05/10/2006
- Aida Feitosa - A diversidade de animais
que compõem a fauna da Bacia Hidrográfica
do Rio São Francisco foi apresentada
na quarta-feira (4), em Brasília, durante
as comemorações do dia do Rio
São Francisco. A Coordenação
Geral de Fauna do Ibama, que executa o trabalho,
mostrou os resultados do levantamento de fauna
silvestre feito no primeiro semestre deste
ano. O estudo visa mapear e estudar as espécies
e identificar as que estão criticamente
ameaçadas de extinção,
o que dará suporte às ações
estruturantes para a conservação
da biodiversidade da bacia.
Segundo a assessora técnica
da Secretaria Executiva do Ministério
do Meio Ambiente, Marcia Rodrigues, esta é
a primeira vez que é feito um diagnóstico
geral da fauna de uma bacia hidrográfica.
"A bacia do São Francisco tem
uma importância nacional, uma vez que
abrange quatro biomas. Por isso, as ações
estão sendo feitas de forma integrada
e auxiliada pelos mapas das áreas prioritárias
para conservação", destaca.
Esta é a primeira
fase das análises que tem duração
de dois anos e previsão orçamentária
de cerca de R$ 2 milhões. Os grupos
estudados foram: predadores naturais, com
ênfase em carnívoros; primatas
brasileiros; répteis e anfíbios;
aves silvestres.
Para os estudiosos, um dos resultados mais
preocupantes é que, aparentemente,
a onça pintada está extinta
na região da Foz do Rio São
Francisco. Por outro lado, a região
do futuro Parque Nacional do Boqueirão
da Onça (BA) abriga uma população
de onça pintada. Os pesquisadores acreditam
que o estabelecimento de uma rede de Unidades
de Conservação na região
poderá garantir a preservação
de uma população mínima
viável no bioma Caatinga. A principal
ameaça à população
de mamíferos da ordem Carnívora
é a fragmentação e destruição
de hábitats.
Com relação
aos primatas, foi descoberto o menor fragmento,
e único para a Bacia do São
Francisco, com ocorrência conjunta de
grupos de guigó (C.coimbrai) e de macaco-prego-do-peito-amarelo
(C. xanthosternos), ambos considerados criticamente
em perigo de extinção. Também
foi localizada uma população
de C. xanthosternos em manguezais junto à
foz, que está sob risco extremo devido
ao contínuo avanço do mar sobre
o continente, e que deverá ser monitorada.
Na análise dos répteis
foram identificados acréscimos de novos
registros de duas espécies de crocodilianos
citadas para a bacia, o jacaré-do-papo-amarelo
(Caiman latirostris) e o jacaré-ferro
(Paleosuchus palpebrosus). O trabalho possibilitou
prever a saúde dessas populações
e seu potencial de uso como forma de alternativa
de renda para as comunidades ribeirinhas do
São Francisco. Para isso, o estudo
recomenda a conservação das
lagoas marginais do Rio São Francisco
que são utilizadas como locais de abrigo,
reprodução, berçário
e alimentação das espécies.
Por fim, as aves da Caatinga.
O bioma é um importante centro de endemismos
de aves na América do Sul embora o
conhecimento ainda seja ainda reduzido. Os
levantamentos preliminares mostraram que a
região abriga importantes populações
de marrecas, sendo inclusive a área
onde existe a maior concentração
no país da marreca viuvinha (Netta
erythrophtalma). Ainda foi verificada a ocorrência
de 145 espécies de aves, pertencentes
a 43 famílias. Dessas, oito espécies
são exclusivas do bioma Caatinga, três
são consideradas mundialmente como
quase ameaçadas de extinção
e três consideradas de alta sensibilidade
a distúrbios humanos.