26
de Julho de 2006 - Brasília - A proposta
do governo federal de criar 9,4 milhões
de hectares de áreas protegidas ao
longo da rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319)
provocou discussões apaixonadas nos
quatro debates já realizados no interior
do Amazonas. Hoje (26), em Manaus, a proposta
também causou polêmica entre
as cerca de 400 pessoas presentes à
consulta pública.
No último sábado
(22), em Lábrea, cerca de 500 ribeirinhos
que participaram da consulta pública
fizeram passeata em apoio à criação
das reservas extrativistas do Médio
Purus e do Ituxi. As propostas das duas reservas
foram oficializadas junto ao Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) em 2001 e 2002, respectivamente. Ao
todo, elas vão beneficiar 3.500 coletores
de castanha e de borracha.
Na última segunda-feira
(24), em Humaitá, a possibilidade de
criação de novas áreas
protegidas desagradou os agricultores locais.
“Havia pequenos, médios e grandes empresários
rurais que estão migrando para região,
atraídos também pela recuperação
da BR-319. Eles estão associados a
um processo de ocupação irregular,
a uma pré-grilagem de terras. Portanto,
não estão interessados na destinação
dessas áreas como unidades de conservação”,
informou o superintendente regional do Ibama,
Henrique Pereira.
“O Amazonas está
pagando pelos excessos [de desmatamento] cometidos
por Mato Grosso, Rondônia e Pará.
Querem nos transformar em um santuário”,
reclamou o vice-presidente da Federação
da Agricultura do Estado do Amazonas, Muni
Lourenço. “A gente está extremamente
preocupado com essa proposta. O Ministério
do Meio Ambiente quer impedir as atividades
econômicas de grande porte no eixo da
rodovia”.
“A análise econômica
do planejamento territorial não pode
se sobrepor à social e à ambiental”,
rebateu o representante da rede Grupo de Trabalho
Amazônico (GTA), Rubens Gomes. “Somos
favoráveis à proposta, com algumas
ressalvas. Uma delas é que se estude
a delimitação de áreas
de uso sustentável dentro dos parques
nacionais [nos quais é proibido o manejo
florestal e a presença de moradores]”.
“A conservação
tem que estar ligada a uma educação
de qualidade, à saúde”, lembrou
a representante da Federação
dos Trabalhadores da Agricultura do Amazonas
(Fetagri-AM), Izete Rodrigues.
“Essa proposta de
ordenamento territorial me parece acanhada,
restrita à criação das
unidades de conservação. Eu
esperava ver aqui ações de fomento
à produção sustentável”,
disse o secretário estadual de Desenvolvimento
Sustentável, Virgílio Viana.
Thaís Brianezi