25
de Julho de 2006 - Manaus - Lideranças
do povo Cocama estão hoje (25) em Manaus
para denunciar agressões supostamente
cometidas contra 140 moradores da aldeia Boca
do Mocoruna, que fica na beira do rio Solimões,
em Fonte Boa (AM).
Os indígenas contam
que, há dez dias, cumprindo um mandado
de reintegração de posse expedido
pela Justiça estadual, a Polícia
Militar destruiu todas as casas da comunidade.
“A prefeitura apóia o suposto proprietário
das terras, que, na verdade, são públicas”,
diz o coordenador-geral da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo
Sateré-Maué. “Esses indígenas
estão em uma situação
muito difícil, vivendo em lonas. Há
40 crianças doentes, com catapora”,
conta.
O secretário municipal
de Governo de Fonte Boa, Ronaldo Bonat, rebate
as acusações da Coiab. Ele argumenta
que foi o pecuarista João Mendes Felipe
[suposto proprietário da área
que os indígenas ocupam], não
a prefeitura, quem pediu a reintegração
de posse. “Se fizerem um estudo antropólogico
aprofundado, verão que ninguém
lá é índio”, diz o secretário.
O sargento da Polícia
Militar que comandou a operação,
Sizino da Costa, tem a mesma opinião
de Bonat. “Quando começou essa confusão
[há dois anos], esse pessoal não
era índio. O reconhecimento deles veio
depois que o juiz expediu o mandado de reintegração
de posse”.
Segundo Costa, os seis policiais
militares e os cinco guardas municipais que
executaram a ordem judicial não agiram
com violência. “Fomos bem recebidos,
até serviram almoço para nós
na comunidade”, contou. “Nós desmanchamos
as casas com cuidado, ainda dá para
aproveitar a madeira, a palha e o zinco”.
O chefe de Assistência
da Fundação Nacional do Índio
(Funai) em Manaus, José Melo, lamentou
que o órgão não tenha
escritório em Fonte Boa e nem advogados
na capital amazonense. “Vamos agir com apoio
do setor jurídico da Coiab e da Fepi
[Federação Estadual dos Povos
Indígenas, ligada ao governo do Amazonas]
”, disse. “A família que esteve aqui
fazendo a denúncia é indígena.
Vamos atestar em campo se as demais também
o são”, disse Melo.
De acordo com ele, não
há data prevista para o trabalho de
campo, porque faltam recursos para a viagem.
"Ficou acertado que a gente vai para
Fonte Boa na primeira quinzena de agosto",
disse o diretor-técnico da Fepi, José
Mário Mura. "Enquanto isso, vamos
ver se o Ministério Público
pode interceder junto à prefeitura
e à Justiça para providências
mais rápidas”, acrescentou.
Segundo Mura, os indígenas
marcaram para hoje (25) às 15 horas
(horário de Manaus) uma reunião
com o procurador André Lasmar, do Ministério
Público Federal.
De acordo com a Funai,
os critérios para que uma pessoa seja
considerada indígena são auto-identificação,
reconhecimento da comunidade e origens pré-colombianas
(parentesco).
Thaís Brianezi