29/08/2006
- Associação Quilombo de Ivaporunduva,
no Vale do Ribeira, vence pregão da
prefeitura de Suzano, em São Paulo,
e mostra que está organizada para comercializar
seu principal produto sem atravessadores e,
assim, garantir maior renda para a comunidade.
O Quilombo de Ivaporunduva,
localizado no Vale do Ribeira, estado de São
Paulo, vem fazendo história ao criar
oportunidades comerciais e abrir novos mercados
para escoar sua produção de
banana nanica. Com o objetivo de melhorar
a renda das famílias, por meio de uma
distribuição orientada para
públicos e instituições
que ofereçam melhores condições
de preços e prazos, a comunidade decidiu
participar do Pregão de Hortifrutis
da Secretária de Educação
da Prefeitura de Suzano (SP).
No dia 3 de julho a Associação
Quilombo de Ivaporunduva, acompanhada pelos
técnicos do Instituto Socioambiental
e assessorados pelo Instituto de Terras de
São Paulo (Itesp), participou pela
primeira vez de uma disputa em licitações
para fornecimento de frutas. E ganhou. Assim,
a comunidade de Ivaporunduva, por meio de
sua associação, entrou para
o rol de fornecedores de frutas do município
de Suzano, vencendo o pregão com a
melhor proposta. As 4.840 caixas de banana
nanica (aproximadamente 97 toneladas), que
serão entregues durante os próximos
quatro meses, têm como destino a merenda
escolar das crianças de Suzano.
Participar de um pregão
coloca à prova o grau de organização
da comunidade, porque as exigências
legais e documentais devem ser rigorosamente
seguidas. A associação deve
estar organizada para fazer frente às
exigências de prazos de entrega, qualidade
e quantidades mencionados no contrato, enfim,
tudo o que é exigido para qualquer
empresa que queira participar de processos
licitatórios conforme determina a legislação.
A participação da comunidade
de Ivaporunduva só foi possível
graças ao fato da prefeitura de Suzano
ter aberto um processo de licitação
que cria condições para as associações
de pequenos produtores familiares poderem
participar em situação de igualdade
com fornecedores tradicionais.
Benefício
nas duas pontas
A alternativa de comercialização
da produção sem atravessadores
possibilita que o lucro seja reinvestido pela
associação local em estratégias
de melhoria da produção, com
um maior acompanhamento da qualidade da banana
e com a prospecção de novas
oportunidades de mercado. Parte dos recursos
obtidos com a venda da banana são reinvestidos
na manutenção da infra-estrutura
da associação, garantindo sua
continuidade.
A comunidade aposta na continuidade
desta estratégia, pois a diversificação
do mercado aumenta a possibilidade de fornecimento
de banana e reduz as incertezas de fornecimento
nos períodos de safra. A associação
quilombola aprendeu que a conquista de novos
mercados é fruto de muito trabalho
e da participação e comprometimento
dos produtores no planejamento de novas estratégias.
Ao assumir o compromisso
de entregas semanais, os quilombolas precisam
se organizar para cumprir algumas exigências
de mercado como pontualidade e qualidade.
Ganhando, como resultado, a confiança
dos compradores e o aumento de sua auto-estima.
Produto com valor
agregado
Atualmente, a produção
da banana envolve todas as oitenta famílias
da comunidade de Ivaporunduva, formada por
remanescentes de escravos fugidos ou de ex-escravos.
Dentre elas, vinte e oito famílias
estão investindo na alternativa orgânica
da fruta, agregando valor ambiental ao produto.
A Associação
Quilombo de Ivaporunduva e o Instituto Socioambiental
(ISA), firmaram parceria em 1999 para a implementação
de ações voltadas ao desenvolvimento
socioeconômico, conservação
ambiental e melhoria da qualidade de vida
da comunidade. Os produtores de banana do
quilombo enfrentavam um grande desafio para
atingir a sustentabilidade econômica
de sua atividade, inserir a banana em melhores
mercados, em especial o de produtos orgânicos,
valorizando os aspectos ambientais e culturais
agregados e propiciando-lhes melhores rendimentos.
Com o apoio financeiro do
Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA-PPG7),
do Ministério do Meio Ambiente e da
Petrobras, a parceria também possibilitou
que, nos últimos anos, diversos avanços
ocorressem em Ivaporunduva para a melhoria
das condições de trabalho dos
quilombolas, como a aquisição
da infra-estrutura necessária para
o transporte da produção, organização
do grupo de agricultores para a comercialização
de forma conjunta e a certificação
orgânica da banana produzida pelos quilombolas,
realizada pelo Instituto Biodinâmico
(IBD).
Karin Rettl e Marcos Gamberini.