31-08-2006
– Manaus - Floresta Nacional do Jamanxim,
na região da BR-163, foi a UC que mais
queimou em todo o Brasil, com 980 focos de
calor
Na última semana,
o fotógrafo Araquém Alcântara
documentou para o Greenpeace grandes desmatamentos,
queimadas e extração ilegal
de madeira em cinco Unidades de Conservação
(UCs) da Terra do Meio e às margens
da BR-163, no Pará. Durante o mês
de agosto (1), o Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) registrou 91.575 focos
de calor na Amazônia, dos quais 2.954
em unidades de conservação e
5.544 em terras indígenas. O Pará
foi recordista em focos de calor, com 33.139
focos, sendo 1.801 em Unidades de Conservação
e 1.925 em Terras indígenas, mas outros
estados, como Mato Grosso, Maranhão
e Rondônia, também vêm
apresentando grande quantidade de incêndios
e queimadas, dentro e fora de UCs e terras
indígenas.
Além disso, dados
recentes do Deter (Detecção
de Desmatamento em Tempo Real, do Inpe), apontam
novo aumento do desmatamento na região
amazônica, depois da queda significativa
registrada no último ano. O sistema
indicou a ocorrência de 13.973 quilômetros
quadrados de desmatamentos de agosto de 2005
a julho de 2006, contra 12.883 quilômetros
quadrados no período anterior – um
acréscimo de 8,4%. Embora o Deter seja
inadequado para medir desmatamentos com precisão,
tem sido usado pelo governo como um indicador
importante do nível de destruição
da floresta.
Liderando a lista nacional
de focos de calor em Unidades de Conservação
no período, com 980 registros, está
a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, de
1,3 milhão de hectares, em Novo Progresso,
próxima à BR-163. Apesar das
Flonas permitirem o uso sustentável
dos recursos naturais por meio do manejo florestal,
intensa atividade madeireira ilegal foi documentada
na área, que está localizada
no primeiro Distrito Florestal Sustentável
criado através de decreto presidencial
em fevereiro de 2006 para ser objeto de concessões
para manejo florestal. “Se as atividades ilegais
ali não forem interrompidas imediatamente,
não vai restar nenhum recurso para
ser manejado num futuro próximo.”,
diz André Muggiati, da campanha da
Amazônia do Greenpeace. O vizinho Parque
Nacional do Jamanxim, que deveria ser destinado
apenas a atividades de pesquisas e turismo,
também foi bastante afetado pelo fogo,
com 43 focos de calor.
A Estação
Ecológica (Esec) da Terra do Meio,
criada em fevereiro de 2005 com 3,3 milhões
de ha, é outro exemplo da despreocupação
dos infratores em relação às
autoridades. No centro da UC, os responsáveis
pelo famoso desmatamento apelidado de revólver,
devido a sua forma peculiar, incendeiam a
mata que tentava se regenerar e aproveitam
para ampliar um pouco mais os seus limites.
Esse desmatamento já foi multado pelo
Ibama em 2004. Uma pista de pouso clandestina
persiste no local, apesar das operações
de explosão realizadas na área
pela Polícia Federal em fevereiro de
2006. As Estações Ecológicas
são as UCs mais restritivas que existem
e deveriam ser destinadas apenas a pesquisas
científicas, mas a Esec Terra do Meio
registrou 460 focos de calor em agosto, sendo
a terceira mais queimada em todo o país.
No Parque Nacional da Serra
do Pardo, de 445 mil ha, incêndios estão
destruindo a área pelas beiradas. Pequenos
desmatamentos e queimadas recentes despontam
no seu interior. Já na Reserva Extrativista
(Resex) Verde Para Sempre, com 1,2 milhão
de hectares na foz do rio Xingu, invasores
ampliam seus domínios e instalam cercas
e currais em fazendas localizadas no sul da
área, onde não há populações
tradicionais, mas muita floresta que poderia
ser manejada.
Enquanto isso, queimadas
também causam destruição
nas florestas tropicais do sudeste asiático,
onde o Greenpeace também documentou
grandes focos de incêndios nas florestas
tropicais da Sumatra, na Indonésia,
com enorme prejuízo para a biodiversidade
e para o equilíbrio climático
do planeta. O desmatamento das florestas tropicais
responde por 25% das emissões globais
de dióxido de carbono, o principal
gás de efeito estufa. No Brasil, o
desmatamento e as queimadas são a principal
fonte de emissões: 75% de todo o carbono
lançado na atmosfera pelo país
vem da conversão de florestas, em especial
na Amazônia.
“A destruição
da floresta nos expõe não só
como vilões da biodiversidade, mas
também do clima do planeta", afirmou
Carlos Rittl, coordenador da Campanha de Clima
do Greenpeace. "O Brasil já é
o quarto maior emissor mundial de gases de
efeito estufa, principalmente em função
do desmatamento e das queimadas. A destruição
da Amazônia gera um círculo vicioso.
Desequilibra o clima regional e contribui
para o aquecimento global, que torna a floresta
mais seca e, portanto, mais vulnerável
ao fogo. A floresta já tão ameaçada
pelo desmatamento pode, em poucas décadas,
ser substituída por uma vegetação
muito mais pobre", explicou.
Para o Greenpeace, é
necessário aumentar e equipar o efetivo
do Ibama nessas regiões para que seja
possível implementar e fiscalizar as
Unidades de Conservação criadas
nos últimos três anos. Durante
o governo Lula foram criados 30 milhões
de hectares em áreas protegidas na
Amazônia. Outras Unidades de Conservação
dessa região do Pará com focos
de calor registrados em agosto são
o Parque Nacional do Rio Novo, em Novo Progresso,
Floresta Nacional de Altamira e Floresta Nacional
de Itacaiunas, em São Félix
do Xingu.
SERVIÇO
No último dia 23 de agosto, o Greenpeace
lançou no Brasil uma campanha para
discutir a vulnerabilidade do País
em relação às mudanças
climáticas e sua responsabilidade em
reduzir de forma significativa sua contribuição
ao problema através do combate ao desmatamento
e as queimadas na Amazônia. A campanha,
que conta com relatório, documentário
e uma exposição itinerante,
está percorrendo várias cidades
brasileiras.
NOTA:
(1) Total parcial de focos
de calor registrado pelo Inpe até a
manhã de 31 de agosto.