07
de agosto - O presidente da Funai, Mércio
Pereira Gomes, inaugurou na última
quarta-feira, (02/08), o Núcleo de
Apoio da Funai em Bonito, Mato Grosso do Sul.
Na ocasião, ele foi recepcionado pelas
lideranças Kadiwéu de cinco
aldeias da região, que manifestaram
satisfação pela criação
de um pólo que sirva de ponto de apoio
às reivindicações da
comunidade.
Representando a Associação
da Comunidade Indígena da Reserva Kadiwéu
(ACIRK), as lideranças entregaram ao
presidente uma carta de agradecimento pelo
trabalho dedicado à causa indígena.
Na opinião do líder
Ambrósio Kadiwéu, a criação
do Núcleo vai facilitar o atendimento
às aldeias que antes eram feitas pela
Administração Regional de Campo
Grande. “Havia muita dificuldade pela distância
entre a regional e as aldeias. Agora, o Núcleo
pode amparar mais os índios em várias
questões emergentes”, avalia.
Durante reunião com
as lideranças, Mércio Gomes
lembrou a importância dos Kadiwéu
como povo guerreiro. A habilidade desses índios
na montaria ajudou o Brasil na guerra do Paraguai,
no final do século XIX. “Da minha memória
como antropólogo e de conhecedor do
povo Kadiwéu eu sempre recordo do papel
que teve esse povo em lutar para que essas
terras permanecessem brasileiras, e não
paraguaias. O Brasil se expandiu por causa
dos seus índios. Porque os índios
ficaram leais ao Brasil e este é o
exemplo maior que eu dou”.
A criação
do Núcleo, na avaliação
das lideranças, vai trazer à
tona uma discussão recorrente na reserva
indígena Kadiwéu: o arrendamento
de terras. Proibido pela da Lei Federal nº
6.001, art. 18, essa prática é
desigual para o índio porque lhe tira
a liberdade de manusear a sua própria
terra. Mas, com a conscientização
das comunidades e o trabalho desenvolvido
pelos técnicos da Funai, o cenário
promete mudar. Antônio Kadiwéu
é um dos exemplos. “Eu já passei
sufoco tendo que ver minha terra com outra
pessoa e não ter ela nas mãos”,
diz. Depois de muita luta e da reconquista
da sua terra, a aldeia São Salvador,
Antônio pode respirar mais tranquilo.
Atualmente, ele mantém um contrato
de parceria em que divide os lucros com seu
parceiro pela criação de gado.
“Hoje, a gente não pode mais tolerar
mais essas coisas e a criação
do Núcleo vai servir para orientar
a gente sobre esses problemas”, afirma.
Em 1980, a Terra Indígena
Kadiwéu foi totalmente arrendada por
fazendeiros, por meio de um processo iniciado
na década de 1950. Nesse período,
o território foi dividido em 120 glebas
(fazendas). Houve um distanciamento dos índios
com seus afazeres e atividades peculiares,
pois passaram a viver basicamente dos arrendamentos.
Procurando resolver a situação,
a Funai iniciou o processo de despejo dos
arrendatários. Até 1988, todos
já tinham sido expulsos da área.
Hoje, por meio da publicação
da instrução normativa nº
003, de junho de 2006, a Funai vem orientando
as comunidades sobre a importância da
garantia da terra para reprodução
física e cultural dos povos indígenas.