Mais
de 1.300 espécies foram registradas
em inventários biológicos no
Amapá
Macapá, 25 de agosto
de 2006 — Acontece hoje um seminário
para a apresentação dos resultados
de onze expedições científicas
realizadas em três Unidades de Conservação
e em um setor do cerrado no Corredor de Biodiversidade
do Amapá. Além de prestar contas
para a sociedade amapaense e apresentar os
resultados de dois anos de pesquisas, o evento
pretende mostrar, também, a importância
dos resultados deste projeto para subsidiar
a conservação da biodiversidade
amapaense.
As expedições,
com duração média de
21 dias, deram ênfase ao registro de
mamíferos, aves, répteis, anfíbios,
crustáceos, peixes e plantas superiores
dentro de unidades de conservação
que formam o Corredor de Biodiversidade do
Amapá. “Terminamos a série de
onze expedições muito satisfeitos.
Os resultados foram surpreendentes, registramos
mais de 1.300 espécies no total. Foram
pelo menos 228 de répteis e anfíbios,
112 de mamíferos (incluindo morcegos),
e 28 de crustáceos”, afirma Enrico
Bernard, Gerente do Programa Amazônia
da Conservação Internacional
(CI-Brasil) e coordenador do projeto.
Entre os resultados mais
significativos, destacam-se a redescoberta
de espécies que há muito não
eram mais registradas pelos cientistas, tal
como o lagarto Amapasaurus tetradactylus,
cujo último registro de ocorrência
no Amapá foi feito há 35 anos,
e o achado de várias espécies
novas de peixes, répteis e anfíbios.
“O reaparecimento de um animal é tão
digno de comemoração como a
descoberta de uma nova espécie”, compara
o herpetólogo Jucivaldo Lima, que participou
das expedições que foram realizadas
no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque,
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Rio Iratapuru e na Floresta Nacional do Amapá.
Ao todo, o grupo de cinco
cientistas de diferentes especialidades e
a equipe de apoio, ficaram, somando-se todas
as viagens, 222 dias no campo. Neste período,
a equipe explorou áreas até
então nunca visitadas por pesquisadores.
Historicamente, algumas das regiões
do Amapá tinham sido pouco estudadas,
sendo consideradas lacunas importantes no
conhecimento científico. A falta de
informação sobre a biodiversidade
da região limita a elaboração
dos planos de manejo das unidades de conservação
e a conseqüente gestão efetiva
da área.
O Projeto Expedições
Científicas realizado no Corredor de
Biodiversidade do Amapá foi criado
para suprir parte dessa carência. “Quando
começamos as expedições
em agosto de 2004, tínhamos certeza
que elas iriam contribuir significativamente
para aumentar o conhecimento sobre a diversidade
do Amapá”, afirma Antônio Carlos
Farias, Secretário de Estado de Meio
Ambiente do Amapá.
“Parabenizo a equipe pelo
esforço e dedicação que
apresentaram ao longo destes meses, se embrenhando
na floresta e passando longos períodos
sob duras condições. Como ornitólogo,
confesso que fiquei com uma certa inveja da
chance que eles tiveram de visitar lugares
ainda intocados do nosso Estado”, completa
Farias.
As informações
colhidas nas expedições já
estão sendo usadas para a elaboração
dos planos de manejo das unidades. O plano
de manejo é importante porque contém
todas as informações sobre uma
unidade de conservação, incluindo
suas características, zoneamento e
regras de uso, fundamentais para o real funcionamento
de qualquer área protegida. Christoph
Jaster , chefe do Parque Nacional do Tumucumaque,
aponta que as expedições foram
fundamentais para a aquisição
de informações sobre a unidade.
“Embora saibamos que há
ainda muito a ser estudado no Tumucumaque,
estas expedições apontaram o
rumo a ser seguido” completa. “Já temos
as informações biológicas
e do meio físico. Estamos finalizando
a coleta de informações sócio-econômicas
e estou otimista que até o final do
ano poderemos ter o plano de manejo concluído”,
afirma Christoph.
A pesquisadora Ana Carolina
Martins, responsável pelo inventário
de morcegos, ainda se refaz do que pode ser
considerado o sonho de qualquer biólogo
de campo: desvendar lugares nunca antes visitados
e encontrar fauna e flora ainda intocadas.
“Estas expedições foram surpreendentes.
Vimos animais raros e de difícil observação.
Um dos momentos mais marcantes foi ver de
perto um grupo de cerca de mais de 200 queixadas
cruzar o rio bem na nossa frente!”, lembra
a pesquisadora.
Onça, gato maracajá,
antas, tamanduá bandeira, tatus-canastra,
veados, cutias, macacos e pacas são
alguns dos animais vistos nas expedições
e enumerados pela geógrafa Cláudia
Funi, que participou de todas as expedições.
“Os animais não eram ariscos, e muitos
se mostraram curiosos, aproximando-se de nós,
o que serve como indício de que nas
áreas onde encontramos esses animais
não existe caça predatória”,
completa Cláudia, que teve como atribuição
ajudar na escolha dos locais a serem inventariados.
O projeto foi realizado
pelo Instituto de Pesquisas Científicas
e Tecnológicas do Amapá (IEPA),
Ibama, Secretaria de Meio Ambiente do Amapá
e a organização não-governamental
Conservação Internacional (CI-Brasil).