Brasília
(06/10/2006) - Até o final de outubro,
o Ibama começa a segunda fase do levantamento
de fauna da bacia do São Francisco.
Um resultado parcial relativo à primeira
fase foi apresentado ao Ministério
do Meio Ambiente na última quarta-feira,
dia de São Francisco, protetor dos
animais. Com o estudo, que começou
em janeiro, o Ibama pretende fazer um Zoneamento
Ambiental da bacia e analisar possíveis
locais para criação de unidades
de conservação. Outro objetivo
do estudo é identificar e mapear os
locais de ocorrência de espécies
criticamente ameaçadas de extinção
e, assim, planejar ações para
conservação da biodiversidade
da bacia.
A primeira fase do levantamento
terminou em julho e os grupos estudados pelos
centros especializados do Ibama foram: predadores
naturais (carnívoros), primatas brasileiros,
répteis, anfíbios e aves silvestres.
O Estudo de Levantamento de Fauna está
sendo supervisionado pela Coordenação
Geral de Fauna do Ibama.
Segundo o levantamento preliminar
dos técnicos dos diversos centros especializado
do Ibama, as alterações causadas
pelo homem verificadas em todas as localidades
de estudo (pastoreio excessivo, queimadas,
extração seletiva) e a ausência
de algumas espécies endêmicas
e ameaçadas são indicativos
de perda na biodiversidade da bacia do São
Francisco.
Predadores naturais - Apenas
nesta primeira fase, os técnicos do
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação
dos Predadores Naturais do Ibama (Cenap) identificaram
37 espécies de mamíferos de
médio e grande porte, das quais 11
estão na lista oficial de espécies
ameaçadas de extinção.
Dentre as espécies ameaçadas
de extinção foram identificadas
oito espécies de carnívoros,
sendo seis felinos.
Aparentemente, a onça
pintada está extinta na região
da Foz do Rio São Francisco. A região
do futuro Parque Nacional do Boqueirão
da Onça (BA) abriga uma população
de onças pintadas e o estabelecimento
de uma rede de Unidades de Conservação
na região pode garantir a preservação
de uma população mínima
viável no Bioma Caatinga.
Primatas
- O Centro de Primatas Brasileiros do Ibama
(CPB) identificou nove espécies de
primatas: Alouatta caraya, Alouatta guariba,
Cebus nigritus, Cebus libidinosus, Cebus xanthosternos,
Callicebus coimbrai, Callicebus nigrifrons,
Callithrix jacchus, e Callithrix penicillata.
Os técnicos do CPB
registraram, em uma pequena e única
área, em toda Bacia do São Francisco,
a ocorrência conjunta de grupos de guigó
(C.coimbrai) e de macaco-prego-do-peito-amarelo
(C. xanthosternos), ambos considerados “criticamente
em perigo de extinção”. Também
foi localizada uma população
de C. xanthosternos em manguezais junto à
foz, que está sob risco extremo devido
ao contínuo avanço do mar sobre
o continente, e que deverá ser monitorada.
Répteis e
anfíbios - No relatório
apresentado ao MMA, o Centro de Conservação
e Manejo de Répteis e Anfíbios
do Ibama (RAN) chamou atenção
para as lagoas marginais do Rio São
Francisco e de seus afluentes, indicando que
estes são ambientes preferenciais,
tanto para as populações de
quelônios como de jacarés, em
especial, C. latirostris. As lagoas são
utilizadas como locais de abrigo, reprodução,
berçário e alimentação,
tornando-as imprescindíveis para a
manutenção dos processos populacionais.
Sobre os quelônios,
os pesquisadores do RAN constataram a ocorrência
de Acantochelys radiolata no Parque Nacional
das Cavernas do Peruaçú. Essa
espécie está relacionada como
“Quase Ameaçada” na Lista da Fauna
Brasileira Ameaçada de Extinção.
Entre os anfíbios
anuros (sem cauda), o RAN registrou um total
de 66 espécies, o que representa cerca
de 52% do total de espécies de anfíbios
catalogados na bacia do São Francisco.
Entre serpentes, anfisbenídeos
(popularmente, cobra-de-duas-cabeças)
e lagartos foram registradas 47 espécies.
O RAN destacou a importância dos répteis
da região dos campos de dunas de Xique-Xique
e Santo Inácio e campos de dunas de
Casanova, no trecho do médio São
Francisco, estado da Bahia, de onde 16 das
41 espécies de lagartos e anfisbenídeos
registradas são endêmicas, isto
é, só existem nestes lugares.
Aves -
O levantamento do Centro Nacional de Pesquisa
para Conservação das Aves Silvestres
do Ibama (Cemave) indicou a ocorrência
de 145 espécies de aves na Bacia do
São Francisco. Destas, oito são
exclusivas do bioma caatinga, três são
consideradas mundialmente como “Quase Ameaçadas
de extinção” e três são
de alta sensibilidade às ações
humanas, o que indica a importância
destas áreas para a conservação
da biodiversidade local.
Gustavo Rick