9
de Julho de 2006 - Brasília - O início
da seca na região centro-sul do Brasil
deixa em alerta pesquisadores, institutos
de climatologia e organizações
ambientalistas. A possibilidade de um novo
período de estiagem ainda é
pouco cogitada, mas já são feitos
monitoramentos em várias áreas.
Com a diminuição
das chuvas, uma das preocupações
do Sistema de Proteção da Amazônia
(Sipam) envolve as áreas de cultivo
agrícola que atendem estados como o
de Rondônia. Além disso, o aumento
no número de queimadas, no período
de seca, eleva o risco de incêndios
que podem destruir parte da floresta.
De acordo com o chefe da
Divisão de Meteorologia e Climatologia
do Sipam de Manaus, Ricardo Dalla Rosa, a
média de chuva nesse período
é de 50 milímetros por dia.
Caso esse nível fique abaixo de 20
milímetros, haverá uma situação
de risco maior. “Isso é de certa forma
preocupante porque agora vem o período
de chuvas pouco abundantes. E a tendência
é que aconteçam chuvas abaixo
do normal nesse mês e talvez em agosto,
em Rondônia, Acre e sul do Amazonas”,
afirma.
Segundo ele, fenômenos
como o aumento nas temperaturas dos oceanos
podem diminuir o nível de precipitações.
Dalla Rosa explica que os oceanos são
importantes para climatologia, já que
modulam a quantidade de chuvas nas regiões.
O oceano atlântico tropical, na região
do Golfo, apresentou anomalias de dois graus
centígrados acima do normal (25º
C).
Nessas áreas acontece
a convecção, movimentos de formação
de nuvens que, conseqüentemente, ocasionam
as chuvas. “Como a atmosfera é um meio
continuo, em algum lugar esse ar que está
subindo deve descer. Mas quando o ar frio
desce inibe a formação de nuvens.
E é isso que está acontecendo
aqui, o ramo descendente dessa convecção
é sobre o sul da Amazônia. Aí,
nos temos chuvas abaixo do normal”, esclarece.
No entanto, fatores como
aquecimento global, desmatamento e aumento
na intensidade do efeito estufa também
podem provocar estiagem de chuvas. Para o
coordenador da campanha de Clima do Greenpeace,
Carlos Rittl, a derrubada de parte da floresta
Amazônica tem grande efeito para o deseqüilíbrio
do clima.
De acordo com ele, metade
das chuvas na região depende das florestas.
Com o desmatamento, a região produz
pouca umidade necessária para que aconteçam
precipitações. Em outubro do
ano passado, a região amazônica
viveu a maior seca dos últimos 50 anos.
As populações ribeirinhas foram
as que mais sofreram com a estiagem.
Com a baixa no nível
dos rios, essas comunidades ficaram isoladas
e sem acesso à saúde, escola,
alimentação e água potável
para o consumo. No dia 10 de outubro o governo
estadual decretou estado de calamidade pública
em 61 municípios amazonenses. O governo
federal liberou R$ 30 milhões, 50 mil
cestas básicas, 130 kits de medicamentos
e 18 toneladas de hipoclorito de sódio,
substância para tornar a água
potável. A seca chegou a atingir também
outros o Acre, Rondônia e Pará.
Monique Maia