04
de setembro - Localizada à beira da
lagoa do Ipavu, no Parque Indígena
do Xingu, a aldeia Kamayurá esteve
em festa neste último final de semana,
nos dias 2 e 3 de setembro. Era a inauguração
da casa do cacique Cotok, filho do grande
líder e pajé Tacumã,
e o casamento de uma de suas filhas. A cerimônia
que se celebrava, e tomava o pátio
da aldeia ao som das flautas de taquara e
dos cantos, é conhecida como a “Festa
das Taquaras”. Virou a noite e entrou domingo
até a tarde. Já na sexta-feira
chegavam os povos convidados: Yawalapiti,
Waurá, Kuikuro e Mehinaku. Como em
todas as festas do Alto-Xingu, a harmonia
entre estes diferentes povos, cada qual com
sua língua, impressionava o visitante.
E na manhã de domingo teve início
as disputas de huka-huka, que tomaram a atenção
de todos. Jovens lutadores, bem preparados
e fortes, demonstraram, por mais de três
horas, a beleza do esporte xinguano. Os desafios
individuais eram lançados logo após
a disputa “oficial”, com dez lutadores para
cada lado. Sempre, depois de toda luta, seja
empate, seja vitória de um dos oponentes,
vinha o abraço fraterno. E voltavam
para junto de sua equipe a sorrir, e ouvir
palavras de motivação de seus
treinadores.
Por trás de todo
o tradicional cerimonial, se escondia a apreensão
com o futuro do Parque do Xingu e da cultura
desses povos. Contudo, percebia-se também
uma atmosfera de união cada vez maior
entre os grandes caciques do Alto-Xingu pela
defesa de sua área cultural. “A gente
não pode perder isso. É muito
bonito”, desabafou o chefe Takumã.
Foi na lagoa do Ipavu, mística, que
ele virou pajé. Um dos mais poderosos
do Xingu. Na seca, a lagoa não esvazia.
Na chuva, não enche. “Ela é
mágica”, disse, “tem que preservar
de onde vem a água dela”.
A presença do presidente
da Funai, Mércio Pereira Gomes, proporcionou
uma conversa entre as lideranças. Lá,
ele pôde ouvir os desabafos sobre as
apreensões em que vive a comunidade.
“A gente precisa fortalecer a Funai, presidente”,
pediu Cotok. “Estou preocupado como essa área
estará daqui a 20 anos”, confidenciou
o cacique dos Yawalapiti, e grande diplomata
do Xingu, Aritana. A pressão regional
da sociedade envolvente, localizada em maior
número nas cidades de Gaúcha
do Norte (o prefeito, por sinal, estava na
festa) e em Canarãna, faz aumentar
o temor pela insistente oferta de políticos
locais em abrirem estradas dentro do Parque,
serrarias, pousadas. “Antes os brancos matavam
a gente. Agora querem ser amigos, dar coisa,
esse papo todo do progresso, desenvolvimento.
Mas a gente quer ser o que a gente é.
Só isso”, insistia Aritana. “Precisa
proteger, e controlar a entrada de não-índios”,
diz o cacique Kuikuro, Afukaká.
Essas eram as conversas
que aconteciam na Casa dos Homens, entre as
lideranças reunidas no centro da aldeia,
enquanto se apreciavam as danças e
as músicas que circulavam pelo pátio.
“A flauta já está acabando,
está difícil encontrar estas
taquaras dentro do Parque”, comentou Tacumã.
Grupos representantes de todos os povos convidados
se revezavam na apresentação
das músicas. Eram dadas as explicações
culturais, as lembranças dos brancos
queridos que já se foram, como Orlando
e Cláudio Villas-Bôas, os amigos
de hoje, como a antropóloga Carmen
Junqueira e da esposa de Orlando, Marina.
“Aqui você vai andar livre, é
outra vida”, disse Cotok. “A gente só
pensa em alegrar as pessoas, a vida. Os mais
novos treinam para luta, flauta, as mulheres,
dança. A gente quer continuar assim”,
comentou o cacique Kamayurá, que era
o “dono”, como chamam o organizador, da festa.
“Mesmo que a gente tenha
televisão, gerador, trator, isso não
vai afetar a nossa cultura. Ela está
na nossa cabeça, no nosso corpo. Não
é a televisão que vai encostar
em mim e vai mudar o que eu sou”, afirma Cotok.
Por sinal, a televisão da aldeia que
está localizada dentro da casa do cacique,
foi ligada, somente, durante todo esse período,
para assistir à vitória do Brasil
contra a Argentina. “Não muda nada.
Nem a língua, que todo mundo fala.”
Mas a preocupação
mesmo era de festa. Dos cantos e das danças.
Das apresentações dos jovens
flautistas e lutadores, das belas moças
jovens. Peixes e beijus para os convidados.
Muita música e alegria, compartilhadas
em todas as línguas. Reunidos, diversos
grandes caciques decidiram deixar para um
outro momento, que deve acontecer em breve,
para discutir o futuro do Parque, Uma reunião
que deve acontecer com a presença de
outras lideranças tradicionais do Alto-Xingu
e que não puderam comparecer a esta
festa dos Kamayurá. “Quero, junto de
vocês, deixar um documento escrito,
traçar estratégias de ações,
tudo o que vocês precisam, e que eu
possa fazer, para ajudar vocês a manterem
a cultura, a terem ainda mais a liberdade
de escolherem o que querem ser”, afirmou Mércio
Gomes.
Funai inaugura conclusão
de obras do 2º andar do edifício
sede
05 de setembro - O presidente da Funai, Mércio
Pereira Gomes, inaugurou na tarde desta terça-feira
(05/09) o segundo andar do prédio da
sede da Instituição, em Brasília.
O espaço, que era utilizado até
2005 por funcionários do Governo do
Distrito Federal, agora foi conquistado pela
atual gestão da Funai para instalação
dos funcionários do Funai.
Fundada em 1967, a Funai
funciona no prédio localizado na Asa
Sul há 20 anos. Antes disso, a sede
do órgão ficava no Setor de
Indústrias Gráficas (SIA).
A expansão para o
andar coincide com o período em que
o presidente Mércio Gomes completa
três anos na função. “A
consolidação deste espaço
para o servidor é uma grande vitória
porque fortalece a luta por uma melhoria nas
condições de trabalho e abre
espaço para novas reivindicações
como o plano de carreira e um novo concurso
público”, afirma.