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de Julho de 2006 - 16h25 - Adriana Brendler
- Rio - Entidades ambientalistas de Nova Iguaçu
(RJ), na Baixada Fluminense, encaminham amanhã
(5) à Organização dos
Estados Americanos (OEA), pedido para que
acompanhe o caso do assassinato do ambientalista
Dionísio Júlio Ribeiro, ocorrido
em fevereiro do ano passado. Dionísio
era defensor da Reserva Biológica do
Tinguá, a maior área de Mata
Atlântica no estado do Rio de Janeiro,
considerada Patrimônio da Humanidade
pela Unesco. O ambientalista combatia ações
ilegais na reserva, como o extrativismo e
a caça predatória.
Hoje (4) os ambientalistas
realizaram, em frente ao Fórum de Nova
Iguaçu, um protesto pela absolvição,
por falta de provas, o acusado pelo crime,
Leonardo de Carvalho Marques. Ele já
havia assumido a culpa pelo assassinato do
ativista quando foi preso no ano passado.
Para Sérgio Ricardo,
coordenador da entidade Defensores Ambientais
do Gericinó-Mendanha-Tinguá,
as autoridades brasileiras não priorizaram
o caso, que foi tratado em meio a outros crimes
comuns em uma delegacia sem condições
de realizar as investigações
necessárias. "Nós queremos
que os observadores internacionais acompanhem
esse caso porque se trata de um assassinato
brutal, um crime contra os direitos humanos",
afirmou. "Nós temos que dar um
basta na impunidade porque isso intimida a
cidadania. Cada assassino de ecologista que
é solto intimida a luta ambiental",
completou.
Durante o ato realizado
na manhã de hoje, os ambientalistas
também apontaram a precariedade da
infra-estrutura e de recursos humanos para
o combate aos crimes ambientais na Reserva
Biológica do Tinguá. Segundo
Sérgio Ricardo, a reserva está
vulnerável e os investimentos prometidos
pelas autoridades na ocasião da morte
do ativista não aconteceram.
Além do pedido enviado
à OEA, os ambientalistas de Nova Iguaçu
também encaminharão um documento
ao Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro e ao Ministério Público
Federal no qual solicitam a reabertura das
investigações sobre o crime
e sugerem que as autoridades exijam, do Ministério
do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), mais investimentos na reserva do
Tinguá.
Em entrevista à Agência
Brasil, o superintendente do Ibama no Rio
de Janeiro, Rogério Rocco, informou
que de um ano e meio para cá várias
novas ações estão sendo
implementadas na Reserva Biológica
do Tinguá. "Não é
verdade que não há investimentos
do governo federal", disse.
Ele mencionou a apreensão
de mais de uma tonelada de palmito extraído
da reserva, a autuação e interdição
de areais no entorno da unidade de conservação,
a demolição de casas construídas
irregularmente na área e a implantação
de um sistema de rádio que possibilita
a comunicação entre a sede da
reserva e as viaturas que atuam na área.
Rocco admitiu que não
foi possível aumentar o número
de profissionais no local, mas afirmou que
agentes de outras unidades de conservação
e da sede do Ibama no Rio estão reforçando
ações de controle e fiscalização
na reserva.
O superintendente do órgão
ambiental lembrou ainda uma série de
parcerias com as prefeituras dos municípios
do entorno da reserva e com empresas, que
estão sendo desenvolvidas para capacitar
às comunidades vizinhas em projetos
de manejo florestal.
Para o superintendente,
os recursos existentes ainda não são
os ideais, e as ações que ameaçam
todas as unidades de conservação,
realmente ocorrem, principalmente considerando
a localização da reserva do
Tinguá, que está em uma região
com grande potencial de violência como
a Baixada Fluminense. "A situação
não é a adequada, precisamos
de reforço, mas a necessidade não
parte do zero. Nós temos uma estrutura
e hoje ela já está bem melhor",
avaliou.
A Reserva Biológica
do Tinguá tem 26 mil hectares e abrange
cinco municípios. Além de única
da região na preservação
da Mata Atlântica, é um manancial
de abastecimento complementar ao sistema do
rio Guandu, responsável pela água
fornecida para toda a região metropolitana
do Rio de Janeiro.