O resultado de onze expedições
científicas no Corredor do Amapá
mostra avanço no conhecimento sobre
a biodiversidade da região e traz subsídios
para ações de conservação
no estado
Macapá, 28 de agosto
de 2006 — Na última sexta-feira, foram
apresentados em Macapá os resultados
de onze expedições científicas
realizadas em diferentes regiões inseridas
em três Unidades de Conservação
e no cerrado dentro da área do Corredor
de Biodiversidade do Amapá. Entre os
resultados mais importantes estão a
descoberta de 23 espécies novas para
a ciência, ocorrências inéditas
para o estado e o país e a redescoberta
de espécies que estavam sem registro
no Amapá há já algumas
décadas.
Além de prestar contas
para a sociedade amapaense e apresentar os
resultados do projeto, os pesquisadores reunidos
em um seminário na capital mostraram
a importância da iniciativa para a conservação
da biodiversidade do estado.
Entre as mais de 1.700 espécies
de animais e vegetais registradas, os peixes
destacam-se como o grupo com maior número
de novas espécies descobertas. Entre
as 298 espécies catalogadas, dez jamais
haviam sido descritas pelos cientistas, uma
não havia sido relatada no Brasil,
e trinta constituem novas espécies
para o Amapá.
No grupo de crustáceos,
os pesquisadores encontraram três possíveis
novas espécies, com cinco ocorrências
inéditas para o estado. Entre as aves,
aponta-se a descoberta de uma nova espécie
que pertence ao gênero Myrmotherula
e popularmente conhecida como Choquinha, entre
as 438 espécies encontradas.
A riqueza da biodiversidade
das áreas pesquisadas também
torna-se evidente nos resultados alcançados
no estudo dos répteis e anfíbios
(Herpetofauna), com a descoberta de oito possíveis
novas espécies, três novos registros
para o país e mais de 50 para o estado,
observando-se ainda a ocorrência de
cinco espécies raras. Os pesquisadores
registraram ainda uma possível espécie
nova de um pequeno mamífero (roedor),
que ainda está sob análise de
taxonomistas para confirmar a descoberta.
Outro destaque é
a redescoberta de espécies que há
mais de três décadas não
eram registradas pelos cientistas nas florestas
do Amapá. Destaca-se o lagarto Amapasaurus
tetradactylus, cujo último registro
de ocorrência no Amapá foi feito
há 35 anos “O reaparecimento de um
animal é digno de comemoração
como a descoberta de uma nova espécie”,
compara o herpetólogo Jucivaldo Lima,
que participou das expedições.
Os pesquisadores deram ênfase
aos registros de mamíferos, aves, répteis,
anfíbios, crustáceos, peixes
e plantas superiores . “Terminamos a série
de onze expedições muito satisfeitos
com os resultados dos trabalhos, conta Enrico
Bernard, Gerente do Programa Amazônia
da Conservação Internacional
(CI-Brasil) e coordenador do projeto.
As expedições
tiveram longa duração, em média
21 dias cada, e os locais visitados eram de
difícil acesso. ”Em todas as viagens
tomamos muito cuidado e tivemos uma atenção
especial na organização e logística
para que nada desse errado. O que eu mais
temia era que algo de ruim acontecesse aos
pesquisadores e felizmente isso não
ocorreu”, completou Bernard.
Ao todo, o grupo de mais
de oito cientistas de diferentes especialidades
e a equipe de apoio ficaram - somando todas
as viagens -, 222 dias no campo explorando
áreas até então pouco
conhecidas pela ciência ou vistas somente
por meio de imagens aéreas.
Historicamente, as regiões
do Amapá foram pouco estudadas e visitadas
por pesquisadores, o que deixou lacunas no
conhecimento científico. A falta de
informação compromete a elaboração
dos planos de manejo das unidades de conservação
e a conseqüente gestão da área.
O Projeto Expedições
Científicas realizado no Corredor de
Biodiversidade do Amapá foi criado
para suprir parte dessa carência. “Quando
começamos as expedições
em agosto de 2004, tínhamos certeza
que elas iriam contribuir significativamente
para aumentar o conhecimento sobre a diversidade
do Amapá” afirma Antônio Carlos
Farias, secretário de Meio Ambiente
do estado.
As informações
colhidas nas expedições já
estão sendo usadas para a elaboração
dos planos de manejo das unidades. O plano
de manejo é importante porque contém
todas as informações sobre uma
unidade de conservação, incluindo
suas características, zoneamento e
regras de uso, o que o torna fundamental para
o real funcionamento de qualquer área
protegida. Christoph Jaster, do Ibama e chefe
do Parque Nacional do Tumucumaque, aponta
que as expedições foram fundamentais
para a aquisição de informações
sobre o Parque.
A pesquisadora Ana Carolina
Martins, responsável pelo inventário
de morcegos, ainda se refaz do que pode ser
considerado o sonho de qualquer biólogo
de campo: desvendar lugares nunca antes visitados
e encontrar fauna e flora ainda intocadas.
“Estas expedições foram surpreendentes.
Vimos animais raros e de difícil observação.
Um dos momentos mais marcantes foi ver de
perto um grupo de mais de 100 queixadas cruzar
o rio bem na nossa frente!”, lembra a pesquisadora.
Onças, gatos maracajá,
antas, tamanduás bandeira, tatus-canastra,
veados, cutias, macacos e pacas são
alguns dos animais vistos nas expedições
e enumerados pela geógrafa Cláudia
Funi, que participou de todas as expedições.
“Os animais não eram ariscos, e muitos
se mostraram curiosos, aproximando-se de nós,
o que serve como indício de que nas
áreas onde encontramos esses animais
não existe caça predatória”,
completa Cláudia, que teve como atribuição
ajudar na escolha dos locais a serem inventariados.
O projeto, que durou dois
anos, foi realizado pelo Instituto de Pesquisas
Científicas e Tecnológicas do
Amapá (IEPA), IBAMA, Secretaria de
Meio Ambiente do Amapá e a organização
não-governamental Conservação
Internacional (CI-Brasil).