03-08-2006
- São Paulo - Passados 61 anos da explosão
das bombas atômicas no Japão,
reatores suecos param após grave problema;
Brasil insiste em correr os riscos da energia
nuclear
Defeito desconhecido que
quase causa gravíssimo acidente na
usina nuclear de Forsmark, na Suécia,
expõe novamente a insegurança
desta tecnologia. Governo sueco determina
o fechamento dos quatro reatores, cujas falhas
ocorreram no sistema reserva de suprimento
de energia, o que poderia ter causado sua
explosão e uma catástrofe radioativa.
“Infelizmente, o problema não se restringe
apenas a esses quatro reatores na Suécia.
Incidentes similares vêm acontecendo
em diferentes tipos de reatores, sendo urgente
uma investigação em todos os
443 reatores atômicos em atividade,
que estão espalhados por 31 países”,
disse Jan Vande Putte, coordenador da campanha
contra energia nuclear do Greenpeace Internacional.
O incidente na Suécia
ocorreu poucos dias antes do aniversário
de 61 anos das explosões das bombas
nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroshima
e Nagasaki, que ocorreram respectivamente
nos dias 06 e 09 de agosto de 1945. O saldo
trágico desse aniversário é
dezenas de milhares de vidas humanas perdidas
instantaneamente após as detonações,
e outras dezenas de milhares, nos meses e
anos seguintes. Os fatos impressionam: mais
de 300 mil mortos, a destruição
total das duas cidades e uma demonstração
real do poder de destruição
em massa desse tipo de armamento, que deve
ser completamente abolido. A ameaça
nuclear continua com cerca de 30 mil armas
nucleares em nove países (Estados Unidos,
Rússia, Reino Unido, França,
China, Israel, Índia, Paquistão
e Coréia do Norte).
Ainda assim o Programa Nuclear
Brasileiro considera a possibilidade de construir
Angra 3 e outras seis usinas: duas de grande
porte, capazes de gerar 1300 MW, e quatro
pequenas, com até 500 MW. O custo seria
de mais de R$ 30 bilhões até
2022 e não inclui ainda o plano de
construção de um submarino atômico,
que está em projeto.
Hoje, o Brasil possui 2
usinas nucleares (Angra 1 e Angra 2) e, em
05 de maio deste ano, poucos dias após
o aniversário de 20 anos do acidente
de Chernobyl, inaugurou uma usina de enriquecimento
de urânio. O urânio enriquecido
pode ser usado tanto na produção
de combustível para usinas nucleares
quanto na fabricação de bombas
atômicas.
Em março, a Comissão
de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados
aprovou relatório que mostra graves
problemas de segurança nuclear no Brasil.
Uma das questões apontadas pelo documento
oficial é a contraditória duplicidade
de funções da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que deve
ao mesmo tempo incentivar e fiscalizar o setor.
O relatório também alerta para
problemas no plano de emergência das
usinas, inexistência de fiscais e de
normas de fiscalização e punição
para irregularidades, tratamento improvisado
para o lixo nuclear e a falta de acesso público
à informação.
“A energia nuclear é
cara, suja, perigosa e ultrapassada, e no
aniversário das tragédias de
Hiroshima e Nagasaki o Governo Federal deve
parar de desperdiçar dinheiro público
no Programa Nuclear e interromper as operações
de Angra 1 e 2”, afirmou Guilherme Leonardi,
coordenador da campanha do Greenpeace contra
energia nuclear. “O Brasil deve seguir a tendência
mundial de países como Espanha, Alemanha,
Suécia, Bélgica e Cuba, abandonando
a energia atômica e utilizando seu imenso
potencial para energias limpas e seguras como
eólica e solar, capazes de suprir toda
a demanda nacional de energia”, acrescentou.