03/07/2006
- Pesquisadores de diversas instituições
nacionais finalizaram a primeira lista de
espécies de plantas e animais ameaçadas
de extinção no estado do Pará.
Entre as mais de 700 espécies que foram
avaliadas, 176 estão ameaçadas
de extinção, sendo que onze
foram consideradas criticamente em perigo,
40 em perigo e 125 vulneráveis.
As espécies consideradas
ameaçadas podem ser classificadas em
três categorias decrescentes de ameaça:
criticamente em perigo, em perigo, e vulneráveis.
Estas categorias seguem as determinações
da União Internacional para a Conservação
da Natureza (IUCN, sigla em inglês),
organização mundial que estabelece
as diretrizes e critérios para a elaboração
das listas de espécies ameaçadas.
O Pará é o
sétimo estado brasileiro a elaborar
a sua Lista de Espécies Ameaçadas
e o primeiro da Amazônia a refinar,
de forma precisa, o grau de risco dessas espécies.
A formulação desta lista é
um dos resultados do Projeto Biota Pará,
uma parceria do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG), vinculado ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, com a organização
ambientalista Conservação Internacional
(CI-Brasil). O trabalho das duas instituições
vem sendo desenvolvido desde 2003, onde começaram
com estudos no Centro de Endemismo Belém,
o setor mais desmatado da região amazônica.
A ecóloga Ima Vieira,
direitora do Museu Goeldi, instituição
que coordenará o Núcleo de Monitoramento
responsável pela atualização
permanente da Lista Vermelha, um trabalho
de assessoria ao governo do Pará, assinala
que o resultado obtido demonstra a importância
para o País da pesquisa sobre biodiversidade
e a organização e manutenção
das coleções biológicas.
Ima avalia que a participação
do MPEG na formulação de políticas
públicas neste momento equivale a dois
episódios históricos anteriores
– quando o Museu foi decisivo na disputa pela
anexação do Amapá ao
território brasileiro, e na atuação
pela demarcação de terras indígenas
na Amazônia.
"Este trabalho não
seria possível se não contássemos
com equipes qualificadas, buscando dados novos
sobre as espécies no campo e contribuindo
na organização de acervos dinâmicos.
Esse esforço cria um novo paradigma
onde informações biológicas
acondicionadas de forma a preservar dados
históricos e ecológicos, ao
longo dos 140 anos de história institucional,
continuam tendo uma importância para
o cotidiano e a sociedade. Esta é uma
política institucional de uso de dados
em aproximação com os problemas
atuais da Amazônia, que resulta, cada
vez mais, em impactos positivos para o desenvolvimento
da região", explica Ima.
José Maria Cardoso
da Silva, vice-presidente de ciência
da Conservação Internacional
(CI-Brasil), ressaltou o processo para a definição
das espécies da lista, "considero
como um modelo para o Brasil, pois envolveu
análises rigorosas da distribuição
das espécies ameaçadas, uma
estimativa da perda de habitat para cada espécie,
um processo amplo de consulta com toda a sociedade
e uma articulação institucional
muito forte. Para isso a liderança
institucional do Goeldi foi fundamental".
Ele disse, ainda, que a importância
dos dados sobre as espécies é
fundamental para se definir políticas
públicas coerentes para a conservação
da biodiversidade do Brasil.
O coordenador da Lista Vermelha,
Alexandre Aleixo, do MPEG, enfatiza a importância
da parceria de outras instituições
como a dos pesquisadores envolvidos nas análises,
e da Secretaria Executiva de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente do Pará
(Sectam), garantindo o trabalho técnico
de formulação da lista em política
pública ao oficializá-la.
As espécies avaliadas
estão distribuídas nos seguintes
grupos biológicos: aves, répteis
e anfíbios, mamíferos, invertebrados,
peixes e plantas superiores.
O resultado por
grupo
Mamíferos
- Das 91 espécies avaliadas, quinze
estão ameaçadas de extinção,
sendo que três criticamente em perigo
– Cebus kaapori (macaco cairara), Trichechus
manatus (peixe-boi marinho) e o Chiropotes
satanas (cuxiú-preto). Outras duas
espécies são consideradas em
perigo e dez vulneráveis. Os pesquisadores
destacam como um dos principais fatores de
ameaça para as espécies de mamíferos
terrestres a perda de habitats, principalmente
as florestas intactas. Enrico Bernard, gerente
do Programa Amazônia da CI-Brasil, alerta
ainda, para o cuidado que devemos ter com
o efeito cascata, quando o desaparecimento
de uma espécie pode levar a perda de
outras.
Aves -
Das 198 espécies avaliadas, 28 foram
estão ameaçadas de extinção.
Destas 28, uma espécie de bicudo (Spororophila
maximiliani) foi considerado criticamente
em perigo popularmente. Dez espécies
foram classificadas como em perigo e dezessete
como vulneráveis. "Este bicudo
ocorre numa área de forte impacto,
em um dos eixos de desenvolvimento do Estado,
e é uma espécie muito visada
pelo comércio ilegal de aves",
explica o biólogo Alexandre Aleixo,
coordenador do projeto Biota Pará e
pesquisador do Museu Goeldi.
Plantas
- Das 151 espécies vegetais avaliadas,
os cientistas concluíram que 53 estão
ameaçadas de extinção.
Entre elas, duas estão criticamente
em perigo, dez em perigo e 41 vulneráveis.
Entre as espécies vegetais mais ameaçadas,
estão uma bromélia (Aechmea
eurycorymbus) e uma asterácea (Monogereion
carajaensis), ambas raras e de distribuição
muito restrita. Importantes espécies
com valor comercial como o Cedro, em perigo,
ou a Castanheira e o Mogno, ambas vulneráveis,
também constam da lista. Existem ainda
58 espécies que por apresentarem deficiências
de informação, não puderam
ser devidamente classificadas pelos pesquisadores.
Assim como a perda de habitats, a falta de
informações também é
extremamente prejudicial para a conservação
das espécies.
Invertebrados
- Nesta categoria estão incluídos
alguns dos grupos mais diversificados do planeta,
como os insetos. Isto representa um problema,
pois além do grande número de
espécies, há uma enorme carência
de pesquisadores que estudem todos eles. Desta
forma, o grupo de trabalho analisou apenas
uma parcela de espécies, incluindo
189 aranhas (69 ameaçadas, 2 em perigo
e 9 vulneráveis), 41 borboletas (10
em perigo e 4 vulneráveis), 5 moluscos
(2 em perigo e 1 vulnerável), um besouro
e dois crustáceos, todos vulneráveis.
Peixes
- 29 espécies estão ameaçadas
de extinção, sendo 7 criticamente
em perigo. Entre as espécies ameaçadas
estão raias, cações,
o Isogomphodon oxyrthynchu (Cação-Quati/
Bico de pato) e peixes de água doce
de distribuição restrita. As
principais ameaças sobre os peixes
são a pesca excessiva ou acidental,
a captura de espécies para a venda
e criação em aquários
e a construção de grandes barragens,
como a de Tucuruí, no rio Tocantins.
Anfíbios
e répteis - Os pesquisadores
avaliaram 75 espécies e 16 são
consideradas ameaçadas (3 em perigo
e 13 vulneráveis). Assim como ocorreu
para as plantas, a maior parte das espécies
não pôde ser precisamente classificada
em função da falta de informações
básicas sobre sua distribuição,
biologia e tamanho populacional.
(Com informações de Milena del
Rio do Valle/ CI-Brasil)
Assessoria de Comunicação Social
do Museu Goeldi