19
de Outubro de 2006 - Thaís Brianezi
- Repórter da Agência Brasil
- Manaus - As populações da
Amazônia não são fiscais
naturais da floresta e os projetos ambientalistas
dificilmente trazem melhorias imediatas de
renda para elas. Essas duas constatações,
que arranham o marketing do desenvolvimento
sustentável, foram o ponto de partida
do 1º Workshop Internacional sobre Acordos
de Pesca.
Hoje (19), após quatro
dias de palestras e debates em Manaus, os
participantes estão encerrando o seminário
em uma visita ao Projeto Pyra (experiência
de manejo de lagos e educação
ambiental no interior do estado do Amazonas,
em Manacapuru).
O principal obstáculo
para promover a pesca sustentável nos
grandes rios da Amazônia é sua
viabilidade econômica. Embora os lagos
submetidos a acordos de pesca com fiscalização
comunitária sejam 60% mais produtivos
que aqueles sem medidas de manejo, os ribeirinhos
ainda encontram dificuldades para vender seus
produtos a um preço justo.
Um bom exemplo das contradições
que a pesca sustentável enfrenta é
o manejo do pirarucu, peixe cuja pesca é
proibida no Amazonas. Sua carne só
pode ser comercializada se for proveniente
de áreas de manejo autorizadas pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
No município de Fonte
Boa (AM), pelo segundo ano consecutivo, o
dono das terras onde se encontra o Lago Buiuçu
está tentando cobrar dos pescadores
um percentual do peixe retirado de lá.
Apesar de a cobrança ser ilegal – no
ano passado ela foi invalidada pela Justiça,
graças a uma ação movida
pela Advocacia Geral da União –, neste
ano as lideranças comunitárias
voltaram a assinar um acordo com o empresário.
Sem o apoio dele, os pescadores dificilmente
conseguirão retirar o pirarucu do lago
e transportá-lo até o frigorífico.
A parceria com organizações
não-governamentais (ONGs) pode ser
uma estratégia dos pescadores familiares
para vencerem as barreiras de falta de infra-estrutura
e financiamento. No seminário foi lançada
a cartilha “Sistemas de Manejo Comunitário
para a Várzea Amazônica: Lições
que Estamos Aprendendo”, pela WWF-Brasil e
pelo Instituto de Proteção da
Amazônia (Ipam).
A assessora da WWF Ana Cíntia
Guazzelli explicou que as duas entidades executam
há 12 anos o Projeto Várzea
em Santarém (PA), em parceria com associações
locais. Esse programa desenvolve ações
na área de técnicas de manejo,
estudo de ecologia das espécies, cadeias
de mercado e educação ambiental.
As dicas da cartilha são
principalmente sobre como obter sucesso na
gestão conjunta de projetos entre ONGs
e grupos comunitários. Entre as sugestões,
estão: formalizar as parcerias, equilibrar
as contrapartidas e promover visitas e intercâmbios
entre diferentes projetos.