28 de Agosto de 2006 - Julio Cruz Neto -
Enviado especial* - Terra Indígena
Kayapó (Pará) - Enquanto os
guerreiros defendem a terra contra os invasores,
em parceria com as autoridades, as crianças
se divertem nas águas do rio Fresco.
Aldeia Kikretum (Pará) - Os invasores
da Terra Indígena Kayapó, no
sul do Pará, persistiram na ilegalidade.
Depois de serem expulsos durante a Operação
Kayapó, no início do mês,
eles voltaram ao local e esboçaram
uma resistência, ateando fogo ao acampamento
montado no local pelas autoridades. Para evitar
a repetição do problema, a Fundação
Nacional do Índio (Funai) e os índios
kayapó resolveram ocupar o local permanentemente,
com uma equipe mista.
“Saímos de lá por dois dias.
Foi um cidadão de caminhonete e queimou
o barraco”, conta Eimar Araújo, coordenador
da operação. “Agora colocamos
uma corrente grossa, não tem mais como
entrar carro”. A estratégia de vigilância
ainda não foi acertada, mas a idéia
é fazer um rodízio, deixando
sempre no local um índio e um funcionário
da Funai, dificultando eventuais subornos
ou outras irregularidades.
A Operação Kayapó, articulada
pela Funai, Ibama e Polícia Federal,
descobriu até agora 19 trabalhadores,
sete suspeitos de serem mandantes e cinco
possíveis grileiros com alguma participação
na invasão. Na semana passada, o presidente
da Funai, Mèrcio Pereira Gomes, foi
acompanhar junto aos índios kayapó
o balanço da operação
de retirada de invasores.
A diretora de Assuntos Fundiários
da Funai, Nadja Bindá, vê a necessidade
de se manter uma equipe da fundação
permanentemente na região para incentivar
os índios a manterem o acampamento
ocupado. “É normal que eles (kayapó)
tenham um temor de assumir a frente de uma
operação dessa, mas vai ter
que ser construída com eles uma estratégia
de ocupação”, afirma a diretora.
“Não dá para saber ainda qual,
pode ser uma roça, um cultivo de frutíferos,
algo para forçá-los a estabelecer
uma rotina de se deslocar da aldeia até
o local.”
A operação já foi prorrogada
por 15 dias, até 13 de setembro, e
a meta é mantê-la até
novembro, quando começam as chuvas
e que devem se estender até abril ou
maio. Durante este período, os índios
e a Funai acreditam que a terra kayapó
estaria livre de invasores devido à
dificuldade de montar estratégias sob
as fortes precipitações. Assim,
ganhariam tempo para o planejamento de uma
estratégia definitiva para livrar o
local de garimpo, grilagem e extração
ilegal de madeira, os três alvos da
Operação Kayapó.
No entanto, o coordenador de Patrimônio
e Meio Ambiente da Funai, Izanoel dos Santos,
aponta que podem haver dificuldades de manter
a operação caso não haja
recursos específicos para essa fase.
“O orçamento do governo brasileiro
vai acabar em setembro, aí vai esperar
aquele crédito suplementar que só
sai em dezembro. Uma equipe dessa custa grana,
você pode espremer, espremer e conseguir
mais agosto, setembro, no máximo até
metade de outubro.”
O orçamento do primeiro mês
da operação, segundo ele, foi
R$ 112 mil. Santos, no entanto, pondera que
este valor cairia de agora em diante, pois
poderia ser reduzido o número de funcionários
e não seria mais necessário
manter um avião constantemente no local.
Líder dos guerreiros da aldeia
Kikretum diz que vai tirar até a roupa
dos invasores
29 de Agosto de 2006 - Julio Cruz Neto -
Enviado especial* - Terra Indígena
Kayapó (Pará) - O líder
dos guerreiros da aldeia Kikretum, Piyojô,
que afirma ter entre 62 e 64 anos, se diz
pronto para ocupar a terra invadida. A aldeia
é a base da Operação
Kayapó, que combate garimpo, extração
ilegal de madeira e grilagem.
Aldeia Kikretum (Pará) - A simpatia
e a suavidade no tom de voz do líder
dos guerreiros da aldeia Kikretum lembram
a de um mestre budista e podem fazer parecer
que os kayapó são um povo resignado.
Mas isso não passaria de um engano.
Piyojô (o “j” se pronuncia como “dj”),
o líder kayapó da aldeia ao
sul do Pará, conta que está
pronto para ocupar e defender o local que
os índios e as autoridades tomaram
de invasores durante a operação
da Polícia Federal, Ibama e Funai.
Se for preciso, usará, inclusive,
métodos de persuasão que já
se mostraram eficazes anteriormente. “Vou
pular em cima, tirar a roupa toda, sapato,
calça, tudo, e mandar embora pelado.
Já fiz isso ano passado. Era um fazendeiro
bravo, não falou nadinha. Ficou branquinho
me olhando”, conta Piyojô.
O porte físico de um garoto do líder
guerreiro dificulta crer que ele tenha, como
diz, entre 62 e 64 anos. Piyojô acompanhou
a comitiva do governo formada pela Polícia
Federal, Ibama e Fundação Nacional
do Índio (Funai) na primeira etapa
da operação, que expulsou os
invasores da terra indígena. Ele reconhece
que, apesar de terem coragem e disposição
para expulsarem sozinhos os invasores, “é
melhor quando a Funai, a polícia e
o Ibama ajudam, porque tem muito fazendeiro
querendo invadir”.
Depois de serem expulsos durante a Operação
Kayapó, no início do mês,
os invasores voltaram ao local e esboçaram
uma resistência, ateando fogo ao acampamento
montado no local pelas autoridades. Para evitar
a repetição do problema, a Funai
e os índios kayapó resolveram
ocupar o local permanentemente, com uma equipe
mista.
Piyojô é um dos que ficará
no acampamento dos invasores montando guarda.
“Não tenho medo de nada”, diz.
A estratégia de vigilância ainda
não foi acertada, mas a idéia
é fazer um rodízio, deixando
sempre no local um índio e um funcionário
da Funai, dificultando eventuais subornos
ou outras irregularidades.
A reportagem viajou a convite da Fundação
Nacional do Índio (Funai).
Foto: Agência Brasil