06-09-2006
– Manaus - O governo federal anunciou ontem
que, entre agosto de 2005 e julho de 2006,
o Brasil teria perdido 10.930 km2 de florestas,
uma queda de 11% em relação
ao período anterior. Para o Greenpeace,
este dado não é confiável
por estar baseado somente em dados do sistema
Deter (Detecção de Desmatamento
em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), que identifica apenas
desmatamentos maiores que 25 hectares. O sistema
Deter não foi criado para apontar índices
de área desmatada e sim mostrar em
tempo real onde estariam acontecendo desmatamentos
para subsidiar operações de
fiscalização.
“Até meados de agosto,
os dados do Deter mostravam uma taxa de 13.973
mil km2 para o período 2005-2006, maior
que a taxa do período anterior. Os
dados usados por nós foram baseados
em três índices fornecidos pelo
próprio Inpe: área de desmatamento
consolidado, de floresta queimada e com indícios
de perturbação, geralmente início
de desmatamento. O governo publicou um número
menor porque considerou somente o valor de
desmatamento consolidado e não considerou
os outros dois índices, daí
a diferença”, disse Andrew Murchie,
coordenador do Laboratório de Geoprocessamento
do Greenpeace.
“A função
do Deter não é calcular taxas
de desmatamento, pois ele gera incorreções
e, conseqüentemente, especulações
nos índices de área desmatada.
Esperamos que o governo consiga analisar e
publicar os dados do sistema Prodes pelo menos
até o final deste ano, pois este é
o sistema ideal para saber o quanto de floresta
perdemos desta vez”, avaliou Murchie.
Para se ter uma idéia,
segundo o Deter, para o período anterior
(2004-2005), a taxa teria sido de 12.883 mil
km2, quando o resultado real do desmatamento
na Amazônia foi 18.790 km2, de acordo
com o sistema Prodes (Monitoramento do Desmatamento
na Amazônia Legal, do Inpe), criado
para este fim.
“A redução
no desmatamento entre 2004-2005 é promissora,
mas o problema está longe de ser resolvido.
Neste período, a economia não
foi favorável a dois produtos que têm
papel importante no avanço da destruição
da floresta: o gado e a soja. Por isso, houve
uma retração na abertura de
novas áreas para estabelecimento das
fazendas”, disse Marcelo Marquesini, da campanha
da Amazônia do Greenpeace. “Um índice
entre 16 a 18 mil km2 por ano é muito
alto, não é motivo de comemoração
e muito menos aceitável para qualquer
país comprometido com seu patrimônio
natural”, complementou.
Um fato que chama atenção
é que alguns municípios famosos
campeões de desmatamento como Porto
Velho (RO), São Félix do Xingu
(PA) e Altamira (PA) continuam aparecendo
no pódio, indicando que os vetores
do desmatamento nestas regiões continuam
ativos sem sofrer com as medidas governamentais.
Durante o mês
de agosto foram registrados 91.575 focos de
calor na Amazônia, dos quais 2.954 localizavam-se
em unidades de conservação e
5.544 em terras indígenas. O Pará
foi recordista, com 33.139 focos, sendo 1.801
em Unidades de Conservação (UCs)
e 1.925 em Terras Indígenas. Outros
Estados, como Mato Grosso, Maranhão
e Rondônia, também vêm
apresentando grande incidência de incêndios
e queimadas. Isso não é motivo
de alegria.