05/10/2006 - A limitação de
espaços adequados para a implantação
de aterros sanitários, para receber
os resíduos sólidos domiciliares
na região metropolitana, e a existência
de alternativas tecnológica e ambientalmente
corretas, utilizadas em outros países,
foram algumas das questões levantadas
no último dia 29/09 durante o Workshop
Internacional "Gestão de Resíduos
Sólidos: Uma Visão do Futuro",
que a Secretaria do Meio Ambiente do Estado
de São Paulo - SMA, e a Secretaria
do Meio Ambiente, Saúde Pública
e Proteção ao Consumidor - StMUGV,
do Estado da Baviera, Alemanha, promoveram
na sede da SMA e da Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental - CETESB, na capital
paulista.
O evento, realizado no âmbito do projeto
de cooperação técnica
desenvolvido entre as duas instituições
governamentais, com especialistas alemães,
técnicos da SMA, da CETESB e de outras
instituições municipais, teve
como objetivo apresentar e discutir políticas
públicas na gestão de resíduos
sólidos, enfocando questões
como a disposição do lixo domiciliar,
especialmente na capital e nas outras regiões
metropolitanas, como na Baixada Santista e
em Campinas e municípios vizinhos.
Além do secretário do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, professor
José Goldemberg, e do presidente da
CETESB, Otávio Okano, estiveram presentes
à abertura do workshop, a secretária
adjunta e coordenadora geral do Projeto, professora
Suani Teixeira Coelho, o secretário
de Serviços da Prefeitura Municipal
de São Paulo, Antônio Marsiglia
Netto, e o especialista e representante do
Governo da Baviera, Wolfgang Scholz, também
coordenador do Projeto.
O secretário Goldemberg lembrou que
a realização do seminário
reflete as ações do trabalho
técnico e temático que vem sendo
desenvolvido, há alguns anos, por meio
de cooperação técnica
entre os governos do Estado de São
Paulo e da Baviera, com o objetivo de avançar
nas discussões que atestem a eficácia
do uso dos incineradores no tratamento dos
resíduos sólidos, reportando-se
à adoção dessa tecnologia
na Europa e no Japão, por serem considerados
menos prejudiciais à saúde humana.
O presidente da CETESB, por sua vez, ressaltou
a importância do encontro, ao permitir
um maior conhecimento e a discussão
de tecnologias que vêm sendo amplamente
utilizadas em vários países
do mundo, a despeito de encontrarem resistência
no Brasil, lembrando que, além da Grande
São Paulo, a Baixada Santista enfrenta
sérios problemas relacionados aos resíduos
sólidos domiciliares, que necessitam
ser debatidos e enfrentados com urgência.
Transparência na divulgação
O representante da StMUGV, Thomas König,
abordou o tema "Incineração
- Operação de um Processo Seguro”
e seus aspectos legais, no que diz respeito
ao processo de licenciamento, operações
de monitoramento e armazenamento de resíduos,
os quais, segundo ele, são divulgados
com a devida transparência, de forma
a permitir eventuais debates e críticas
por parte dos interessados.
Wolfang Scholz, por sua vez, fez um breve
histórico sobre os procedimentos de
gerenciamento de resíduos sólidos
e os objetivos políticos previstos
para a Europa, e a Alemanha em especial, que
apresentam um notável declínio
da quantidade de resíduos a serem dispostos
até 2020.
Procedimentos de implementação
dos conceitos de prevenção e
exigências técnicas voltadas
especialmente para os métodos de tratamento
de gestão de resíduos foram
alguns dos tópicos abordados pelo especialista,
que ao final da apresentação
mencionou a atual situação da
Bavária, estado da Alemanha que apresenta
índices bastante satisfatórios
de tratamento, com cerca de 75% no total,
correspondentes a 20% de processo de incineração,
mais 50% de reutilização de
materiais, reciclagem e recuperação,
e cerca de 5% relativos à disposição
em aterros sanitários.
A seguir, Aruntho Savastano Neto, assistente
executivo da Diretoria de Controle da CETESB,
apresentou o Inventário Estadual de
Resíduos Sólidos Domiciliares
2005, enfocando a atual situação
de alguns aterros sanitários da Região
Metropolitana de São Paulo, Campinas
e Baixada Santista, situados em áreas
de proteção ambiental, os problemas
decorrentes da disposição inadequada
de resíduos e a aplicação
de uma solução ambientalmente
correta.
Na avaliação de Savastano,
"a resolução desse problema
passa pela adoção de soluções
criativas e compartilhadas entre municípios
de uma mesma região, estabelecendo
como prática aos resíduos gerados,
tratamento por incineração”,
salientou. Esse procedimento, segundo ele,
inclui os municípios da Baixada Santista,
Região Metropolitana de São
Paulo, Campinas ou qualquer região
do Estado. Finalizou informando que a partir
dos dados consolidados, até o final
de 2005, "destaca-se a evolução
referente à quantidade de resíduos
sólidos dispostos adequadamente, que
passou de 10,9%, em 1997, para 80,2% em 2005".
Laura Stela Naliato Perez, assessora da Coordenadoria
de Planejamento Ambiental Estratégico
e Educação Ambiental - CPLEA,
da SMA, fez uma explanação sobre
a Lei 12.300/06, em processo de regulamentação
pelo órgão ambiental, que estabelece
a Política de Resíduos Sólidos
para o Estado de São Paulo, tendo como
foco principal, a prevenção
à poluição e a utilização
adequada dos recursos naturais como formas
de proteção da saúde
pública e da qualidade ambiental. Outro
aspecto relevante da lei, segundo a especialista,
diz respeito à minimização
dos resíduos gerados e estabelecimento
de padrões de produção
e consumo sustentáveis, priorizando
a necessidade de um planejamento compartilhado
e integrado, construído com participação
social, sob a forma de Planos Estadual, Municipais
e Regionais de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos. “A lei, inclusive, propõe
a criação de incentivos fiscais,
econômicos ou ambientais, bem como de
mecanismos de controle quanto ao licenciamento,
fiscalização, monitoramento,
e de ações de educação
ambiental," complementou.
Sonia Lima, diretora de Meio Ambiente da
Prefeitura de São Bernardo do Campo,
transmitiu uma mensagem sobre o desafio do
tratamento do lixo domiciliar em grandes concentrações
urbanas, cujo principal problema "consiste
na falta de espaço para atender uma
geração de resíduos constante
e crescente, de uma sociedade em que o padrão
de consumo é cada vez mais incentivado
pela mídia".
Segundo ela, a lógica da solução
dos aterros sanitários não corresponde
à resposta necessária do desafio
de manter um padrão de salubridade
satisfatório em São Bernardo
do Campo, município com 407 km2, situado
entre a metrópole de São Paulo
e a Baixada Santista, que possui 70% de seu
território em área de proteção
ambiental e que abriga um contingente industrial
significativo, sujeito a fortes dinâmicas
de produção de resíduos,
previstos na ordem de 1.400 toneladas por
dia. "Temos que trabalhar tecnicamente,
politicamente, ambientalmente e socialmente,
o desenvolvimento urbano local, voltados para
soluções que contemplem redução
do volume de resíduos, compartilhando
esse projeto democraticamente," enfatizou.
Quanto ao estabelecimento do Plano Diretor,
em fase de conclusão, Lima explicou
que o mesmo prevê zonas especiais de
interesse ambiental para saneamento. "Essas
áreas correspondem as antigas áreas
usadas pelo Lixão Alvarenga, incluindo
as áreas remanescentes previstas pela
CETESB no antigo plano de disposição
final de resíduos, formulado na década
de 80".
No encerramento do evento, o secretário
de Comunicação da Prefeitura
de Santos, José Alberto Pereira, lembrou
que no início da década de 90,
quando teve os primeiros contatos com a questão
da incineração, essa tecnologia
era rejeitada, por unanimidade, pelos ambientalistas.
"Oportunamente, no último seminário
do Programa, realizado em junho de 2006, observei
que essa tomada de posição continuava
sólida para alguns, o que me leva a
crer que parte desse movimento ambientalista
não tem conhecimento da tecnologia
de incineração aplicada atualmente
na Alemanha e países da Comunidade
Econômica Européia", afirmou.Na
opinião do secretário, para
que esse processo possa ser implantado no
Brasil, faz-se necessário um trabalho
eficiente de comunicação junto
à sociedade civil, enfocando principalmente
formadores de opinião voltados para
o tema ambiental. Segundo ele, essa conclusão
foi reforçada durante uma visita que
fez à Alemanha, ocasião em que
teve oportunidade de conhecer os procedimentos
de incineração sob o ponto de
vista técnico e institucional, adotado
pelo governo e pela sociedade da Baviera.
Segundo Pereira, dois pontos foram marcantes
nessa visita: o envolvimento da sociedade
civil e a eficiência tecnológica
no controle das emissões, ressaltando
"que é prioritário adquirirmos
o conhecimento tecnológico da incineração,
para que futuramente esse procedimento conste
como parte do processo de destinação
dos resíduos sólidos”, finalizou.
Texto: Wanda Carrilho
Foto: José Jorge