Recife
(08/09/06) - Bastante desidratado, com ferimento
no corpo e com um terço a menos do
seu peso após a soltura, o peixe-boi
(Trichechus manatus) Guape está de
volta ao Centro Mamíferos Aquáticos
do Ibama (CMA), onde funciona a sede nacional
do Projeto Peixe-Boi, na Ilha de Itamaracá,
em Pernambuco.
Em dezembro de 1995, Guape
foi encontrado encalhado na comunidade de
Coqueirinho, na Baía da Traição.
Após o comunicado do encalhe por um
pescador, o animal foi transferido para a
Unidade de Reabilitação, na
sede nacional do Projeto Peixe-Boi. Depois
de quatro anos na Ilha de Itamaracá,
Guape foi levado para o cativeiro natural
onde viveu por sete anos com Guaju, um outro
peixe boi, recebendo a visita de inúmeras
pessoas todos os dias.
Em abril deste ano, Guape
e Guaju ganharam a liberdade, num processo
chamado de reintrodução ao habitat
natural. Na ocasião, Guape apresentava
300 quilos e o deslocamento dos animais passou
a ser monitorado diariamente por meio de radiotelemetria.
No final de junho deste
ano, Guape perdeu seu companheiro. Guaju foi
encontrado morto próximo à gamboa,
onde viveu durante sete anos. Na necropsia
foi observado que o animal estava bastante
debilitado e que havia, dentro do estômago
do animal, grande quantidade de rendinha -
tipo de plástico utilizado ilegalmente
na captura de caranguejos nos mangues. “A
ingestão deste material pode ter levado
a espécie a ficar debilitada, resultando
em seu óbito”, explica a veterinária
da Fundação Mamíferos
Aquáticos (FMA), Fernanda Niemeyer,
responsável pela necropsia no animal.
Desde então, Guape
começou a apresentar um comportamento
atípico e um deslocamento diferenciado,
se dirigindo ao litoral do Rio Grande do Norte.
“Devido ao intenso deslocamento de Guape,
decidimos colocar um rádio via satélite
para acompanhar sua trajetória”, explica
Niemeyer. Porém, o aparelho foi encontrado
solto do animal. Em uma nova tentativa de
colocação do aparelho foi observado
que o animal apresentava-se bastante debilitado,
magro e com ferimentos.
A equipe técnica,
veterinária e de monitoramento, decidiu
recapturar o animal para tentar reabilitá-lo
na sede do Projeto Peixe-Boi”, explica a analista
ambiental responsável pelo Centro de
Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do CMA/Ibama,
Luisa Lopes. A recaptura foi feita na noite
do último domingo (3), na Barra de
Tabatinga, no Rio Grande do Norte. Mas, ao
chegar ao Centro, exames clínicos e
laboratoriais realizados constataram que o
animal havia perdido 95 quilos, desde a reintrodução.
Durante o manejo, foram
observados inúmeros ferimentos causados
por ostras, no corpo do animal, alguns profundos
e com sinais de inflamação.
Também havia presença de lesões
mais graves, onde ficava o cinto com o radiotransmissor
no animal. De acordo com Fernanda Niemeyer,
“este ferimento pode ter sido causado pelo
fato de algumas pessoas terem tentado interagir
com o animal, segurando Guape pelo cinto e
ele, no intuito de fugir, acabou lesionado
no local”, explica ela.
O animal ainda apresenta
outros problemas, como dores na respiração,
desidratação e impossibilidade
de se alimentar ou ingerir água. “Estamos
fornecendo mamadeira induzida, adicionada
de polivitaminicos, água de coco, frutas,
legumes, mel e própolis além
de medicações especificas para
o caso”, explica a médico-veterinária
da FMA, que ficou mais de 48 horas de plantão
acompanhando o desenvolvimento do quadro clínico
do animal. Atualmente o animal está
sendo monitorado 24 horas por dia, sempre
acompanhado de uma veterinária, dois
tratadores e um estagiário.
A piscina em que Guape se
encontra é isolada das demais para
evitar contaminação ou estresse
aos outros animais cativos. Na madrugada do
dia último dia cinco, o peixe-boi conseguiu
eliminar, junto com as fezes, um pedaço
de saco plástico e restos de um material
de redinha, do mesmo tipo que possivelmente
facilitou a morte de Guaju. Após isso,
Guape vem apresentando melhora significativa
respirando sem auxílio e ingerindo
água espontaneamente. O Projeto Peixe-Boi
é executado pelo Centro de Mamíferos
Aquáticos do Ibama, em parceria com
a Fundação Mamíferos
Aquáticos e com patrocínio oficial
da Petrobras.
Superlotação
- A capacidade de manejo do Cetas do CMA\Ibama
já estava no limite de sua capacidade
desde agosto de 2005, quando chegou o último
filhote encalhado vindo do Ceará. Para
que Guape fosse colocado nesse tanque, foi
preciso fazer uma realocação
do peixe-boi Assú, que passou para
o oceanário de visitação
do Eco-Parque Peixe-Boi & Cia. “Desde
1991, estamos investindo sem parar na ampliação
da estrutura para receber e manejar os animais.
Mas, hoje, essa estrutura, reconhecida internacionalmente
com uma das melhores para cuidar desses mamíferos
aquáticos, está pequena para
a demanda”, garante o chefe do CMA\Ibama,
Régis Lima, coordenador nacional do
Projeto Peixe-Boi.
O tanque de reintrodução,
que abriga os filhotes a partir de seis meses
até dois anos, tem sete animais, quando
deveria ter três. “Além disso,
existem ainda, oito filhotes, em idade ideal
para trocar para uma piscina maior, bem como
um adulto em piscina de filhote, todos à
espera de uma transferência para um
local mais adequado e na fila de reintrodução”,
explica Fernanda Niemeyer. Outro agravante
é o longo tempo de permanência
do animal na área de reabilitação.
Os filhotes chegam, na maioria das vezes,
com menos de um mês de nascido e só
estão aptos a serem devolvidos ao mar
quando desmamam e isso só acontece
entre dois e três anos de idade.
Luís Boaventura
Centro de Mamíferos Aquáticos
(CMA)