10
de Outubro de 2006 - Thaís Brianezi
- Repórter da Agência Brasil
- Manaus - O Serviço Geológico
do Brasil (CPRM) divulgou hoje (10) a primeira
previsão de vazante do rio Negro, no
Amazonas. A previsão, feita em parceria
com a Agência Nacional de Águas
(Ana) e o Sistema de Proteção
da Amazônia (Sipam), é que no
dia 30 de outubro o rio Negro esteja com altura
de 15,63 metros no porto de Manaus – e que
suas águas comecem a subir a partir
do próximo dia 20. Na maior seca já
registrada, em 1963, o rio Negro chegou a
13,64 metros na capital amazonense; no ano
passado, a mínima foi de 14,75 metros.
Desde 1902 é feito
o acompanhamento sistemático do nível
do rio Negro, em Manaus. Mas até então
a CPRM só previa o comportamento das
águas para o período das cheias.
“A seca de 2005 criou uma pressão da
sociedade por essa nova informação”,
explicou o engenheiro hidrólogo da
CPRM, Eber José de Andrade Pinto. “O
modelo de previsão da cheia não
funciona para a seca, porque a subida do rio
é mais lenta que a descida e está
sujeita a outras influências, como o
remanso (quando o volume de um rio bloqueia
o outro)”.
Andrade Pinto ponderou que
esse modelo de previsão da vazante
ainda precisa de aperfeiçoamentos.
Por isso, ele informou que se trabalha com
um período curto de antecedência,
de apenas 20 dias – enquanto que a previsão
da cheias vale para um intervalo de 75 dias.
Esses alertas de vazante deverão ocorrer
quatro vezes por ano, em datas fixas: 1º
e 20 de setembro e 10 e 30 de outubro.
Ele explicou que como o
intervalo de tempo da previsão é
conservador, sua margem de erro é pequena,
de menos de 1% (considerando a faixa de variação
de 40 centímetros para mais ou para
menos). “Nos dois testes que fizemos, o acerto
foi excelente”, comemorou o engenheiro hidrólogo.
“No dia 20 de setembro a gente previu que
o nível do rio Negro estaria hoje em
17,93 metros. De fato, ele está com
17,80 metros”.
Das 302 estações
hidrológicas espalhadas pela Amazônia,
apenas seis estão sendo consideradas
nessa previsão, as de Manaus, Barcelos,
Canutama (base de Itapeuá), Beruri
e Manacapuru, todas no Amazonas. “Nossa intenção
é futuramente disponibilizar esse serviço
também para os municípios do
interior”, disse Andrade Pinto.
A média da altura
mínima do rio Negro em Manaus, nesses
104 anos de acompanhamento, foi de 17,59 metros.
Mas Andrade Pinto esclareceu que ela não
serve como parâmetro de alerta para
os serviços de defesa civil. “Ainda
estamos trabalhando na definição
de uma cota de emergência, o que deve
estar pronto no próximo ano”, justificou.
“É preciso definir os critérios
de alerta, como interferência na navegação
e prejuízos aos ribeirinhos, por exemplo”.
O chefe da Divisão
de Meteorologia do Sipam, Ricardo Da la Rosa,
desfez o temor de que o fenômeno do
El Nino (superaquecimento das águas
do oceano Pacífico) interfira na vazante
dos rios da Amazônia. “Os efeitos do
El Nino devem começar a ser sentidos
aqui entre o final de novembro e o início
de dezembro. Vai chover um pouco menos, principalmente
na parte leste da região, no Pará”,
detalhou. “Esse impacto acontecerá
durante a estação chuvosa, então
sua influência sobre o volume dos rios
será menor”.
O meteorologista esclareceu
que em junho, julho e agosto as chuvas na
Amazônia estiveram dentro do esperado.
“Não houve anomalias gritantes. Apenas
no noroeste do Amazonas (região conhecida
como Cabeça do Cachorro) a precipitação
esteve ligeiramente abaixo do normal, e em
Roraima, ligeiramente acima”, informou.
Confirmada a previsão
da CPRM, esta será a 13ª seca
mais severa dos últimos 104 anos –
a do ano passado, que deixou dezenas de municípios
em estado de calamidade e centenas de ribeirinhos
isolados, foi a sétima.