20/10/2006
- Os médicos e enfermeiros que atuam
no noroeste amazônico podem, pela primeira
vez, submeter a população indígena
a exames complexos e diagnósticos imediatos
de várias doenças que antes
só podiam ser identificadas em centros
urbanos distantes das aldeias. As gestantes
têm sido as maiores beneficiadas pelo
novo aparelho.
Uma boa notícia –
para variar – sobre o atendimento da saúde
indígena no Brasil vem de uma das regiões
onde os problemas nessa seara estão
longe de acabar. Graças a um convênio
entre a Casa Civil, por meio do projeto Sistema
de Proteção da Amazônia
(Sipam) e a Fundação Nacional
de Saúde (Funasa), o Distrito Sanitário
Especial Indígena do Rio Negro (Dsei-RN)
adquiriu um moderno aparelho de ultrassonografia
portátil. Com ele, os médicos
e enfermeiros que atuam nesta região
do noroeste amazônico podem, pela primeira
vez, submeter a população das
aldeias a exames complexos e diagnósticos
imediatos de doenças renais, miomas,
alterações na tireóide,
cirroses avançadas ou mesmo cânceres
em fase de metástase.
O projeto tem o objetivo
de levar para comunidades indígenas
ou isoladas aparelhos que possibilitem a realização
de exames clínicos com certa complexidade
que somente podem ser realizados em centros
de referência localizados em grandes
cidades. Outros tipos de aparelhos, como o
eletrocardiograma, também foram doados
por meio do convênio. Além da
realização local de exames feitos,
o projeto também prevê que os
aparelhos possam enviar, via satélite,
imagens dos exames armazenadas em um software
para centros de referência em todo país.
Assim, é possível promover a
discussão com profissionais dos ramos
da medicina relacionados aos diagnósticos,
possibilitando a formação de
um segunda opinião médica mesmo
sem a presença “in loco” de especialistas.
O ultrassom vem sendo utilizado
há cerca de dois meses nas áreas
indígenas do Rio Negro. Para o médico
Oscar Soares, médico do Dsei-RN e responsável
pela manipulação do aparelho,
as gestantes têm sido o principal público
beneficiado. “Já realizamos cerca de
150 exames em área indígena
a maior demanda é de mulheres gestantes.
Estamos tentando fazer pelo menos um pré-natal
de ultrassom em cada gestante no Rio Negro”,
diz. Para atingir essa meta Oscar afirma que
os principais obstáculos são
a extensa região a ser coberta, a existência
de um único aparelho e o fato dele
ser o único habilitado para manipulá-lo.
Além das gestantes, o médico
informa que existem outros tipos de doenças
diagnosticadas em menor número como
as patologias hepáticas e renais. “Quando
podemos ver a imagem da patologia, a precisão
do diagnostico é imediata e isso permite
que o tratamento seja agilizado”.
Oscar ressalva que a eficácia
do aparelho em áreas indígenas
deve ser avaliada após pelo menos seis
meses de uso, mas diz que já é
possível aferir mudanças positivas
relacionadas à sua utilização,
como a diminuição do número
de pacientes enviados ao centro de referência
local para fazer tratamento clínico.
O médico conta que antes da chegada
do aparelho ao Alto Rio Negro, os pacientes
tinham que se deslocar até São
Gabriel da Cachoeira, principal centro urbano
da região, e mesmo até a capital
Manaus, para realizar um simples exame de
ultrassonografia. “A situação
causava transtornos econômicos para
as famílias que tinham que acompanhar
os pacientes, além de outros problemas,
pois a média de espera para a realização
desses exames é de mês e meio,
e a ausência prolongada das pessoas
desequilibra as redes familiares de trabalho”,
relata o médico. Com o novo aparelho,
diz ele, somente pacientes com doenças
mais complexas é que precisam ir para
a cidade.
A resistência dos
índios diante de um novo exame também
tem sido superada por um trabalho de informação
na língua local executado pelos funcionários
do Dsei-RN em parceria com as lideranças
das comunidades, que explicam a função
do aparelho e como é sua aplicação.
Apesar das melhoras, os responsáveis
pelo atendimento médico no Rio Negro
estão preocupados com alta umidade
da região – temem que ela danifique
o aparelho -, e o custo da manutenção
do mesmo, que é extremamente alto.
Além do Dsei Rio Negro, apenas o Dsei
Yanomami, em Roraima, foi contemplado pelo
convênio e recebeu um aparelho de ultrassom
semelhante que custa, em média, 50
mil dólares.
ISA, Andreza Andrade.