Belém, 27 de junho
de 2006 — O Pará vai saber com clareza
quais são as espécies da fauna
e flora que se encontram ameaçadas
de extinção em seu território.
Nos dias 28 e 29 de junho, mais de 50 especialistas
se reúnem em Belém, no Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG), instituição
de pesquisa vinculada ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, para debater
e elaborar uma lista de animais e plantas
considerados ameaçados de extinção
no estado, que passa a ser o primeiro da Amazônia
Brasileira a ter sua lista vermelha.
Durante o workshop, especialistas
de diversas instituições regionais
e nacionais avaliam a relação
de espécies quanto ao nível
de ameaça no estado do Pará.
Os pesquisadores convidados ao evento terão
como documento-base para análise a
Lista de Espécies Candidatas formulada
por uma equipe de cientistas do MPEG, Conservação
Internacional (CI–Brasil), Instituto Butantã
e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A Lista de Espécies
Candidatas é um primeiro esforço
para formulação da Lista Vermelha
e relaciona 675 espécies de plantas
e animais encontradas no Pará e que
possivelmente se encontram sob algum tipo
de risco. As espécies avaliadas preliminarmente
estão distribuídas nos seguintes
grupos biológicos: Aves, Répteis
e Anfíbios, Mamíferos, Invertebrados,
Peixes e Plantas Superiores.
Os formuladores da primeira
lista de espécies ameaçadas
da Amazônia enquadraram as espécies
da fauna e flora nas diversas categorias de
ameaças de acordo com a União
Internacional para a Conservação
da Natureza (IUCN), organização
mundial que estabelece diretrizes e critérios
para a elaboração das listas
de espécies ameaçadas.
Elaborar uma lista vermelha
não é um trabalho simples e
exige o envolvimento de profissionais capacitados
na classificação de plantas
e animais, com domínio sobre distribuição,
número de espécies e comportamento.
São especialistas em sistemática,
taxonomia e ecologia. No caso do Pará,
a maioria dos coordenadores dos grupos também
são curadores de coleções
biológicas. O processo de identificação
das espécies candidatas consumiu dois
anos de trabalho dos pesquisadores, que checaram
dados bibliográficos e coleções
biológicas para alcançar um
resultado final que tinha como meta ser o
mais inclusivo possível.
Projeto Biota Pará
- A formulação da Lista é
um dos resultados do Projeto Biota Pará,
uma parceria do MPEG com a CI-Brasil. De 2003
a 2005, as duas instituições
se debruçaram sobre o Centro de Endemismo
Belém, o setor mais desmatado da Amazônia.
A parceria do estudo foi complementada com
a adesão da Secretaria Executiva de
Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
do Pará (Sectam), que garante ao trabalho
técnico de formulação
da Lista a transformação desta
em política pública. O Conselho
Estadual de Meio Ambiente já formou
uma Câmara Técnica para acompanhar
a formulação da Lista Vermelha.
Com apoio da equipe da assessoria de informática
da Sectam, o Biota Pará disponibiliza
na internet, desde abril de 2005, a Lista
preliminar para consulta e participação
pública.
Veja o site http://www.sectam.pa.gov.br/especiesameacadas
Entre as mais de seiscentas espécies
que serão avaliadas pelos pesquisadores
durante o Workshop, algumas estão claramente
sob grande risco. É o caso da arara
azul grande (Anodorhyncus hyacinthinus), que
já consta da Lista da Fauna Brasileira
Ameaçada de Extinção
e que no Pará ainda é pouco
estudada, e o pássaro dançador
de coroa dourada (Lepidothrix vilasboasi),
exclusivo do território paraense, cuja
ocorrência é restrita à
região da BR-163 (rodovia Santarém-Cuiabá).
“Além de ser endêmica do Pará,
esta espécie ocorre numa área
de forte impacto, um dos eixos de desenvolvimento
do Estado”, avalia o coordenador do projeto
Biota Pará, o biólogo Alexandre
Aleixo, pesquisador do Museu Goeldi. Entre
as espécies vegetais mais ameaçadas,
está o mogno, produto valorizado pela
indústria madeireira.
Áreas críticas
para conservação - O Pará
será o sétimo Estado brasileiro
a ter sua Lista de Espécies Ameaçadas,
com a indicação mais precisa
de como anda a perda da diversidade biológica.
“Ao trazer a distribuição das
espécies ameaçadas, a lista
oficial nos permitirá determinar as
chamadas áreas críticas para
a biodiversidade, que são aquelas com
alta concentração de espécies
ameaçadas de extinção.
E estas áreas devem ser incorporadas
no plano de Zoneamento Ecológico Econômico
do estado, possivelmente como zonas de conservação”,
explica José Maria Cardoso da Silva
Vice-presidente de Ciências da CI–Brasil.
Enrico Bernard, coordenador
do programa Amazônia da CI-Brasil, complementa
que a lista paraense se diferencia das demais
em função do refinamento na
estimativa da distribuição da
espécie associado aos mapas de alteração
das áreas. O processo de sistematização
das informações exemplifica
a importância da organização
e manutenção de coleções
biológicas (como as do MPEG), elemento
básico de informação
para os pesquisadores.
“Não é só
a espécie que deve ser preservada,
mas o ambiente onde ela vive”, lembra Aleixo,
ressaltando que na opinião dele e dos
dirigentes das instituições
envolvidas, o trabalho não se encerra
com a formulação da Lista de
Espécies Ameaçadas. No mesmo
convênio em que as três instituições
firmaram parceria para a formulação
da Lista, também foi acordado a organização
de um Núcleo para monitoramento sistemático
das espécies (também sob a coordenação
do Museu Goeldi) e a convocação
da sociedade para participar do processo de
consolidação da Lista.
Se na lista de espécies
avaliadas a meta dos pesquisadores era ser
o mais inclusivo possível, o esforço
dos organizadores do Woorkshop foi o de ampliar
o círculo de especialistas que participam
do estudo , objetivando alcançar um
resultado final consistente: uma lista com
informações científicas
que subsidiam o Estado do Pará no trabalho
de zoneamento ambiental, no uso dos recursos
e no planejamento territorial.
Além do Museu Goeldi
e Conservação Internacional,
participam do workshop especialistas do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),
Universidade Federal do Pará (UFPA),
Universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA), Universidade de São Paulo (USP),
Instituto Butantã, Universidade de
Brasília (UNB), Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (Ipam), IBAMA,
Centro de Estudos Superiores do Pará
(Cesupa), Embrapa Amazônia Oriental,
Museu de Zoologia da USP, Jardim Botânico
do Rio de Janeiro, Imazon, SECTAM, CPATU -
EMBRAPA e Associação das Indústrias
Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará
– Aimex.
Grupos estudados
na Lista Preliminar
Os grupos biológicos
escolhidos para ancorar o trabalho de avaliação
e monitoramento das espécies e seus
respectivos coordenadores:
Anfíbios e Repteis:
Ana Lúcia da Costa Prudente (MPEG),
Marinus Hoogmoed (MPEG), Teresa Ávila-Pires
(MPEG) e Ulisses Galatti (MPEG)
Invertebrados: Alexandre Bonaldo (MPEG), Willian
Overal (MPEG) e Antônio Brescovit (Instituto
Butantã)
Aves: Alexandre Aleixo (MPEG)
Flora: Dario Dantas do Amaral (MPEG)
Mamíferos: José de Sousa e Silva
Júnior, Suely Aparecida Marques Aguiar
(MPEG), Enrico Bernard (CI-Brasil) e Luiz
Nélio Saldanha (Ibama)
Peixes: Wolmar Benjamin Wosiacki (MPEG)