15/09/2006 - O Jardim Botânico de
São Paulo está promovendo, até
o dia 1º de outubro próximo, de
quarta a domingo, das 9h às 17h, a
exposição “Calendário
de Árvores”, de Regina Montenegro,
em comemoração ao Dia da Árvore
(21/09) e o início da Primavera (23/09).
A exposição mostra, através
da pintura, as cores ou florescências
de 12 espécies de árvores que
se destacam a cada mês na paisagem natural
e urbana da região entre Itapecerica
da Serra e Registro, no Vale do Ribeira. A
exposição é gratuita,
mas para entrar no Jardim, os visitantes têm
de pagar: adultos - R$ 3,00; estudantes R$
1,00. Menores de 10 anos não pagam.
Além disso, na videoteca, serão
apresentados, do dia 20/09 a 24/09, quatro
vídeos que foram ao ar no programa
Pé de quê?, apresentado pela
atriz Regina Casé, sobre algumas das
espécies da exposição.
Em duas sessões: às 10h30 e
14h30.
Em 2001, Regina Montenegro começou
a pintar as árvores que mais se destacam
na paisagem da região, com seus alunos
e, assim sem seguir uma pesquisa científica
ou pontual, surgiu o Calendário das
Árvore, que integra o trabalho da artista
Álbum de Família, em andamento
desde 1997.
O envolvimento com a localidade, sua natureza,
seus estudantes e a produção
dos desenhos das árvores, são
identificados por Regina como matéria-prima
para a pintura.
Inspirada nos desenhos deles, fiz minhas
pinturas sobre esteiras de palha de junco.
Resultou num conjunto de esteiras colocadas
justapostas numa estrutura cilíndrica,
sugerindo o fluxo contínuo da natureza,
explica.
Entre as árvores escolhidas, está
a “árvore dos namorados” ou “flor do
paraíso”, de origem africana e que
floresce entre outubro e janeiro. Há
também a “cigarreira”, que possui esse
nome porque, no final do verão, seu
tronco normalmente se enche de "cascas"
- exúvias - de cigarras. Essa espécie
é recomendada para recuperação
ambiental, pois seu crescimento é rápido
e possui facilidade para reprodução
e crescimento em pleno sol, mesmo em solos
degradados e beira de estradas.
As outras árvores são a “embaúba”,
prateada, preta ou branca, que produz flores
muito bonitas, o “ipê-amarelo”, que
é a árvore símbolo do
Brasil, o “ipê-roxo” ou “ipê-comum”,
“espinheira”, “quaresmeira”, “mulungu-coral”
ou “capa-homem”, “jacarandá-minoso”,
“manacá serra” ou “flor-de-maio” e
“jasmim manga”.
Vamos nos juntar à sua visão,
para que possamos aprender estes passos, esses
ritmos, essas cores, a beleza das árvores,
que se confunde com a das cores, em seus quadros.
Esta exposição é um convite
para acompanharmos as infinitas nuances de
uma natureza tão pouco entendida por
nós, brasileiros, diz Rubens Matuck,
artista dedicado à natureza.
E Evaristo Eduardo de Miranda, escritor e
ecologista, diretor do Departamento de Monitoramento
por Satélite, da Embrapa Campinas,
compôs para a exposição
o seguinte poema:
Não entre sem emoção
toda árvore encerra
um silencioso mistério.
toda ramagem é símbolo de passagem
e movimento:
entre dois estados, entre dois mundos,
entre o tesouro e a miséria.
no mundo, quem revela o tesouro da natureza
é a luz do sol.
nesta exposição, é o
olhar poético da
regina montenegro, mágica da pintura,
provocada por desenhos luminosos de
crianças, chaves de acesso à
revelação.
cada árvore é um portal da natureza:
indica uma passagem e incita a ultrapassá-la.
cada árvore é um convite para
uma viagem cosmológica, ao além.
e esse além, mora ao lado de cada um:
no quintal da escola, na casa do vizinho,
na praça em frente e nos sonhos do
entardecer.
esta exposição é uma
oportunidade
para descobrir-se a existência de outra
realidade,
muito mais rica, concreta e
fantástica do que o que costumamos
chamar de realidade.
por milênios, a revelação
dessa
realidade tem sido a obra dos
artistas, poetas, místicos e sacerdotes.
através da harmonia de símbolos,
formas,
cores e luzes, essas árvores
de vida nos ajudam a entrar em contato
com dimensões sagradas, bem além
de
nossas limitações individuais.
amiga, amigo, atravesse este portal da
natureza em silêncio.
em cada árvore existe um templo,
um tempo, um calendário e um mistério.
os mistérios devem ser penetrados
e não desvendados.
na contemplação de cada árvore,
dimensões e realidades esquecidas em
cada um, voltarão a bater em nossas
portas..
amigo, amiga, não entre sem emoção!
Texto: Silvia Regina Borges Franco
Foto: Jardim Botânico