20
de Agosto de 2006 - Brasília - Brasília
– O cerrado, segundo maior bioma brasileiro,
está sob ameaça de extinção,
apontam pesquisadores. Nos cálculos
do biólogo Jader Soares Marinho Filho,
seus 20% restantes (um quinto do total) poderão
ser extintos em menos de 30 anos, se não
receberem proteção imediata.
“Isso significa que 11 mil
espécies de plantas poderão
desaparecer do sistema ambiental brasileiro”,
diz Marinho Filho, professor do Departamento
de Zoologia da Universidade de Brasília
(UnB). Para ele, o bioma se encontra sob risco
muito maior do que o maior do país,
a floresta amazônica. Os biomas são
as grandes comunidades ecológicas,
caracterizadas por um tipo de vegetação
em uma determinada região.
Em entrevista à Agência
Brasil, o biólogo conta que o que mais
preocupa os cientistas e estudiosos do cerrado
é que 80% dele foram devastados em
menos de 50 anos. Nenhum outro bioma do mundo,
diz ele, passou por tamanha destruição
em tão pouco tempo. A mata atlântica,
outra formação vegetal sob perigo,
tem hoje apenas 5% de sua cobertura original,
mas, conforme observou Marinho Filho, o restante
foi destruído em 500 anos de história
brasileira.
Originalmente, o cerrado
estendia-se por uma área de 2 milhões
de quilômetros quadrados, abrangendo
um território hoje compreendido por
15 estados (Paraná, São Paulo,
Minas Gerais, Bahia, Piauí, Ceará,
Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Amazonas, Roraima, Amapá,
Rondônia e Pará) e pelo Distrito
Federal. Típico de regiões tropicais,
apresenta duas estações bem
marcadas: inverno seco e verão chuvoso.
O cerrado é o nome
regional dado às savanas brasileiras.
Com solo deficiente em nutrientes, mas rico
em ferro e alumínio, o bioma abriga
plantas de aparência seca, entre arbustos,
gramíneas e árvores esparsas.
Dentre elas, destaca o estudioso, “espécies
não vistas em nenhum outro ambiente
do mundo”. Destruí-las significaria
ignorar, inclusive, plantas com aplicações
médicas. As populações
locais utilizam a flora do cerrado na prevenção
de diversos males. Um exemplo é o quebra-pedra,
que serve para fazer um chá contra
problemas renais.
Jader Soares Marinho Filho
destaca que, apesar de o cerrado já
ter sua importância reconhecida, ainda
há muito a se descobrir a respeito
dele, tamanha é sua diversidade vegetal
e animal. "Para mantê-lo vivo,
precisamos preservá-lo, estudá-lo”,
diz. “Produzir no cerrado, sim. Mas é
preciso sabermos conciliar a atividade econômica
com o comprometimento da preservação.
Esse é o desafio maior do Brasil. Ainda
temos muita água, muita riqueza biológica,
mas tudo passa se a gente não cuida,
tudo se perde se a gente não trabalha."
Ana Paula Marra