06/09/2006
- Entre os integrantes da organização
criminosa estão o coordenador técnico
da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental
de Rondônia e ex-superintendente do
Ibama no Estado; sete servidores do órgão
ambiental federal; três agentes da Polícia
Rodoviária Federal; uma advogada, quatro
contadores e 42 madeireiros e lobistas. As
investigações tiveram início,
em fevereiro de 2006, após denúncia
de um servidor recém-empossado do Ibama
que estava sendo ameaçado e intimidado
por empresários.
Até o final da manhã
desta quarta-feira, dia 6 de setembro, 41
pessoas já tinham sido presas pela
Operação Daniel, realizada pela
Polícia Federal e o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) para desarticular uma quadrilha de
comércio ilegal de madeira que atuava
em dez municípios de Rondônia
e dois de Mato Grosso há cerca de cinco
anos. A madeira era vendida para os Estados
de Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná
e Santa Catarina. Foram expedidos 58 mandados
de prisão temporária e 63 de
busca e apreensão. Cerca de 250 policiais
federais participam da operação,
iniciada na madrugada de ontem.
Entre os integrantes da
organização criminosa estão
o coordenador técnico da Secretaria
de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia
e ex-superintendente do Ibama no Estado, Erismar
Moreira da Silva, já preso; sete servidores
do Ibama dos escritórios de Ji-Paraná
e Costa Marques; três agentes da Polícia
Rodoviária Federal de Rondonópolis,
que facilitavam o escoamento da madeira pelas
rodovias federais; uma advogada, quatro contadores
e 42 empresários e lobistas. Uma agente
da PF também foi presa em flagrante.
Outro dos detidos, Erasmo Hiriberto Zuffo,
já havia sido preso pela Operação
Curupira II, realizada no ano passado. Entre
os crimes praticados estão exploração
e comércio ilícito de madeira
retirada de Unidades de Conservação
ou originada de desmatamento ilegal; constituição
de empresas fantasmas; falsificação,
adulteração, receptação
e venda de Autorização de Transporte
para Produtos Florestais (ATPFs); além
de furtos em gerências do Ibama e corrupção
de funcionários públicos.
“Essa quadrilha atuava corrompendo
servidores públicos federais para promover
a lavagem de madeira apreendida ilegalmente.
Eles praticavam crimes não-ambientais
que davam suporte ao crime ambiental”, explicou
o delegado Jorge Pontes, chefe da Divisão
de Crimes Contra o Meio Ambiente da PF. Para
ele, os altos lucros alcançados com
a venda ilegal dos recursos naturais estimulam
a prática ilícita. “Infelizmente
o crime organizado sempre conta com o apoio
de agentes públicos e o crime ambiental
se torna atrativo porque é altamente
lucrativo”.
O nome da operação
refere-se à passagem bíblica
sobre o profeta Daniel, que ao ser jogado
numa cova de leões sobreviveu ileso.
As investigações tiveram início,
em fevereiro de 2006, após denúncia
de um servidor recém-empossado do Ibama
que estava sendo ameaçado e intimidado
por empresários madeireiros para liberar
ilegalmente ATPFs. Os criminosos chegaram
a oferecer de R$ 2 mil a R$ 5 mil para a liberação
dos documentos para empresas fantasmas utilizadas
por madeireiras de Ji-Paraná, São
Miguel, São Francisco do Guaporé,
Costa Marques, Cacoal, Pimenta Bueno, entre
outros municípios de Rondônia,
além de Rondonópolis e Pedra
Preta, no Mato Grosso. Com autorização
judicial, a PF filmou 16 membros da quadrilha
oferecendo o dinheiro. Na medida em que os
integrantes da organização efetuavam
a entrega dos valores, o funcionário
do Ibama encaminhava-os para apreensão.
A PF conseguiu reter R$ 21,5 mil.
Oswaldo Braga de Souza.