15-08-2006 - São Paulo - Para alertar
sobre os riscos do milho transgênico,
o Greenpeace enviou esta semana à CTNBio
(Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança) o relatório “Coexistência
Impossível”, mostrando que a contaminação
causada pelo milho transgênico na Espanha
causou grandes prejuízos para os agricultores.
A CTNBio, que tem sido pressionada para autorizar
a comercialização de milho transgênico,
está discutindo a liberação
de campos experimentais de plantas transgênicas
e cinco pedidos de liberação
para plantio e comercialização
do milho – sendo dois da suíça
Syngenta, dois da norte-americana Monsanto
e um da alemã Bayer.
O Brasil cultiva em torno de 12 milhões
de hectares de milho em todas as regiões,
totalizando cerca de 42 milhões de
toneladas. Os Estados do Paraná, Rio
Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo
e Mato Grosso concentram mais da metade da
produção brasileira. “A liberação
comercial do plantio de milho transgênico
poderá gerar graves casos de contaminação
no Brasil, trazendo prejuízos para
nossos agricultores, principalmente para os
que desenvolvem sementes tradicionais ou possuem
certificação orgânica”,
afirma Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo
do Greenpeace. O milho é uma espécie
com grande potencial de contaminação,
uma vez que duas plantas, mesmo separadas
por longas distâncias, podem se cruzar
facilmente. Essa fecundação,
chamada de polinização cruzada,
causa a transferência dos genes das
culturas transgênicas para as convencionais,
devido ao transporte do pólen pelo
vento.
“Se a soja, que apresenta um risco menor
de contaminação do que o milho,
tem causado prejuízos a agricultores
convencionais e orgânicos, o milho trará
estragos ainda maiores”, avalia Barbeiro.
A contaminação de lavouras de
soja orgânica por transgênicos
levou a empresa mineira EcoBrazil Organics
à falência e trouxe graves prejuízos
para agricultores orgânicos ligados
às cooperativas gaúchas Sustentagro
e Cotrimaio.
O relatório espanhol “Coexistência
Impossível” apresenta resultados de
testes de laboratório com amostras
retiradas de campos de milho de 40 agricultores
orgânicos e convencionais. O estudo
comprovou a contaminação não
intencional com transgênicos em quase
um quarto dos casos. Em três deles,
a contaminação ocorreu em variedades
locais de milho, conhecidas como sementes
crioulas, selecionadas durante anos, que não
podem mais ser usadas para plantio futuro.
A perda dessas variedades representa uma drástica
redução na biodiversidade da
semente de milho, essencial para a agroecologia.
As contaminações ocasionaram
prejuízos econômicos sérios
para os agricultores, que não puderam
mais vender seu produto com o prêmio
pago a produtos convencionais e orgânicos.
A contaminação de milho por
transgênicos já atinge também
o centro de origem da espécie: o México.
Para denunciar essa perda de biodiversidade
das variedades selvagens de milho, na semana
passada o Greenpeace e os Circlemakers, grupo
inglês de desenhistas profissionais,
desenharam um ponto de interrogação
gigante em uma plantação de
milho em Oaxaca, estado em que há cinco
anos foi identificada contaminação
por variedades transgênicas. A ação
teve como objetivo alertar a população
sobre a pressão que as empresas multinacionais
exercem sobre o governo federal para que se
permita o cultivo de milho transgênico
no México.
Foto: Greenpeace