10/08/2006
- A iniciativa tem o objetivo de realizar
várias pesquisas e transferir tecnologias
para assentados, agricultores familiares,
pequenos, médios e grandes produtores
de seis municípios do leste da Bacia
do Xingu no Mato Grosso. Durante três
anos, serão realizados diagnósticos,
estudos, cursos e oficinas sobre temas como
qualidade da água, desmatamento, planejamento
e tipologia de uso do solo, plantio direto,
manejo de pragas e pastagens. A idéia
é de que o trabalho possa ser replicado
por toda a região. Em entrevista, diretora
da Embrapa fala sobre o projeto.
Na manhã desta quinta-feira,
dia 10 de agosto, na Câmara de Vereadores
de Querência (MT), 912 quilômetros
a nordeste de Cuiabá, acontece o lançamento
do projeto Recuperação de Áreas
de Preservação Permanente (APP)
e Promoção de Boas Práticas
Agropecuárias na Bacia do Rio Xingu.
A iniciativa é uma parceria entre a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e a campanha ´Y Ikatu Xingu,
que pretende proteger e recuperar as nascentes
e as matas ciliares do rio Xingu no Mato Grosso.
Além de técnicos da instituição
federal, também estarão presentes
o prefeito de Querência, Fernando Görchen
(PPS), secretários de Agricultura e
Meio Ambiente de municípios vizinhos
e representantes de outras organizações
parceiras do projeto, como a Universidade
do Estado de Mato Grosso (Unemat), o Instituto
Socioambiental (ISA), sindicatos rurais e
de trabalhadores rurais da região.
Contando com mais de R$
1000 mil do Fundo Setorial do Agronegócio,
do Ministério de Ciência e Tecnologia
(MCT), e da própria Embrapa, a iniciativa
tem o objetivo de realizar várias pesquisas
e transferir tecnologias para assentados de
reforma agrária, agricultores familiares,
pequenos, médios e grandes produtores
da região de Querência, Canarana,
Água Boa, Ribeirão Cascalheira,
Nova Xavantina e São José do
Xingu. Durante três anos, serão
realizados diagnósticos, estudos, cursos
e oficinas sobre temas como qualidade da água,
desmatamento, planejamento e tipologia de
uso do solo, proteção e recuperação
de APPs, plantio direto, manejo de pragas
e pastagens, integração lavoura-pecuária
e sistemas agroecológicos. Também
deverão ser apoiadas campanhas de educação
ambiental na região. A idéia
é de que o trabalho possa ser replicado
por toda a Bacia do Xingu no Mato Grosso.
O projeto marca a intenção
da Embrapa de estabelecer uma presença
mais efetiva no nordeste do Mato Grosso. Segundo
a diretora-executiva da empresa, Tatiana Deane
de Abreu Sá, ele também acompanha
o esforço da instituição
de intensificar o desenvolvimento de ações
e tecnologias que tenham impactos socioambientais
positivos (confira a entrevista realizada
com Tatiana Deane abaixo).
Boletim da campanha
`Y Ikatu Xingu – Qual o desafio que representa
para a Embrapa esse projeto?
Tatiana Deane – Uma primeira
questão é você abranger
um território que tem vários
tipos de vegetação e de uso
da terra, que levaram a vários tipos
de degradação, que vão
demandar tipos de recuperação
diferentes e que tem de levar em conta atores
sociais também diferenciados. Para
realizar qualquer iniciativa de recuperação
ambiental em um contexto como este, devemos
ter consciência dessa diversidade de
situações e das questões
sociais, econômicas e culturais que
elas envolvem. A partir daí, podemos
tentar identificar alguns problemas mais recorrentes
e atuar estrategicamente em alguns eixos de
ação para fornecer informações
para multiplicadores na região.
Que diferencial
este tipo de projeto apresenta?
O que representa um projeto como este para
uma instituição criada em um
momento em que a agricultura era voltada apenas
para a produção e produtividade,
onde a questão ambiental, social e
cultural não estava embutida? Ao longo
do tempo, a Embrapa foi acompanhando a evolução
de uma consciência nacional e global
que trouxe agendas diferentes. A instituição
começou a mostrar que não estava
preocupada apenas com produção
das comoditties, mas também com o impacto
ambiental do uso da terra. Agora, chegamos
ao momento que outro desafio é o social.
Este projeto entra neste momento em que estamos
tentando avançar no sentido de trazer
esta percepção social para nossa
carteira de projetos.
O projeto pode continuar
para além do prazo de três anos
inicialmente previsto?
Isto vai depender muito de como vamos resolvendo
os desafios que vão aparecendo. Temos
experiências em que a equipe local vislumbrou
a necessidade de tornar seus projetos de longa
duração. Então, fomos
agregando outros segmentos sociais e abrimos
espaço para captarmos mais recursos.
Temos um projeto na Amazônia com comunidades
indígenas para desenvolvimento de alternativas
às queimadas e manejo de capoeira que
já dura mais de 15 anos. Este projeto
começou no nordeste do Pará
e hoje temos ações experimentais
semelhantes em sete Estados.
Tatiana:
"A Embrapa começou a mostrar que
não estava preocupada apenas com produção
das comoditties, mas também com o impacto
ambiental do uso da terra. Agora, chegamos
ao momento que outro desafio é o social."
Há uma crítica
de que é muito pequena a presença
da Embrapa no Mato Grosso, estado com o maior
PIB agropecuário do País. Esta
crítica procede? Se procede, por que
isto ocorre? O projeto compensa de alguma
forma o problema?
Não temos instalado no Estado um centro
de pesquisa e desenvolvimento, mas uma Unidade
de Execução de Pesquisa (UEP),
em Várzea Grande. Apesar disso, existem
ações e projetos desenvolvidos
em todo o Mato Grosso por 15 de nossos centros.
Também estamos trabalhando diretamente
no Zoneamento Ecológico-econômico
(ZEE) do Estado. Uma outra coisa importante
é que existe um sistema nacional de
pesquisa agropecuária, que, quando
foi criado, contava com a Embrapa e suas representações
estaduais. Até hoje existem nos Estados
as Ematers e, no Mato Grosso, existe a Empaer
[Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência
e Extensão Rural]. Mas este sistema
acabou se esfacelando. O que falta, então,
é uma melhor orquestração
entre órgãos federais e estaduais.
Estamos investindo em estudos que possam subsidiar
uma proposta de revitalização
deste sistema de pesquisa agropecuária
e sua implantação nos Estados
da Amazônia. Até outubro, estes
estudos devem ser concluídos.
Que recado
a Embrapa deixa para os produtores e moradores
da Bacia do Xingu no Mato Grosso?
Estamos trabalhando para agilizar e qualificar
o ZEE, num trabalho de monitoramento, ordenamento
e gestão territorial. Vamos trabalhar
para oferecer opções para que
o zoneamento possa ser exercido. Em primeiro
lugar, temos uma atuação voltada
para a manutenção da floresta
em pé, onde vamos tentar aproveitar
as experiências de manejo florestal
que desenvolvemos em vários lugares
da Amazônia para valorizar a floresta
e a cadeia econômica florestal. Temos
também uma linha de atuação
destinada de uso sustentável de áreas
já alteradas, com a disseminação
de técnicas como plantio direto, integração
lavoura-pecuária, sistemas agroflorestais,
pastagens rotacionadas, pesquisas sobre doenças
etc. Com o ZEE e instrumentos de fiscalização,
teremos a possibilidade de reduzir o que campeia
hoje na região, onde é muito
mais fácil abrir novas áreas
do que de investir em ganhos de produtividade,
em detrimento da sustentabilidade ambiental.
Não adianta você ter apenas o
marco legal do ZEE, sem ter opções
de como aplicá-lo.
Oswaldo Braga de Souza.