04/09/2006
- Pesquisadora destaca potencial de plantas
da Amazônia utilizadas pela indústria
de cosméticos e de perfumaria.
O uso de plantas da floresta
Amazônica para a produção
de fitocosméticos (segmento da cosmetologia
que se dedica ao estudo e aplicação
de substâncias de origem vegetal) tem
se tornado comum entre as grandes indústrias
de higiene e limpeza para a produção
de cremes, perfumes, sabonetes, óleos,
entre outros. Impulsionado, principalmente,
pelo apelo que a biodiversidade exerce sobre
as pessoas, além de substituírem
os produtos derivados de minerais e animais
que podem ser prejudiciais à saúde.
Contudo, a prática deve estar em sintonia
com a tendência de aproveitar os recursos
disponíveis, mas sem agredir o meio
ambiente.
Segundo a doutora em química
orgânica pela Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), Maria da Paz Lima,
pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa/MCT), existem cuidados
na exploração dos produtos naturais
que devem ser tomados para evitar o desgaste
das plantas, como a extinção
- principalmente, das de grande porte -, pois
têm um ciclo vegetativo longo (demoram
a crescer). Esses e outros assuntos foram
tratados durante a mesa-redonda Plantas Aromáticas
da Amazônia: Pesquisas, Aspectos Econômicos
e Sustentabilidade.
A mesa-redonda fez parte
do 1º Simpósio da Sociedade Brasileira
Para o Progresso da Ciência (SBPC) no
Amazonas, cujo o tema foi “Desafios e Perspectivas
da realidade Amazônica: Pesquisa e Sustentabilidade”.
Além da pesquisadora do Inpa, participarão
da mesa os pesquisadores Francisco Célio
Maia Chaves, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e Maria das
Graças Bichara Zoghbi, do Museu Paraense
Emílio Goeldi (MPEG/MCT). A SBPC teve
início na última terça-feira
e terminou na quinta-feira (31/8).
Maria da Paz disse que na
Amazônia existem algumas plantas com
potencial para a indústria de cosméticos,
como a Aniba canelilla e a Cinnamomum verum,
conhecidas popularmente como preciosa e canela-da-índia
e/ou canela-do-ceilão, respectivamente.
A preciosa possui uma substância chamada
nitrofeniletano. O nome é estranho,
mas tem um odor parecido com o da canela e
é utilizado por empresas de cosméticos.
Já a canela-da-índia
e/ou canela-do-ceilão é originária
de algumas regiões da Índia
e/ou do Ceilão. A planta foi introduzida
no campus do Inpa/V-8 por pesquisadores. “O
principal constituinte da planta é
o eugenol. A substância possui efeitos
interessantes para a indústria farmacêutica,
pois tem ação analgésica,
anestésica e anti-séptica”,
destaca Maria da Paz. Além disso, há
a família da Burseraceae, na qual destacam-se
as espécies Protium altsonii e Protium
strumosum. Na Amazônia, elas são
conhecidas como breu, breu branco, breu sucuruba,
breu vermelho e breu almescar. Existem mais
de 550 espécies e assemelham-se a uma
pasta, goma ou resina. “Os breus são
muito utilizados pela indústria de
cosméticos para a produção
de perfumes e óleos essenciais”, afirma.
Ela explicou que no caso
da Protium altsonii, seu principal constituinte
é o p-cimeno. É verificada a
presença da substância, em alto
teor, em oréganos europeus, o que proporciona
um aroma e sabor agradável, além
de favorecer a digestão. Já
na Protium strumosum é encontrado o
limoneno. Um composto químico, oleoso,
encontrado na casca das frutas cítricas
(limão, laranja, tangerina etc) utilizado
na composição de perfumes.
Os breus também são
utilizados na geração de renda
pela Comunidade Avive, localizada no município
de Silves, para a produção de
incensos de vareta. “Os breus, popularmente,
são empregados contra dores de cabeça,
descongestionante nasal, imobilização
de fraturas, repelente de insetos etc”, ressalta.
Mesmo com todas as aplicações
que as espécies de plantas citadas
anteriormente têm, a pesquisadora destaca
que a maior parte ainda não é
cultivada em larga escala, exatamente por
terem um ciclo vegetativo longo. Além
disso, não existe um plano de manejo
para as mesmas. Segundo Maria da Paz, com
um plano de cultivo é possível
evitar que aconteça a mesma pressão
que o pau-rosa sofreu, ocasionado pela procura
da árvore para a extração
de linalol. A substância é utilizada
pela indústria de fragrâncias
como matéria-prima para a fabricação
do famoso perfume francês Chanel nº
5. A árvore também está
incluída pelo Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) na lista de espécies sob risco
de extinção.
Segundo a pesquisadora,
os trabalhos foram desenvolvidos pelos estudantes
de Iniciação Científica
e contou com o financiamento do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq/MCT) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam). Para a análise dos óleos
essenciais, o trabalho contou com o auxílio
do MPEG/MCT e do Instituto Agronômico
de Campinas (IAC).
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA