29 de Agosto de 2006 - Julio Cruz Neto -
Enviado especial* - Terra Indígena
Kayapó (Pará) - A corrida de
toras faz parte da tradicional festa da aldeia
Kikretum, que termina com a realização
de um batismo coletivo.
Aldeia Kikretum (Pará) - Os índios
kayapó da aldeia Kikretum, no sul do
Pará, convidaram o presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Mércio
Pereira Gomes, para discutir o andamento da
Operação Kayapó na semana
passada. A reunião ocorreu durante
uma tradicional festa que dura vários
dias e termina com um batismo coletivo, que
dá aos participantes o prenome de “Bép”
– Bép-José, por exemplo.
A reportagem da Agência Brasil presenciou
a corrida de toras, que tem início
durante a madrugada. Duas equipes, uma formada
pelos jovens e guerreiros, outra pelos adultos
(todos homens), cantam e dançam sem
parar a mesma música, por horas, enquanto
os dois troncos, já brancos de tanto
serem raspados, recebem o alisamento final.
Pouco antes do amanhecer, a largada.
Cada time ergue seu tronco, de cerca de 15
metros, e sai em disparada para o meio da
vila. Depois de encaixarem-nos em locais previamente
preparados, continuam seu ritual de canto
e dança. Os troncos viraram bandeiras,
para as quais a música é uma
espécie de hino. Todos ganham; a competição
é só um pretexto para reverenciar
a natureza.
Umas poucas moças, com os seios nus,
pintam a base dos troncos com a tradicional
tinta vermelha extraída do urucum.
A maioria das mulheres, no entanto, e as crianças
assistem a alguma distância, sem demonstrar
grande entusiasmo nem preocupação
com o resultado. Terminada a demonstração
de força dos homens, elas começam
a dispersar. Não participam da competição
nem das reuniões com a diretoria da
Funai. Tampouco integram a comitiva que vem
receber os visitantes. Mas quem freqüenta
a aldeia garante que, entre os Kayapó,
são elas quem mandam.
Os índios pintam o corpo de preto,
esbanjam braceletes, colares e outros ornamentos
– um aproveita o furo avantajado na orelha
para carregar um isqueiro; raspam na raiz
uma faixa de cabelo que vai da testa até
o meio da cabeça, como um moicano às
avessas; divertem-se nas águas do rio
Fresco, que tem uma praia formada por um banco
de areia na margem oposta e, dizem, jacarés.
A reportagem viajou a convite da Fundação
Nacional do Índio (Funai).
Foto: Agência Brasil