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de Agosto de 2006 - Julio Cruz Neto - Enviado
especial* - Terra Indígena Kayapó
(Pará) - O presidente da Funai, Mércio
Pereira Gomes, encontrou-se com o índio
Paulinho Payakã na aldeia Kikretum,
pouco depois de dizer que está decepcionado
porque está prestes a sair da fundação
e não conseguiu livrar o cacique de
uma condenação por estupro.
Aldeia Kikretum (Pará) - Os Kayapó
são um povo guerreiro. Desta vez, no
entanto, os guerreiros da aldeia Kikretum,
ao sul do Pará, decidiram guardar a
borduna (arma de madeira) e esperar o resultado
da ajuda do governo. Uma operação
conjunta da Fundação Nacional
do Índio (Funai), do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) e da Polícia Federal no início
do mês tirou das terras indígenas
invasores que praticavam grilagem, corte ilegal
de madeira e garimpo.
O cacique kayapó
Paulinho Payakã, que esteve na aldeia
Kikretum durante visita da equipe da Funai,
diz que a situação já
não obedece completamente a tradição
kayapó. “Eu participei de várias
caminhadas quando não tinha demarcação.
Acompanhei grupo que expulsou pessoas garimpando.
Depois, com a terra demarcada, tomamos conhecimento
de que o governo também é responsável
pelo território brasileiro e pelo território
indígena. A obrigação
do governo é agir para retirar invasores,
conforme pede a comunidade”.
Payakã, no entanto,
não põe em dúvida a valentia
dos Kayapó. “Assim como as tradições
de rituais seguem, essa luta segue”. O cacique
acha correto os Kayapó aceitarem ajuda
das autoridades para retirar os invasores
dentro da lei. Para ele, outro tipo de ação
seria mal interpretado pelo homem branco.
“Se morrer um branco, [a sociedade branca]
vai querer culpar o índio”.
Mesmo que o governo não
agisse, os índios estavam dispostos
a expulsar invasores de suas terras, disse
o coordenador da operação que
combate a invasão da terra deste povo
indígena no sul do Pará, Eimar
Araújo.
Araújo, que trabalha
com os Kayapó há cinco anos,
vê uma conscientização.
“Se fosse para eles agirem da forma tradicional
deles, certamente agiriam sozinhos, aí
as conseqüências não dá
nem pra gente pensar, [os invasores] não
estariam aí para contar a história.
Não acredito que eles se sintam inferiorizados
como guerreiros, porque existe uma conscientização
das leis, de que o Estado tem o dever de proteger
a terra”.
*A reportagem viajou a convite
da Fundação Nacional do Índio
(Funai).