14/09/2006
- O Conselho Indígena de Roraima (CIR)
lançou no dia 07 de setembro, durante
o Grito dos Excluídos 2006, a Campanha
Pós-Homologação da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, homologada
em abril de 2005. A oficialização
do ato foi feita pelo coordenador, Marinaldo
Justino Trajano, que leu na íntegra
o conteúdo da carta.
O evento, organizado pela
sociedade civil, reuniu cerca de 1500 pessoas
entre indígenas, trabalhadores rurais
e da cidade, Movimentos Sociais e Populares
que se manifestaram pelas ruas de Boa Vista,
capital do Estado, num "grito" unido
por cidadania, dignidade e justiça
social.
Abaixo, a íntegra da carta.
TÎPATA YAPURÎNEN
KO´MAMÎ TUMURUKOMPE
Quem honra sua terra, permanece unido!
Reafirmamos nossa autonomia!
A Raposa está viva e sobe a Serra para
olhar o pôr do Sol! Nossa terra foi
reconhecida e ainda há muitos caminhos
pela frente, por isso nós lideranças
indígenas do Conselho Indígena
de Roraima - CIR, neste dia 07 de setembro
de 2006, queremos soltar o Grito de Convocação
para somar forças, de indígenas
e não indígenas, para consolidar
os direitos dos povos indígenas.
A Campanha TÎPATA YAPURÎNEN KO´MAMÎ
TUMURUKOMPE é motivada pela problemática
vivida pelas comunidades indígenas
da TI Raposa Serra do Sol, que exigem a garantia
e proteção integral de suas
terras e da natureza.
Já passaram mais
de 04 meses do prazo final estipulado pelo
Decreto homologatório, expirado no
dia 15/04/2006, para retirada dos ocupantes
não indígenas na TI RSS. A cada
dia aparecem novas justificativas para protelar
a extrusão e, até o momento,
poucos ocupantes saíram da terra indígena.
Os arrozeiros continuam
a explorar indevidamente nossa terra e rios,
são os que mais resistem. Com o apoio
político tentam impor a resistência
e invasão nas comunidades indígenas.
A demora dos órgãos governamentais
em cumprir com sua obrigação
de garantir integralmente a TIRSS aos povos
indígenas, tem contribuído com
ameaças as nossas lideranças
e a proliferação da bebida alcoólica
nas pequenas vilas a serem desocupadas, isso
tudo tem gerado muita insegurança e
intranqüilidade.
Quem vai reparar os danos
provocados a nossa terra? A terra representa
a vida para todos nós, índios
e não índios, somos os guardiões
desses bens. Precisamos de respostas as nossas
demandas, reverter a impunidade. Porém,
persistem reclamações antigas,
monocultura do arroz, com reclamações
de danos ambientais. A diminuição
da caça, da pesca, das frutas silvestres
e de outros materiais têm impactos diretos
na vida das comunidades que precisam recriar
as condições para assegurar
a abundância de alimentos, o seu bem
estar e o futuro das novas gerações.
Queremos trabalhar nossa
terra, mas de forma sustentável com
respeito e união dos povos. Podemos
contribuir para um Estado melhor e mais justo,
ter nossos projetos de auto - sustentação.
TÎPATA YAPURÎNEN KO´MAMÎ
TUMURUKOMPE por isso, tem a finalidade de
consolidar os direitos dos povos indígenas
da Raposa Serra do Sol, que tem objetiva se
fazer ouvir os povos indígenas através
desta Campanha:
- Garantir e agilizar o
processo de extrusão dos ocupantes
não índios do interior da Raposa
Serra do Sol, sobretudo dos arrozeiros;
- Sensibilizar a população em
geral sobre os direitos indígenas,
os danos ambientais deixados e a necessidade
de sua reparação, assim como
a importância das terras indígenas
para a biodiversidade e para diversidade cultural;
- Aprimorar e desenvolver iniciativas econômicas
sustentáveis;
- Pressionar o governo federal para que mantenha
um plano permanente de segurança e
proteção aos povos indígenas
da Raposa Serra do Sol;
- Agilizar no âmbito judicial e administrativo
os inquéritos que apurar os crimes
cometidos contras as comunidades indígenas.
Contamos com apoio de todos.
Boa Vista, 07 de setembro de 2006.
Conselho Indígena de Roraima
Epidemia de diarréia
e vômito mata duas crianças na
terra Guaporé, em Rondônia
14/09/2006 - Uma epidemia
de diarréia associada a vômitos
atinge as aldeias indígenas de Guajará-Mirim
e mata duas crianças do povo Cujubim
da aldeia de Ricardo Franco, Terra Indígena
Guaporé, em Rondônia, repetindo
o que ocorreu em abril do ano passado.
A primeira vítima,
uma criança com dois meses de idade,
faleceu em agosto. Ela foi removida numa voadeira
(lancha) da equipe de enfermagem que estava
a trabalho na aldeia, entretanto com atraso,
visto que a criança foi a óbito
no meio da viagem.
No dia 6 de setembro, faleceu
a segunda criança, aos nove meses de
idade. Neste caso, o Agente Indígena
de Saúde (AIS) havia telefonado ao
Pólo-Base solicitando uma viatura de
emergência para encaminhar duas crianças
desidratadas. No dia 5 de setembro, a voadeira
do Pólo-Base se deslocou de Guajará-mirim
e chegou à noite na aldeia. A auxiliar
de enfermagem tentou colocar um soro nas crianças,
mas não conseguiu um acesso venoso.
Antes de amanhecer o dia e da voadeira retornar,
uma das crianças tinha falecido.
Na terra Guaporé
há 5 aldeias e mais de 600 indígenas,
sendo Ricardo Franco a maior delas com mais
de 400 pessoas pertencendo a 10 povos indígenas.
Desde setembro de 1999, quando a FUNASA assumiu
a responsabilidade da saúde indígena,
as comunidades indígenas de Guaporé
e seus conselheiros solicitam a compra de
uma voadeira para socorrer as emergências.
Constam outras reivindicações
como um equipamento radiofônico, materiais
(como um aparelho para medir pressão)
e a contratação de mais um AIS
para a aldeia Ricardo Franco. Reivindicações
estas que são aprovadas a cada ano
pelos Conselhos Local e Distrital de Saúde
Indígena e não são atendidas
pela FUNASA que alega a falta de recursos.
A maioria das aldeias do
Pólo-Base de Guajará-Mirim encontra-se
na mesma situação e receiam
a ocorrência de óbito por falta
de assistência.