05/09/2006
- A criação da primeira organização
internacional para reduzir os impactos negativos
da produção de soja foi anunciada
ao fim da Segunda Conferência sobre
Soja Responsável (RTRS, da sigla em
inglês), que aconteceu em Assunção,
Paraguai, de 31/08 a 01/09. A nova organização
é uma iniciativa de produtores, processadores,
comerciantes, instituições financeiras
e organizações da sociedade
civil e é uma resposta aos anseios
de consumidores por uma soja mais social e
ambientalmente responsável.
A primeira tarefa da nova
organização será desenvolver
e implementar, globalmente, princípios,
critérios e indicadores para produção,
processamento, comercialização
de uma forma responsável, em 18 meses.
Os 200 participantes do RTRS acreditam que
esses princípios e critérios
(ver documento final http://www.responsiblesoy.org)
devem refletir questões como proteção
à biodiversidade, limites da conversão
de habitats naturais em plantações
de soja, melhores práticas agrícolas,
e cumprimento às leis trabalhistas
locais.
“Chega de desmatamento para
a agricultura. A criação formal
da RTRS e o compromisso de alguns dos principais
atores da cadeia da soja de adotar princípios
e critérios por uma soja produzida
com mais responsabilidade é um marco”,
afirma Leonardo Lacerda, Diretor de Conservação
do WWF-Brasil. “O setor privado está
começando a entender que é necessário
fazer a parte deles, e rapidamente, para evitar
conseqüências mais drásticas
para o Brasil como o boicote do produto ou
a adoção de barreiras não
tarifárias para erradicar a soja produzida
de forma irresponsável”.
A soja é usada para
produzir óleo comestível, cosméticos,
alimentos para humanos e animais como gado,
porcos, aves e peixes. Os princípios
e critérios vão levar a um mecanismo
de mercado para evitar os impactos negativos
da produção de soja e sua expansão.
Na Europa, por exemplo, os comerciantes de
soja vêm sendo criticados por comprarem
de produtores que estão ajudando a
destruir habitats de grande valor para a conservação
como a Amazônia e o Cerrado. Igualmente,
na América do Sul, o setor da soja
é criticado por desmatamento, apropriação
ilegal de terras públicas, retirada
de pequenos produtores de suas terras e o
não cumprimento das leis trabalhistas
locais.
“Esta conferência
vem ao encontro do que estávamos esperando:
prazos e o comprometimento para desenvolver
critérios e indicadores garantindo
mais responsabilidade dentro do setor da soja
e um claro compromisso dos nossos fornecedores”,
afirma Jan Nicolai, da Nutreco, um das maiores
empresas compradoras de ração
animal no mundo.
Na opinião de Martin
Tielen, Presidente da Federação
Européia de Manufaturadores de Alimentos
(FEFAC), “passos maiores ainda precisam ser
tomados, mas já fizemos um grande progresso
nesses dois dias”.
“Esta iniciativa mostra
como o mercado e os governos podem cooperar
e o Paraguai, país que sediou o evento,
deu um exemplo do que é possível
quando há vontade política”,
afirma Bella Roscher, Coordenadora do WWF
- Internacional para a Soja. “Em 2004, o Paraguai
aprovou a Lei de Desmatamento Zero. Em apenas
dois anos foi possível reduzir a taxa
anual de desmatamento em 85% no leste do país
e ainda assim, a produção e
a exportação de soja aumentaram,
mostrando que o desenvolvimento pode acontecer
paralelamente à proteção
ambiental”.