03/08/2006
- Doze comunidades tradicionais do Vale do
Ribeira se reúnem para planejar o repovoamento
de novas áreas, produção
de mudas, comercialização da
polpa da semente e um movimento contra a extração
predatória da espécie de seus
territórios.
O repovoamento de uma das
mais ameaçadas espécies da Mata
Atlântica – o palmiteiro Juçara
(Euterpe Edulis) segue conquistando adeptos
entre as comunidades quilombolas do Vale do
Ribeira. Se no primeiro semestre deste ano
dez mutirões quilombolas semearam cinco
toneladas de semente desta espécie
de palmito numa área de 900 hectares
do vale, no final de julho representantes
de 12 comunidades quilombolas se reuniram
na Caverna do Diabo, no Parque Estadual do
Jacupiranga, para traçar planos de
ação para replantar, conservar
e usar de forma sustentável a espécie.
Reunião juntou quilombolas
de 12 comunidades do Vale do Ribeira, em uma
articulação inédita
A juçara é
uma das espécies mais exploradas da
Mata Atlântica e seu extrativismo indiscriminado
a colocou sob risco de extinção.
Sua exploração configurou-se
numa das principais fontes de trabalho e renda
nas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira,
mas a diminuição drástica
da população natural do palmito
e a proibição da extração
predatória tornaram a atividade cada
vez mais impraticável pelos quilombolas,
sendo o repovoamento uma das saídas
para um futuro plano de manejo sustentável.
A produção de juçara
só é permitida por meio de planos
de manejo sustentável, cujo primeiro
passo é exatamente o repovoamento da
espécie.
A produção
de juçara só é permitida
por meio de planos de manejo sustentável,
com repovoamento
A reunião juntou
quilombolas das vilas de André Lopes,
Nhunguara, Batatal, Bombas, Pedro Cubas, Pedro
Cubas de Cima, Ivaporunduva, Galvão,
Mandira, Morro Seco, Porto Velho e Cangume.
Durante dois dias de oficina, os participantes
deram seqüência ao Projeto de Repovoamento,
Conservação e Uso Sustentável
do Palmiteiro Juçara nos Quilombos
do Vale do Ribeira, avaliaram os dez mutirões
promovidos entre março e julho passado
e planejaram as ações para o
segundo semestre. A oficina contou com a participação
da Fundação Florestal do estado
de São Paulo e do Instituto Socioambiental
(ISA). O Projeto de Repovoamento, Conservação
e Uso Sustentável do Palmiteiro Juçara
nos Quilombos do Vale do Ribeira é
financiado pelo Ministério do Meio
Ambiente (PDA-MA) e executado pelo ISA.
A comercialização da
polpa da semente do Juçara está
nos planos do projeto de repovoamento
Durante a oficina foi constituído
um conselho gestor com o objetivo de ampliar
a discussão nas comunidades e na região
sobre o repovoamento da juçara e seu
manejo sustentável. A idéia
é conseguir, ao longo do tempo, trabalhar
não apenas com o palmito, tradicional
produto extraído da palmeira, mas também
com sua semente para repovoamento de novas
áreas e para a produção
de mudas, além da polpa da semente,
que tem um grande potencial de mercado, dada
sua semelhança à polpa da semente
do Açaí, outra espécie
de palmeira. O Conselho Gestor do Programa
de Repovoamento do Palmiteiro Jiçara
nas comunidades de Quilombos iniciará
ainda uma série de debates sobre a
valoração e remuneração
dos serviços ambientais prestados pelas
comunidades quilombolas ao manterem conservadas
importantes porções da Mata
Atlântica e, conseqüentemente,
sua biodiversidade e mananciais de água.
Outra decisão tomada
durante a oficina foi a de substituir a denominação
juçara por jiçara, variação
utilizada pelas comunidades tradicionais do
Vale do Ribeira para designar essa espécie
de palmiteiro.
Marcos Gamberini.