Salvador
(21/07/06) – Entre julho e novembro, as baleias
jubartes (Megaptera novaeangliae) atraem a
atenção na costa baiana. Nesse
período, o litoral da Bahia, mais precisamente
Caravelas, no extremo sul, e Praia do Forte,
no norte, são áreas onde as
jubartes acasalam e amamentam os filhotes.
Com isso, já começou o monitoramento
por meio do Projeto Baleia Jubarte, que deu
origem ao Instituto Baleia Jubarte (IBJ),
responsável pela proteção
da espécie no Brasil há 17 anos.
O projeto, que conta com o patrocínio
da Petrobrás, possui bases de pesquisa
nos dois locais, Caravelas e Praia do Forte.
A bióloga Márcia
Engel, diretora do Instituto Baleia Jubarte
- ONG responsável pela administração
do Projeto - revela que, segundo levantamento
realizado ano passado, uma população
de cerca de seis mil baleias migram todos
os anos para o litoral brasileiro, do Rio
Grande do Norte a São Paulo, para reprodução.
O local preferido para reproduzir e amamentar
os filhotes é o Banco dos Abrolhos,
no sul da Bahia.
Em 2005, os pesquisadores
avistaram 1000 animais, sendo 119 filhotes.
Foram realizadas 463 fotoidentificações
na costa baiana. A fotoidentificação
é feita por meio de desenhos na cauda
das jubarte e representa a principal ferramenta
de pesquisa da espécie. “As fotos servem
como carteira de identidade das baleias, pois
os desenhos, tal qual impressões digitais,
nunca se repetem de um indivíduo para
o outro”, explica a bióloga. O catálogo
do Instituto Baleia Jubarte é um dos
maiores do Hemisfério Sul, com cerca
de 2.000 baleias identificadas.
Durante a temporada de 2006,
a equipe do Instituto Baleia Jubarte, além
de realizar atividades de pesquisa e monitoramento
do litoral baiano, intensificará ações
itinerantes de Educação Ambiental
em comunidades costeiras, no norte e no extremo
sul do Estado. Segundo o coordenador regional
do IBJ no litoral norte, Enrico Marcovaldi,
as ações ambientais envolverão
estudantes, pescadores e turistas dessas regiões,
“ampliando o alcance da mensagem de conservação
e ajudando a melhorar a relação
das comunidades com o meio ambiente”.
O IBJ também realiza
atividades de monitoramento do turismo de
observação de baleias, registro
e resgate de animais encalhados nas praias
do litoral da Bahia, censo aéreo, análises
genéticas e de poluentes, estudos de
comportamento e do canto das baleias, estimativas
populacionais e da distribuição
das baleias jubarte, e estudos sobre a ecologia
dos botos cinza (Sotalia guianensis) e sua
interação com barcaças
que transportam celulose no extremo sul do
litoral da Bahia.
Além do patrocinador
oficial, a Petrobrás, os pesquisadores
do IBJ recebem o apoio das seguintes instituições:
Ibama, Avina, Fundação Garcia
D’Ávila, Conservation International,
e IFAW (International Fund for Animal Welfare).
Caça indiscriminada
- Conhecidas pelo temperamento dócil,
as baleias jubarte eram alvos fáceis
da caça indiscriminada. Na época
da pesca artesanal, milhares de baleias foram
mortas no litoral da Bahia. Na “armação”
– nome dado às instalações
onde as baleias eram esquartejadas - eram
retiradas a gordura e a carne. Da gordura
se extraía o óleo, que era usado
para iluminação de cidades brasileiras
e da Europa, e também matéria-prima
para a argamassa, utilizada nas construções
das cidades.
Antes da caça, a
população mundial de baleias
jubarte totalizava cerca de 300 mil. Atualmente
restam aproximadamente 35 mil indivíduos.
Em 1966, a Comissão Internacional da
Baleia (CIB) proibiu a caça de baleias
jubarte e, em 1986, passou a vigorar uma moratória
mundial da caça comercial de baleias.
Hoje, apenas Japão, Noruega e a Islândia
violam a proibição.
Segundo a diretora geral
do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) Márcia
Engel, que participa a oito anos das reuniões
da CIB, em 2006 a luta pela manutenção
da moratória ficou mais difícil,
graças aos esforços do Japão,
que tem buscado como aliados países
em desenvolvimento, oferecendo em troca grandes
investimentos na pesca. Apesar disso, Enrico
Marcovaldi, coordenador regional do IBJ na
base de Praia do Forte, nos últimos
cinco anos o número de avistagens da
espécie aumentou. “Isso mostra a recuperação
do local, como conseqüência da
proibição da caça e do
sucesso dos trabalhos de conservação
do Instituto Baleia Jubarte”, pontua.
O Brasil aderiu à
medida proibitiva em 1986 e, desde 1987, há
uma lei federal que proíbe a caça
de baleias em território nacional.
Atualmente o País se destaca como um
dos mais importantes defensores das baleias
no cenário internacional. Apesar disso,
a baleia jubarte consta na lista do Ibama
de espécies da fauna brasileira ameaçadas
de extinção e do apêndice
I da Convenção sobre o Comércio
Internacional de Espécies Ameaçadas
da Flora e Fauna Selvagens (Cites), além
de constar na categoria vulnerável
da World Conservation Union (IUCN).
Tatiana Leal
Instituto Baleia Jubarte (IBJ)