24-07-2006
- São Paulo - Após intensa campanha
do Greenpeace, a indústria de grãos
anunciou hoje, no Brasil, uma moratória
de dois anos para a soja proveniente de novos
desmatamentos no bioma Amazônia. A iniciativa
mostra que o comércio internacional
da soja foi abalado pela negativa da crise
ambiental da maior floresta tropical do planeta.
O Greenpeace reconhece que este é um
passo importante, mas são as ações
e não as palavras que poderão
garantir um futuro justo e sustentável
para a Amazônia.
A campanha do Greenpeace
incluiu ações diretas no Brasil
e na Europa e a publicação do
relatório “Comendo a Amazônia”
(veja o sumário em português),
que detalha os impactos negativos da expansão
da soja na floresta. Após a publicação
do relatório, redes de supermercados
e fast-foods, como o McDonald’s, formaram
uma aliança histórica com a
organização ambientalista para
exigir que a indústria da soja adote
medidas para conter o desmatamento da Amazônia
e trazer governança para a região.
Como resultado da pressão
desta aliança, as multinacionais de
commodities Cargill, ADM, Bunge, a francesa
Dreyfus, e o grupo brasileiro Amaggi sentaram
à mesa de negociações.
Responsáveis pela maior parte do comércio
de soja no Brasil, as traders discutiram critérios
propostos pela aliança para fortalecer
os esforços do governo brasileiro contra
o desmatamento, além do cumprimento
às leis brasileiras e proteção
das áreas de florestas sobre grande
pressão, terras indígenas e
povos tradicionais.
Como resposta, as duas associações
de grãos no Brasil – Abiove (Associação
Brasileira da Indústria de Óleos
Vegetais) e Anec (Associação
Nacional dos Exportadores de Cereais) assinaram
hoje um comunicado anunciando uma moratória
de dois anos em novos desmatamentos para a
soja (leia comunicado da Abiove). Um grupo
de trabalho será estabelecido, formado
por traders, produtores de soja, ONGs e governos
federal e estaduais para apresentar um plano
de ação que traga governança
para a região.
O Greenpeace defende que
a moratória deve durar o tempo necessário
para que medidas sejam implementadas, ou a
iniciativa anunciada hoje corre o risco de
ser pouco mais do que um gesto simbólico.
Nos últimos anos, mais de 1 milhão
de hectares de florestas foram convertidos
em campos de soja na Amazônia. Áreas
desmatadas ilegalmente são alvo de
violentos conflitos entre fazendeiros e comunidades
locais. A floresta vem sendo destruída
para dar lugar a campos de soja, que é
exportada para a Europa para alimentar animais
e atender a demanda internacional por proteína
e carne barata.
“O papel das empresas de
alimentos que vendem produtos relacionados
diretamente com o desmatamento na Amazônia
foi fundamental para trazer as grandes traders
de soja para a mesa de negociações.
Agora, o desafio é para que o setor
promova os resultados reais para proteger
a Amazônia da destruição”,
disse Gerd Leipold, diretor-executivo do Greenpeace
Internacional.
A Amazônia não
é apenas a região de maior biodiversidade
no planeta, mas também desempenha papel
fundamental no equilíbrio climático
e na vida de milhares de pessoas que vivem
na região. Por causa dos níveis
alarmantes de destruição florestal
provocada pelo plantio de grãos como
a soja, uma área de florestas do tamanho
de cinco campos de futebol tem sido destruída
a cada minuto nos últimos dez anos.
O diretor-executivo do Greenpeace
no Brasil, Frank Guggenheim, disse: “É
um passo importante das traders de soja, como
o grupo Amaggi e a Cargill, mas vamos continuar
pressionando por medidas efetivas que garantam
o futuro da Amazônia e de seus povos.
Disputas pela terra e pelos recursos florestais
não destruíram apenas grandes
áreas de floresta mas também
sacrificaram muitas vidas. A indústria
de soja que opera na região deve agora
ajudar a trazer governança e proteção
ambiental para toda a região”.
Ao exigir a proteção
da Amazônia, o Greenpeace e as empresas
de alimentos continuam exigindo de seus fornecedores
soja não-transgênica.