12
de Setembro de 2006 - Isabela Vieira - Da
Agência Brasil - Brasília - Um
estudo recente mostra que a agricultura mecanizada
se tornou uma nova forma de desmatamento da
Amazônia.
O problema surgiu, em grande
parte, a partir da expansão da agricultura
na região. A atividade cresceu mais
de 36 mil quilômetros quadrados, uma
área pouco maior que a Bélgica,
em apenas três anos, de 2001 a 2004.
No Mato Grosso, a agricultura
mecanizada foi responsável pela derrubada
de 5,4 mil quilômetros quadrados, quase
o tamanho da capital do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre.
As informações
são do cientista Douglas Morton, da
Universidade de Maryland, um dos autores da
pesquisa "A Expansão de Plantações
Modifica a Dinâmica da Amazônia
Brasileira". O estudo deve ser publicado
hoje (12) na revista da Academia Nacional
de Ciências dos Estados Unidos, acessível
pelo site: (www.pnas.org).
De acordo com a pesquisa,
o aumento e a rapidez da transformação
da floresta amazônica em plantações
definem um novo modelo de perda da mata local,
“o que refuta o argumento de que a intensificação
da agricultura não conduz a mais devastações”.
Duas questões chamam
a atenção no levantamento. A
primeira é o tempo de conversão
de áreas desmatadas em plantações,
aproximadamente um ano. “Mais de 90% das clareiras
foram utilizadas para agricultura no primeiro
ano”.
A segunda é o desmatamento,
que ocorreu junto com o aumento do preço
da soja no mercado internacional. O preço
do produto atingiu pico em 2004, mesmo ano
em que o desflorestamento no Amazonas chegou
ao maior índice, 23%.
“Isso demonstra que há
uma forte correlação entre o
preço da soja e o uso da terra. E evidencia
o efeito do mercado na porcentagem de áreas
transformadas diretamente em agricultura mecanizada”,
afirma Morton.
Segundo o pesquisador Yosio
Shimabukuro, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), que também participou
do estudo, o aumento do preço da soja
pode não estar relacionado desmatamento.
“Se fôssemos analisar a influência
do preço no desmatamento, outras variáveis,
como concessão de crédito e
exportações, teriam que ter
sido analisadas”, ponderou.
A pesquisa aponta ainda
que, dentro da Amazônia Legal, o estado
de Mato Grosso foi responsável por
87% de novas plantações e 40%
do desmatamento total da região. A
média de áreas da floresta amazônica
usada para a agricultura no Mato Grosso foi
maior que o dobro das desmatadas para a pecuária.
Morton explicou que o uso
das áreas para agricultura mecanizada
pode agravar o efeito estufa. “Pois, na perspectiva
das mudanças no clima, o carbono da
floresta é liberado mais rápido
na preparação da terra para
agricultura mecanizada do que para pasto”.
O estudo investigou áreas
com mais de 25 hectares, por meio de pesquisas
em campo, análises de mapas do desmatamento
e dados de satélite. Participaram cientistas
do Inpe, da Universidade de Oxford, na Inglaterra,
e das universidades de Maryland e New Hampshire,
nos Estados Unidos.