Porto
Alegre (11/10/06) - A necessidade de construir
uma agenda conjunta dos países do Mercosul,
com o objetivo de definir propostas de combate
à desertificação, reúne,
em Porto Alegre, o Grupo de Trabalho Luta
Contra Desertificação e Seca
do Mercosul. “Precisamos ter ações
concretas”, afirmou o Secretário Executivo
de Recursos Hídricos do Ministério
do Meio Ambiente, João Bosco Senra,
na abertura dos trabalhos. O Grupo de Trabalho
é formado por representantes do Brasil,
Uruguai, Argentina, Paraguai, Chile, Venezuela
e Bolívia.
Ao final do evento, será
elaborado um documento para ser apresentado
e debatido na reunião de ministros
do Mercosul, prevista para acontecer no final
de novembro, em Brasília. Em sua palestra,
a geógrafa Dirce Suertegaray, professora
do Departamento de Geografia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, abordou o tema
Desertificação e Arenização,
diferentes causas, diferentes lugares e conseqüências
parecidas.
Ela falou sobre a arenização
(termo cunhado por ela em sua tese de doutorado)
no sudoeste do Estado, onde o processo atinge
cerca de 10 municípios (Alegrete, São
Francisco de Assis, Maçambará,
Rosário do Sul, Manuel Viana e São
Borja, entre outros), e abrange cerca de 3.027,
41 hectares. A pesquisadora revelou ainda
que o mesmo processo já acontece em
outros Estados do Centro-Oeste do país,
como Goiás.
Segundo Suertegaray, o fenômeno
no Rio Grande do Sul começou a ser
identificado pela mídia na década
de 70, e foi agravado pela monocultura de
soja. A geógrafa defende a atividade
pastoril, como uma das aptidões econômicas
daquela região e também uma
estratégia de preservação
do pampa e de sua biodiversidade.
Mudanças Climáticas
- Quando se fala em mudanças climáticas,
a incerteza domina, mas o mais dramático
nessa questão é “a impossibilidade
de revertê-las” (as mudanças
climáticas), conforme revela o meteorologista
Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe).
Durante o encontro, em sua
palestra “Mudanças Climáticas
e Recursos Hídricos - porque devemos
nos preocupar”, ele revela que “com o aquecimento
do planeta, as chuvas vão ser mais
esporádicas e intensas, acelerando
os processos de degradação,
arenização e desertificação
de um modo geral”.
Para o pesquisador, não
resta dúvida de que o planeta Terra
está ficando mais quente. “O aquecimento
do planeta significa aumento da variabilidade
das condições climáticas
e do ciclo hídrico e as duas coisas
têm a ver com desertificação”.
Registros sobre as mudanças
climáticas revelam que, entre os anos
de 1861 a 2000, a temperatura global subiu
0,44 por cento, sendo que 2005 foi o ano mais
quente desde que o monitoramento é
realizado. A conseqüência já
pode ser medida: o mar está subindo
de dois a três milímetros por
ano. E os principais vilões são
bastante conhecidos: combustíveis fósseis
e desmatamento.
Ele enfatiza que o mais
grave nestes dados, é que eles não
podem ser revertidos. Os gases ficam muitos
anos na atmosfera e, portanto o planeta ficará
mais quente. O monóxido de carbono
(CO2), por exemplo, pode ficar até
dois mil anos ativo no planeta (em um volume
de até 15%). Mesmo utilizando projeções
otimistas, se ocorressem alterações
significativas com relação aos
agentes causadores destas mudanças,
o clima continuaria aquecendo até o
ano 3000.
Todos estes elementos reunidos,
segundo Carlos Nobre, levam a seguinte combinação:
atmosfera mais quente, maior quantidade de
vapor de água na atmosfera e aumento
de ocorrência de eventos extremos. A
reunião de ontem (10) foi aberta ao
público, mas as discussões iniciaram
na segunda-feira e se estendem até
amanhã (12). Participaram no evento
o superintendente do Ibama/RS, Fernando da
Costa Marques, o comandante da Polícia
Ambiental no RS, major Ademar Grazel, o coordenador
do Programa Nacional de Combate à Desertificação
do MMA, José Roberto de Lima, representantes
de ONGs e do Departamento de Florestas e Áreas
Protegidas, da Secretaria Estadual do Meio
Ambiente.
Maria Annes