Ji-Paraná
(05/09/06) - A exemplo do jovem Daniel que,
conforme passagem bíblica, sofreu todo
tipo de tentações ao mudar-se
para Babilônia, um analista ambiental
recém-empossado passou por assédios
e coações de colegas, lobistas
e madeireiros para que “colaborasse” com esquema
de corrupção, há anos
em funcionamento em Rondônia. O “Daniel”
do Ibama mantém o anonimato por questão
de segurança dele - resistiu ao assédio
e ajudou a Polícia Federal a desmantelar
a quadrilha.
O servidor recebeu propostas
indecorosas e até ameaças de
morte. “Ou você aceita este esquema
ou vai morrer, a vida aqui não vale
nada”, disse-lhe um dos servidores corruptos
que teve a prisão decretada na Operação
Daniel, deflagrada, nesta manhã, em
Ji-Paraná (RO). Com conhecimento da
Polícia Federal, da direção
do Ibama e autorização judicial,
o atual “Daniel” simulou conivência
com a quadrilha.
Chegou a receber mais de
R$ 20 mil em propina para sumir com a primeira
via de Autorizações de Transporte
de Produtos Florestais - irregularidade comum
praticada pelos cooptados - para evitar a
comprovação de venda de madeira
em volume superior ao que a empresa estava
legalmente autorizada a explorar. Em geral,
a madeira era ilegalmente extraída
de unidades de conservação e
de terras indígenas em Rondônia.
O principal destino: Santa Catarina.
As conversas com os corruptores
estão registradas em 36 vídeos,
gravados com autorização judicial.
As cenas são chocantes. “Este servidor
merece muito destaque”, elogiou o diretor
executivo da Polícia Federal, Zulmar
Pimentel, aos mais de 200 policiais federais
reunidos em Ji-Paraná antes do início
da operação. O diretor comparou
a coragem do analista ambiental ao do jovem
Daniel, por isso a operação
foi batizada com este nome. Na passagem bíblica,
Daniel é jogado na cova dos leões,
com outros três jovens, mas nada aconteceu
a eles por terem resistido às tentações.
No caso do jovem servidor, uma vez encerrado
o trabalho em Ji-Paraná, ele será
removido para outro estado.
Sandra Sato
Operação
conjunta entre Ibama e PF desmonta quadrilha
em Rondônia
Brasília (05/09/06)
– Na madrugada de hoje, o Ibama, MMA e Polícia
Federal deflagraram a 13ª operação
conjunta de repressão ao crime ambiental
organizado denominada “Operação
Daniel”. Dessa vez, o alvo foi uma quadrilha
que, há mais de cinco anos, atuava
em 10 municípios de Rondônia
e dois municípios do Mato Grosso.
Ao todo foram expedidos
58 mandados de prisão temporária
e 63 mandados de busca e apreensão.
Até o momento já foram presas
34 pessoas, entre elas sete servidores do
Ibama dos Escritórios de Ji-Paraná
e Costa Marques, o coordenador técnico
da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental
de Rondônia e ex-superintendente do
Ibama/RO, além de três policiais
rodoviários federais de Rondonópolis/MT,
quatro contadores, uma advogada e 42 empresários
e lobistas.
Alguns dos acusados já
tinham sido presos durantes as outras operações
conjuntas. Os criminosos comandavam um lucrativo
esquema de corrupção, falsificação,
adulteração, receptação
e venda de Autorizações para
Transporte de Produtos Florestais (ATPFs),
furto e ameaça com o fim de promover
a exploração e comércio
ilícito de madeira do Parque Estadual
Guajará-mirim, Parque Nacional de Pacaás
Novos e da Estação Ecológica
do Guaporé.
A madeira extraída
ilegalmente dessas unidades de conservação
localizadas em Rondônia era transportada
para Mato Grosso, Paraná e Rio Grande
do Sul. A operação Daniel foi
montada há seis meses, a partir de
denúncia à Polícia Federal
feita por servidor do Ibama que estava sendo
ameaçado e coagido a participar do
esquema de corrupção.
Com a coragem e determinação
do profeta bíblico, ele concordou em
atuar como “agente colaborador” para obter
materiais de prova, por meio de escutas telefônicas,
vídeos e valores em dinheiro. Madeireiros
chegaram a pagar R$ 2.000,00 por ATPF “calçada”
que fosse retirada do Ibama e R$ 5.000,00
semanais para liberar ilegalmente ATPFs para
diversas empresas “fantasmas” que seriam movimentadas
por empresas de Ji-Paraná, São
Francisco do Guaporé e Costa Marques.
A Operação
Daniel integra o Plano de Ação
para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal, instituído
desde 2003. De lá para cá já
foram realizadas 13 operações
conjuntas entre Ibama e Polícia Federal,
que resultaram na prisão de 415 pessoas,
sendo 100 servidores do Ibama, 19 servidores
públicos de outras instituições
e 296 madeireiros e lobistas.
Kézia Macedo