para algumas espécies. Isso significa que “esperamos aqui no rio Sucunduri encontrar animais e plantas diferentes das até agora encontrados pelos pesquisadores da expedição”, garantiu.

Todos em Apuí: mudança de planos

Por Cláudio C. Maretti

24.06.2006 - Ontem visitamos a aldeia Cururuzinho, dos kayabis, que fica situada à margem direita do rio Teles Pires, e portanto no Pará, na fronteira com Mato Grosso, mas dentro da Terra Indígena Kayabi, com 1.053 mil hectares. Depois da visita a essa aldeia, voamos para Apuí.

A vinda de todos a Apuí não estava nos nossos planos, mas foi necessário para conseguirmos reorganizar a logística da expedição. A idéia inicial era que Francisco Livino, representante da Coordenação do Bioma Amazônia, no Ibama, Zig Koch, fotógrafo da expedição, Robson Maia, cinegrafista da expedição, e Wolfgang Kunath, jornalista ‘free-lancer’ alemão, e eu, Cláudio C. Maretti, coordenador do Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa do WWF-Brasil, nos encontrássemos a equipe da VoxTV, da Alemanha, e Michael Evers, coordenador do Programa de Florestas do WWF-Alemanha, na aldeia Cururuzinho. Isso de fato ocorreu, mas com quatro horas de atraso. Por causa desse atraso, não pudemos voar para Jurumé e tivemos que reorganizar nossos planos. Como a logística desta expedição é muito complicada, sobretudo porque somos na verdade multi-expedições em uma, é muito comum que tenhamos que nos adaptar a condições novas a cada momento.

Eram 8h30 quando chegamos à pista de pouso em Jurumé, onde moram alguns índios apiakás que nos receberam para assistir o jogo Brasil x Japão. Francisco, Zig, Robson, Wolfgang e eu ficamos esperando lá até cerca de meio dia pelo sinal do avião que viria nos buscar. Para sabermos que era o nosso monomotor, ele deveria dar voltas sobre nosso acampamento. É comum que aviões desse porte pousem nas pistas, por isso combinamos a identificação. Enquanto estávamos esperando, um outro avião pousou e decolou da mesma pista. Mais tarde ficamos sabendo o motivo do atraso. Para fazer imagens aéreas, a equipe da VoxTV pediu para sobrevoar a região do Cristalino Jungle Lodge, o Parque Estadual Cristalino e as reservas particulares de proteção da natureza (RPPNs) ao redor. Isso foi muito bom porque para nós é importante divulgar as unidades de conservação e sua importância, mas isso atrasou todo o dia.

Eles nos contaram que a estadia de alguns dias no Cristalino Jungle Lodge foi muito produtiva. Conseguiram filmar a floresta, os rios e vários animais, entre eles anta Tapirus terrestris, alguns macacos – como bugio-vermelho Alouatta seniculus, macaco-aranha-de-cara-branca Ateles belzebuth, Cuxiú-de-nariz-branco Chiropotes albinasus –, bicho-preguiça Bradypus variegatus, jacarés, além de muitas aves, como maracanã-guaçu Ara severa, arara-piranga-vermelha-pequena Ara macao, arara vermelha grande Ara chloroptera e três das cinco espécies de martins-pescadores, inclusive o martim-pescador-pequeno Chloroceryle americana.

Mudança de planos

Ao sairmos do acampamento Jurumé, por volta de meio dia, seguimos de avião para a aldeia Cururuzinho, onde conversamos um pouco e visitamos a aldeia no início da tarde. Por volta das 15h20, dei o alerta geral de que deveríamos partir ou ficaríamos sem condições de vôo com o pequeno monomotor pousando pelas pistas sem infra-estrutura, apenas de chão batido. Infelizmente, ainda tínhamos que filmar a saída da aldeia, caminhadas, despedidas, subida no barco e saída rio acima para a outra pista de pouso. Com isso, chegamos na pista às 16h15. O horário limite para voltarmos para Jurumé era 15h30. Para irmos direto para Apuí, já estávamos quinze minutos depois do horário limite. Com alguma relutância, resolvemos sair mesmo assim, mas diretamente para Apuí, sem poder tardar mais nada. Chegamos à pista de pouso de Apuí com o sol baixando o horizonte.

Com isso, Robson e Zig vieram conosco, quando deveriam ter ficado em Jurumé. O mesmo ocorreu com Michael, que tinha já enviado suas bagagens para Jurumé com Marisete Catapan, da equipe do Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao Arpa do WWF-Brasil.

Outra dificuldade foi cabermos no único hotel da cidade com condições para nos receber. Além dos mal-entendidos, pelo uso do ‘telefone-sem-fio’ necessário para passar mensagens nesses lugares ermos, com reservas de quartos a menos, chegamos com pessoas a mais. No final, depois de muita gentileza e compreensão de todas as partes, conseguimos acomodar todos. Claro que com muitos de nós estamos dividindo quartos com três pessoas, colocando colchões no chão, tanto brasileiros quanto europeus.

Zig e Robson retornaram hoje pela manhã bem cedo para Jurumé, e a partir daí, junto com Marcos R. Pinheiro, Gustavo Irgang e companhia, seguirão para Terra Preta, ao longo do rio Sucunduri, no Parque Estadual Sucunduri, no Mosaico de Unidades de Conservação de Apuí, do Amazonas.

Equipe alemã

Claro que a equipe da VoxTV queria seguir ainda hoje, principalmente porque o apresentador, Dirk, chegou nesta manhã. No entanto, até ontem, a equipe da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS-AM), com participação de pesquisadores do Inpa e da Ufam, ainda estava sendo transportada para os acampamentos no Parque Estadual Sucunduri. O coordenador da SDS-AM só partir esta manhã. E, durante todo o dia, suponho que o helicóptero tenha transferido os colegas das margens do rio Juruena, no Parque Nacional, Juruena, para as margens do rio Sucunduri, no Mosaico de Unidades de Conservação de Apuí.

Amanhã, logo cedo, a equipe da VoxTV deve partir para o rio Sucunduri. Michael, do WWF-Alemanha, deve ir com eles. Talvez sejam necessárias apenas duas viagens de helicóptero entre Apuí e Terra Preta para levar toda a equipe e a carga indispensável. Algumas coisas terão de ser deixadas em Apuí por causa do excesso de bagagem. Para o final ficaremos Francisco e eu, aguardando a oportunidade de conseguir ir ainda amanhã para o campo novamente.

Preciso fazer uma pausa neste relato para agradecer a todos, mais uma vez, e em nome do Marcos R. Pinheiro, coordenador geral desta multi-expedição, e dos vários coordenadores de grupos menores e específicos pela compreensão das dificuldades logísticas desta multi-expedição por lugares tão difíceis, porém tão importantes!

De olho na Copa

No final, por um lado foi vantagem para os colegas alemães ficarem em Apuí, pois conseguiram assistir à partida entre Alemanha e Suécia e ficaram muito felizes com o resultado. Parece que agora os alemães estão cada vez mais confiantes com a sua seleção! Problemas para nós no futuro? Afinal, quem conhece os bastidores do futebol, sabe... (infelizmente). Pois eles jogam em casa. Entretanto, parece que terão que enfrentar a Argentina pela frente. Bom para quem?

Enquanto os brasileiros da equipe assistem aos jogos na floresta, à beira do rio Juruena, ou em moradia dos índios apiacás, os alemães, por sua vez, assistem nas cidades da região. Há também um inglês, cinegrafista, na equipe. O que acham?

 
 

Fonte: WWF-Brasil (www.wwf.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 
 
 

 

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