28
de Agosto de 2006 - Julio Cruz Neto - Enviado
especial - Aldeia Kikretum (Pará) -
A Operação Kayapó, que
combate invasão de terra indígena
no sul do Pará, foi detonada a partir
da aldeia Kikretum. Os vizinhos viram, gostaram
da idéia e pediram para participar
da segunda fase, que consiste em manter ocupado
o local que foi tomado dos criminosos, para
evitar que eles retornem – o que já
ocorreu uma vez.
“As outras aldeias estão
enciumadas. Pretendemos fazer um revezamento”,
explica Eimar Araújo, coordenador da
operação. “O kayapó é
educado para ser guerreiro, então é
como se a gente estivesse prestigiando mais
uns que os outros”. Mas ele aponta outra razão
para os índios quererem colaborar:
a possibilidade de ganhar utensílios
como rede e coberta para vigiar a região.
“A carência é muito grande...”,
complementa.
A diretora de Assuntos Fundiários
da Funai, Nadja Bindá, diz haver autonomia
entre de diferentes aldeias da região,
e considera essencial levar em conta este
fator na hora de estabelecer a estratégia
de ocupação. “A gente identificou
que isso vai ter que ser feito respeitando
as diferenças internas. Eles se colocam
como aldeias, cada uma com sua autonomia,
com suas lideranças e expectativas”.
Ela não considera,
no entanto, que a autonomia seja um obstáculo.
“Não é que atrapalha, mas exige
um esforço de compreensão. Você
não pode falar contra a autonomia,
você tem que tomá-la positivamente
e construir eixos de integração
assumidos por eles. Isso leva tempo, porque
não está na cabeça deles.
Mas não pode ser encarado como negativo,
porque dentro de cada núcleo desses
[de aldeias], eles são muito unidos”.
De acordo com a diretora,
é inviável trabalhar com povos
indígenas no Brasil sem respeitar a
autonomia dos grupos familiares. “Se não
respeitar, não funciona. Você
faz uma ação, mas ela não
tem continuidade, não se concretiza,
porque de alguma forma você passou por
cima disso”.
A Operação
Kayapó, articulada pela Funai, Ibama
e Polícia Federal, descobriu até
agora 19 trabalhadores, sete suspeitos de
serem mandantes e cinco possíveis grileiros
com alguma participação na invasão.
Na semana passada, o presidente da Funai,
Mèrcio Pereira Gomes, foi acompanhar
junto aos índios kayapó o balanço
da operação de retirada de invasores.
*O repórter da Agência
Brasil viajou a convite da Funai